BREVE NAMORO E DURADOURA PAIXÃO.

      Aclibes Burgarelli

 
Pensamento. Há situações, criadas em razão das vontades relacionados ao corpo humano, físico, que bloqueiam a necessidade fundamental de elevação do espírito. O ser humano, em regra, aceita a prisão temporária do corpo, com muito sofrimento, e rejeita a liberdade plena do espírito envolto em alegria.


Em meados do mês de abril daquele ano de 1926, às vésperas da primeira Constituição libanesa de maio de 1926, Adib Houss, cristão maronita libanês, abriu à lembrança a imagem de Laura Vitul. Moça cativante, de inteligência rara e decidida quanto ao que desejava.

Com ela Adib frequentou o curso religioso dos maronitas e chegou a propor um relacionamento de compromisso que não aconteceu porque, ambos, já estavam compromissados e o costume não autorizava sequer pensar em transgressão. Mas Laura permanecera no íntimo de Adib, como a grande mestra da vida. Terminado o curso se separaram e não mais se encontraram na trajetória da vida.

Em um dia cinzento, muito tempo depois, a imagem de Laura veio à mente de Adib, porque ela desencarnara muito jovem e o fato acarretou profunda tristeza nele. Apesar de não tê-la reencontrado, direcionamentos da espiritualidade revelaram-no o desencarne e então sentiu profunda tristeza. Por essa razão, naquele mês de abril mês do aniversário de Laura, lembrou-se dela. Lembrou-se do fato que impediu tê-la como esposa, isto é o compromisso com outra moça com quem veio a se casar; casamento que nunca apagou a imagem e o perfume da doce Laura, conforme se narra adiante.

Adib, na origem, era filho de libaneses que professavam a religião cristã maronita; viveu alguns anos sob o regime Monte Líbano e, ao depois da independência política do mesmo regime.

Herdou de seus antepassados o inflexível costume de que as posses pessoais mais afortunadas são a honra e o nome; sem essas qualidades, segundo o costume,  não há dignidade da pessoa humana. Violar o costume significa comprometer a família e Adib adotava esse princípio com todo o rigor.

Ao se lembrar de Laura, seu segundo amor, foi conduzido à lembrança de outra pessoa, aquela que foi seu primeiro, único e grande amor e do qual não esquecera jamais, conquanto fora abalado pela companhia de Laura.

O primeiro e lancinante amor, que transformou o jovem puro em pré-adulto, foi a bela, cativante e envolvente Mailun. Jovem egípcia, alegre, sorridente com irradiação de esperança e olhos amendoados de cor negra que se tornavam parceiros dos lábios grossos e muito bem contornados. Convite para beijos apaixonados.

Quando Adib contava com 13 anos de idade, tinha o hábito de visitar sua tia em uma aldeia aconchegante. No caminho que levava à casa da tia havia uma casa de esquina, na Ladeira do Lírio, com uma pequena varanda. Nessa parte da casa, certa feita, viu duas meninas, aproximadamente com 9 e 10 anos, brincando alegremente.

Por obra do acaso, fitou os olhos em uma delas e sentiu intensa atração, embora soubesse ser impossível dirigir a palavra à bela menina. Esse fato marcou Adib; sempre que visitava a tia lembrava da fisionomia da atraente menina; porém raras vezes a reencontrou. Essa pessoa,  ainda criança, depois se transformou na formosa Mailun.

O tempo passou, ambos se tornaram jovens e, por arranjo do destino, aceitaram-se como namorados. Foi tão intensa a atração e o romance que estava disposto a quebrar a tradição de seu povo, porquanto se considerava pronto para o que lhe fosse pedido por Mailun, com quem esperava viver para todo o sempre até que a morte os separasse.

Se o casamento tivesse que provocar rompimento dos costumes libaneses, mediante opção aos costumes egípcios, assim o seria e assim aceitaria Adib, visto que, para ele, acima de tudo estava Mailun.

