O ÚLTIMO SOLDADO - 4 de 10
A nebina fria se estendeu pela mata, disfarçando as árvores e tudo que havia pela frente. Um silêncio absurdo se fez. James sentiu que agora estava sozinho. Virava-se para os quatros lados, com a arma na mão... Nada atrás, nada à direita, nem à esquerda, nada em sua frente. Ele continuou caminhando só, mas sempre atento a tudo. Viu que de seu braço escorria muito sangue e consciente do perigo, pois o silêncio era o maior sinal de perigo numa guerra, ele rapidamente rasgou um pedaço da manga do uniforme e amarrou no ferimento para estancar o sangue. E prosseguiu. Percebeu que alguém se aproximava por trás e virou-se depressa com a arma apontada, mas, era somente o soldado Dalton.
- Você está bem?
Perguntou o soldado, vendo o uniforme de James sujo de sangue e seu braço ferido.
- Estou... Foi só um tiro de raspão.
- Acredito que estejamos perdidos dos outros. Os inimigos estão por toda parte, devem ter um plano em mãos.
Os dois foram seguindo pela trilha que cada vez mais se fechava e emitia perigo. Os sons da natureza eram os únicos barulhos que ouviam, tudo parecia uma ameaça...
- Você ouviu isso?
Perguntou Dalton, sessando seus passos.
- O quê?
Pássaros voaram das árvores e um tiro ouviram. James falou:
- Por ali! Vamos!
Eles correram até mais à frente, de onde ouviram o tiro e encontraram o comandante e mais um soldado.
- Se abaixem!
Gritou o comandante e tiros surgiram do lado direito e acabou atingindo Dalton nas costas.
- Ai! Droga! Vão! Eu vou ficar bem...
Disse Dalton, sobre o chão, e James o ergueu e apoiou-o em seu ombro, arrastando-o para um lugar seguro.
- Ah, caramba! Me deixe aqui, James! Você está querendo ser morto!
- Não podemos enfrentá-los, estamos sem munição!
James estava certo, as armas haviam descarregado e era perigoso eles continuarem por ali e voltar para o campo de reforços seria também uma má ideia. Então o comandante decidiu que eles se esconderiam no alto da mata, até conseguirem reforços.
Distante daquele cenário de terror, estava Aura trancada em sua casa. Ela nem lembrava mais da última vez que havia saido e nem da cor das flores que brotavam nas árvores lá fora. Seus olhos só insistiam em apreciar a xícara de chocolate quente sobre a mesa. Alguém bate na porta e Aura vai antender, mas ela sente que seu espírito ainda está sentado à mesa.
- Você outra vez, Luan?
- Minha nossa... Minha visita te é tão desagradável assim?
Ele revelou de suas costas um lindo buquê de rosas vermelhas e estendeu para Aura. Ela ficou surpresa e franziu a testa. Perguntou:
- O que é isto?
- Por favor, aceite.
Aura pegou o buquê das mãos de Luan e tocou nas flores, sentiu o aroma perfumado saltar em seu rosto. Luan então disse:
- Imagino que já faça um bom tempo que você não sai, então quero te convidar para um jantar esta noite.
- Um jantar? Ah não, Luan...
- Aura, somente um jantar. Vai ser bom.
Aura avaliou mais uma vez o buquê e respirou fundo, observando a paisagem de fora pela porta entre-aberta.
- Está bem... Eu estava meio em dúvida do que cozinhar esta noite.
Luan sorriu e falou:
- Posso te pegar aqui à que horas?
Aura olhou para cima e pensou... Então respondeu:
- Pode ser às oito.
- Tudo bem. Então, até às oito...
Luan beijou Aura na bochecha e se despediu. Aura fechou a porta e em seguida olhou pela janela e viu Luan dá pulos de alegrias lá fora. Ela fechou a janela e foi para a cozinha, colocou as rosas num vaso com àgua, sobre a mesa e ajeitou as flores para que elas pudessem ficar numa boa posição.
Lá fora, uma chuva fina caía, mas o sol ainda estava estampado no céu, o que resultava num lindo arco-íris. Sofia estava indo em direção à casa de Aura e viu Luan passar de carro e buzinar para ela.
- Olá!
Ela gritou, acenando para Luan e segurando pela outra mão a filha de cinco anos, Sara. Quando Sofia chegou na casa de sua irmã bateu na porta e Aura veio abrir.
- Sofia! Sara! Entrem!
Aura pegou Sara nos braços e encheu-lhe de beijos. Sofia foi logo largando a bolsa no centro da sala e se jogando no sofá. Ela disse:
- Ufa! Hoje foi um dia daque...
Sofia, ao olhar rapidamente para a cozinha avistou o buquê sobre a mesa e caminhando até lá, disse:
- Uau! Quem mandou?
Aura desceu Sara até o chão e respondeu:
- Foi... Fui eu que comprei.
- Aqui diz: de Luan para Aura.
- Onde?
Sofia mostrou um cartãozinho que tirara de dentro das rosas à Aura.
- Aqui ô...
- Eu nem tinha visto isso aí...
- Então ele veio aqui? E ainda te deu essas flores?
Perguntou Sofia, com um sorriso sarcástico.
- Sim, e me convidou para um jantar esta noite.
- Ele... Te convidou para um jantar?
- Sim...
- Uau!
- O que foi?
- Aura, finalmente você vai sair desse buraco! Estou muito feliz por você!
Sofia abraçou fortemente a irmã e quase a deixou sem fôlego.
- Calma, Sofia! É só um jantar!
Sofia soltou Aura e segurou suas mãos, dizendo:
- Mas será muito bom para te animar! Ah, precisamos comprar um belo vestido!
- Mas, eu já tenho um bocado de vestidos...
- Pelo amor de Deus, Aura! Aqueles seus vestidos são muito antigos! Da época em que você e James...
Sofia percebeu como Aura ficava sentida só ao ouvir aquele nome e preferiu se calar.
Continua...