A moça, ao que tudo indicava, correspondia, à sua maneira, com os anseios do namorado. O namoro não fugira ao costume egípcio: passeios, frequência na casa da moça, gestos cordiais com os familiares para angariar simpatia e aprovação e assim por diante.

Os pais de Mailun não agiam com rigor excessivo quanto aos desejos da filha, mas também não descuidavam do patrulhamento de ambos os apaixonados. A vigilância era permanente e, se o casamento dos noivos acontecesse, estes suportariam grande soma em dinheiro.


Vez ou outra Mailun expunha sua opinião a respeito do relacionamento então vigorante e dos elos que a prendiam à família e, nesses momentos, sentia certa insegurança; contudo os repentes de insegurança eram superados entre atos de carinho e beijos.

Adib, mesmo disposto a não levar a tradição libanesa com todo o rigor que lhe é própria, escondia pontos de ciúme e temor quanto a perder o vínculo de preferência com a namorada. Aqui a tradição de seu povo falava mais alto e vinha-lhe à mente a lição recebida, qual seja um nome a zelar; e nome para Adib era o fundamental patrimônio, isto é todo o lastro moral do ser humano.

Já em relação a Mailun, prevaleceu a tradição e costumes dos pais, porém de maneira bastante flexível. Segundo a tradição o ideal seria escolher um membro da família, um primo distante e já existia pretendente para tanto de nome Amon o qual não sofria rejeição alguma por parte de Mailun. Entretanto, Adib foi aceito. Durante o tempo de relacionamento amoroso, nada soube a respeito desse pretendente.

Quando adolescentes Mailun e Amon nutriam alegria em brincarem juntos e se sentiam felizes um ao lado do outro. Não havia, naquela fase, o despertar do amor, mas a alegria da companhia. O tempo passou, ambos se tornaram jovens e surgiu na vida da moça a figura alegre, simpática e promissora de Adib. Amon, de sua parte, mudou-se para uma aldeia vizinha.

Durante algum tempo ambos, Adib e Mailun, foram felizes, mas, a interferência velada da mãe, apoiada pela indiferença do pai, aos poucos aproximou Amon do íntimo convívio da família e, consequentemente, da prima. O primo frequentava a casa dos tios e o fazia com assiduidade e liberdade, ante ao fato de que Adib, que morava bem mais distante, visitar a noiva apenas três vezes por semana. Nos dias de sua ausência, presente estava o primo Amon a cativar, pouco a pouco, com apoio da tia, a dividida Mailun.

Dividida, entre o primo, Adib e a influência da mãe em prol daquele, resolveu aceitar a orientação materna. Ademais, no íntimo, Mailun construiu a desculpa de que mãe é pessoa experiente, sábia e sempre a melhor conselheira da filha; por essa razão natural sabe exatamente o que é bom para ela.

De princípio, a respeito do amor, Mailun permaneceu dividida entre Adib e Amon; era uma forma provisória de aventura; inconsequente, é verdade, porém ou, na pior das hipóteses, a única oportunidade para tomar a decisão correta.

Quem sabe se, durante esse estágio, não se confirmasse quem seria o melhor marido; afinal, Adib ainda não a havia conquistado integralmente; quem sabe não seria melhor optar por um futuro mais seguro, na pessoa do primo em quem sentia objetivos já definidos e de plena confiança da família; quem sabe não seria imprudente arriscar o futuro com Adib. Ponderava intimamente que a escolha era fundamental; depois de casada, não poderia remediar eventual frustração.

Adib, de sua parte, nada desconfiava; seus pensamentos estavam longes; giravam nas promissoras imagens de um Oasis de amor farto e promissor; sonhava com o futuro casamento; nutria firme propósito de convivência feliz, da qual, por certo, surgiriam filhos maravilhosos.

Apenas uma preocupação cutucava seu ser: o padrão de comportamento de Mailun quanto à certeza de que desejava liberdade extrema que, para Adib, não vestia bem a conduta de uma esposa. Essa questão, para o jovem, estava fora de cogitação, a não ser que essa liberdade objeto de consentimento dele e, ainda assim, fosse gozada em sua companhia. Nesse impasse prevalecia aquela ponta de ciúme mencionada e que atrapalhava um pouco o relacionamento. É evidente que foi nesse impasse que Mailun se apegou para encontrar justificativa de sua decisão em favor do primo.

Foi exatamente nessa dúvida que Mailun se agarrou para a opção que tomara. Não que desejasse ser livre plenamente já que essa liberdade contrariava toda a educação recebida e a tradição de seus antepassados. Mas era a única ferramenta de que dispunha, no momento em que já pendia para a pessoa do primo oportunista, do que para o lado de Adib.

O relacionamento entre a jovem Adib perdeu o calor intenso; as águas do riacho não mais corriam no leito amoroso; a cada dia minguavam e as pedras do fundo do riacho apareciam pontiagudas. Sequer a possibilidade de amizade estava em pauta.

Adib, tomado pela realidade, percebeu algo de estranho no namoro; já era tarde demais. Mailun optou em se entregar definitivamente ao amor do primo e este, apoiado pela tia e mãe de Mailun, concordou em aguardar o dia do rompimento do namoro que lhe atrapalhara o relacionamento. Aceitou ficar no aguardo sem esconder algo de orgulho, de vitória e de vencedor. Mailun seria sua esposa para todo o sempre; quanto a Adib, afinal se cuidava de estranho na família e ele que procurasse outra pessoa e estava resolvida a questão.

Adib trabalhava tranquilamente no escritório de sua empresa quando recebeu ligação telefônica de Mailun, fato raro, convidando-o a ter uma conversa importante e, de preferência em casa, naquele mesmo dia, ainda que não fosse dia de namoro. Adib, sem desconfiar e supondo que algo relacionado com o casamento poderia surpreendê-lo no aspecto feliz sem perder tempo deixou seus afazeres e rumou, às pressas, para a casa da amada.
Aquele foi um dos dias mais felizes do moço e os minutos que antecederam a visita foram de plena alegria; brincava com os movimentos dos ponteiros adiantando-os para que o tempo passasse mais rápido; o sorriso fluía como o de uma criança que recebe um presente desejado.
No horário por ele prometido lá estava ele no portão da casa de Mailun. Sentia tanto carinho por aquela casa, por aquele lugar; para ele era a reprodução de um castelo. Por ela foi recebido com educação e, em vez de convidá-lo a entrar, solicitou que a acompanhasse porque estava ela a caminho da cidade em que residia Adib, mas para tratar de um assunto particular.

Adib nunca soube qual era o assunto, tampouco o que a levara a viajar, mas se sentia bem ao lado da amada e, naquele momento, aumentara seu interesse pelo mistério.

A viagem ferroviária não demorou muito, mas o suficiente para, acomodados em uma poltrona do vagão do trem, com alguns passageiros por causa do horário, iniciaram, ou melhor, Mailun iniciou o diálogo, de maneira direta, objetiva e sem rodeios. Resoluta e autoritária ditou a impossibilidade de continuar o namoro. Teceu considerações forçadas, porque se valeu de pequenas coisas para criar uma montanha de desculpas.
Dentre as justificativas mencionou sua preocupação com o futuro e ponderou que não sentia segurança nos projetos apresentados por Adib, quanto à constituição de família. Pintou um perfil humilhante do pobre moço e contrapunha o sentimento, supostamente bondoso, dizendo que gostava muito dele mas não o queria como marido, pois temia o futuro.

É evidente que o resultado do assédio do primo, as investidas da mãe e a neutralidade do pai surtiram efeito em favor do primo; em assim sendo, qualquer desculpa, qualquer argumento, tudo era válido para descartar Adib. De fato, naquele momento, não se percebia um mínimo de consideração pelo moço; o que dizer do amor?

Adib ficou pasmo e sentiu o peso do mundo sobre sua cabeça; não sabia o que fazer para salvar o namoro; Humilhou-se e prometeu mudar ou fazer tudo o que Mailun quisesse; apenas não queria ser abandonado tampouco aborrecê-la. Não percebeu que nada a aborrecia a não ser a presença dele próprio diante da então ex namorada.

A viagem chegou ao fim e na estação ferroviária de destino da viagem, onde ambos tomariam rumos diferentes, com lágrimas nos olhos Adib aceitou a realidade e, com último aperto de mão, despediu-se de Mailun de quem não sentiu qualquer calor. Sem ter o que dizer Adib teve forças de confessar que Mailun fora seu primeiro, único e eterno amor. Tê-la ia no coração para sempre. Com descaso ouviu a seguinte resposta: - Não seja bobo. – Deixa isso pra lá!

Mailun partiu na direção oposta à de Adib. Ele caminhou um pouco, mas a dor profunda do amor perdido fê-lo parar e se voltar, talvez na tentativa derradeira de arrependimento por parte de Mailun. Parou, porém tão somente para confirmar que ela não o queria mais; Seguia ela resoluta até que ao dobrar uma rua sua imagem se perderia para todo o sempre.

O moço tentou se animar, mas foi em vão; seguiu seu caminho, em sentido oposto, com vontade de que fosse o derradeiro caminhar; preferiu morrer do que perder Mailun, mas o que fazer se as coisas não aconteceram de acordo com a vontade dele?

Sem ter como resolver o impasse, Adib afastou-se e fez juramento de que jamais outra mulher ocuparia seu coração sob o manto do amor, porque esse sentimento se não correspondido era o mais terrível carrasco. Não pretendeu declarar guerra contra as mulheres, entretanto por nenhuma seria despertado novamente. Se, depois de tudo o que sentiu por Mailun, outra mulher lhe propusesse atenção com expectativa de amor, por certo, por parte de Adib, o mais que poderia fazer é fingir amor com o corpo mas não com a alma.

A partir de então, com o coração dilacerado, viveu com os pedaços que sobraram. Não era mais aquele moço romântico. O trauma foi profundo e despertou uma espécie de busca incessante autoafirmação profissional, a qualquer custo. Decidiu em se transformar em pessoa importante, superior e, quanto a romances, a mais fria possível.
Sírios e libaneses começaram a imigrar para o Brasil em fins do século XIX, porque suas regiões de origem esbarraram nas dificuldades econômicas. A família de Adib escolheu a cidade de São Paulo como destino imigratório, fato que, para Adib, era excelente uma vez que estaria longe dos fluidos da terra em que vivera e onde enterrara seu coração. Afinal poderia dar início à sua nova trajetória de vida. Não apagaria da mente o amor por Mailun, porém somente a mente a teria reservadamente e sem que dali saísse para o mundo exterior do corpo humano.

A família Houss, da qual Adib era um dos integrantes, instalou-se na região da Rua 25 de Março, número 53, na região do conhecido mercado municipal. Os familiares instalaram-se com um pequeno comércio de tecidos e confecções.

Mailun e Amon constituíram, em outras plagas, contraíram núpcias, fixaram residência na casa dos pais dela mesma e geraram duas filhas. A casa estava mudada; imensa, de estilo islâmico-árabe com grande porta de entrada, toda pintada de cor branca com acesso a um grande pátio; Em um dos lados, as dependências das mulheres e, de outro, as dos homens. Assim era o costume no Egito.

Mailun sentia realizada e convencida de que fizera a escolha acertada, por isso sentia-se vencedora, dona da verdade e poderosa quanto ao se agarrar no que é certo. O orgulho lhe ocupou o espírito e tudo o que se relacionava a ela era o melhor: marido, filhas, casa, lugar, enfim riscara do seu caminho a presença de Adib, em relação a quem passou a nutrir sentimento de absoluto desprezo.

Dezessete anos passaram, após o rompimento do namoro, Adib, ao seu modo conheceu uma moça muito simples, sem muitas aspirações mas que insistia e permanecer ao lado do jovem que, então, estava desimpedido. Era moça muito nova, sem malícias ou arroubos e foi aceita por Adib. Contraíram núpcias e, definitivamente, Thais entrou na vida de Adib, ora para com ele ser solidária, ora para fazê-lo sofrer. Os momentos de sofrimento se deram por causa do juramento e do sentimento de Adib quando do trauma que sofreu e das sequelas que ficaram.

Para martelar o coração de Adib, foi o casal residir em um imóvel dos pais dele na Rua Mauá, bem próximo da Estação da Luz, cujos contornos e barulho das locomotivas martelavam a lembrança da fatídica despedida de Mailun, em outras plagas.

A casa era confortável casa, arquitetada nas linhas árabe/oriental; vistosos vitrais, torres pontiagudas e porta de entrada de serralheria artística com suntuosidade nos degraus de mármore de Itu.
O próspero comerciante não se contentava com a boa posição social e econômica; desejava mais. No íntimo, de maneira subconsciente, gravitavam sensações de revide e de desprezo em à mulher que desprezara seu amor no exato momento em que acreditou estar ela apaixonada.

O sentimento adverso, de vingança, contudo, esvaia-se diante da força do amor que ainda perdurava no coração do rejeitado. Amava-a muito mais mesmo separado; se, por qualquer razão, ela retornasse Adib abandonaria tudo, até sua mulher com quem viera a casar. A intensidade era tamanha que criou a imagem do ex romance para nunca mais perecer. Assim o fez porque sabia que jamais teria de volta os olhos e os lábios da deusa; mas tinha todo o direito de viver de ilusão, riqueza que ninguém poderia dele roubar, nem mesmo Thais.

Decidiu fazer um curso de administração de negócios e aprimorar-se no idioma francês e no inglês, sem prejuízo do idioma árabe que conhecia e falava muito bem.

O momento era oportuno porque, no fluir da segunda grande guerra mundial mais as mudanças econômicas e políticas da época, em especial nas regiões que conhecia bem, Líbano e Egito, o tino comercial de Adib sinalizava para um futuro promissor.

Conseguiu a conclusão do curso universitário, na área de economia, finanças e relações internacionais e as oportunidades imediatamente se abriram, dentre as quais um importante cargo público, no setor do comércio exterior, que lhe proporcionou a indicação de Adido Comercial no Egito.

Por acerto familiar, viajaria para o Egito, já livre da pressão do nazismo e se instalaria no Cairo, cidade onde morava Mailun e sua família. Dela Adib não tinha notícias e sequer sabia que naquela cidade, na casa da tia de Amon, a família da ex namorada residia.

A atividade assumida se desenvolvia naturalmente e o sucesso abria portas alvissareiras para o dedicado executivo, até que, por encontro de linhas da vida, deu-se a reaproximação de ambos ex-namorados.

Encontrava-se ele na ampla sala do suntuoso edifício de linhas arquitetônicas tradicionais, com janelas amplas, fechadas de vidros coloridos, mas que permitiam a visualização daquelas torres góticas de 100 a 150 metros de altura; das abóbadas e cúpulas suntuosas e dos alto-falantes que serviam para a chamada dos fiéis num determinado momento do dia para a reza que acontecia nas ruas, com paralisação de qualquer atividade, especialmente o comércio.

O telefone tocou, Adib o atendeu e, do outro lado a voz feminina inconfundível para ele; era Mailun. Surpreso e emocionado, respondeu com gentileza, porém com muito esforço conseguiu esconder a volta feliz ao passado e o sentimento de felicidade. Mailun pode perceber a reação do ex-namorado, porque, ferido pelo tempo, trazia consigo a dor de ferida que não fechara no seu íntimo. Sentiu esperança, sem saber a respeito de que, mas esperança, alegria e reabertura da flor do amor.

Após identificação e, fingindo surpresa pela ligação telefônica, ouviu a explicação no sentido de que Mailun folheava um jornal e, por acaso, viu uma entrevista do ex-namorado a respeito de projetos comerciais que envolviam o Egito e o Brasil. Que o acaso teria despertado a lembrança do moço, por esse motivo sentira desejo de revê-lo para conversar.

Com temor de reabrir feridas, mas esperançoso, Adib procurou conter o entusiasmo e de maneira propositalmente um pouco fria colocou-se à disposição para conversar. Exagerou, em autodefesa, ao dizer que era muito ocupado, mas que poderia recebê-la se, se não houvesse proibição do marido. Mailun sorriu e deixou escapar uma ponta de sua liberdade ao dizer que ela decidia o que desejava. Então ficou acertado que Adib aguardaria oportuna visita no seu escritório.

Que imensa alegria e felicidade Adib sentiu com aquele contato. Não cabia em si e num gesto de mágica apagou todo o período de separação desde o rompimento do namoro até aquele dia. Sentiu-se novamente ao lado de Mailun. Nada mais lhe importava: família, filhos, pais, lar, enfim tudo podia ser colocado de lado. Importante era Mailun.

No segundo dia do contato lá estava Mailun no escritório de Adib com a forte presença e sinais de pouca mudança quanto ao sorriso, à maneira de se trajar e o inesquecível olhar com traços egípcios em contraste com os carnudos lábios levemente pintados.

Conversaram muito, porém Adib, um pouco temeroso, resistia e assim se manteve até que não conseguiu se conter e convidou Mailun para um chá, em local próximo, no que foi prontamente atendido. Todo o passado voltou à mente e o fez de forma tão intensa que o pobre moço não tinha noção do perigo que corria.

Não importava a ele se o desejo de Mailun era ou não uma aventura; desejou, sim, o contato íntimo com aquele corpo cujo calor não tivera oportunidade de sentir, por profundo respeito, nos idos do namoro.

Adib conseguiu um apartamento pequeno, aconchegante bem decorado e, a partir de então, entregou-se de corpo e alma à moça. Esta, por seu turno, ao constatar que o ex-namorado não era a frágil pessoa que ela supunha e sim homem de firme personalidade e vencedor, mormente nas finanças, também se entregou a ele.

Brotou em ambos um desejo tão louco, tão íntimo como nunca ocorrera no passado em que tudo não ia além de beijos.

Amaram-se perdidamente como nunca. Adib estava realizado e nada mais lhe era importante. O convívio secreto perdurou por quase dois anos, de modo que ele teve condições de conhecer a intimidade da moça e ela teve oportunidade de conhecer a intimidade do rapaz. Mas os tempos estavam mudados: Adib a amava, mas não alimentava mais, no seu espírito, o ciúme de namorado apaixonado que se sente rejeitado por causa de outro pretendente de sua amada. Afinal ela era casada e entregara-se a outro; ela, por seu turno, passou a ter ciúme do rapaz e de seu sucesso pessoal.

Amon, seu marido, não progrediu na vida e a administração da família ficou a cargo de Mailun. Apesar de não ter se expandido como pessoa, Amon distribuía grosserias e se comportava como um troglodita com a mulher que arrebatara de Adib.

No momento em que Mailun comparou a realidade e percebeu sua má escolha, ao buscar a situação anterior, esqueceu de que muita coisa havia acontecido durante o tempo de separação dos ex namorados. O reencontro, apesar de feliz, não lhe dava o direito de sentir ciúme da família de Adib ou de exigir posições que, a rigor e por causa da forte personalidade do moço bem sucedido, não seriam tomadas. A realidade, ao menos para Adib, naquele momento, era de manter status de amante.

Adib sentiu os efeitos dos atos de ciúme e reagiu com forte decisão calcada na realidade, na dor que levou consigo durante anos, do amor que devotou sem ser correspondido e da leviandade com que aceitava o reencontro. Esses efeitos, aos poucos, acertavam os pensamentos do então amante e já nascia uma ponta de decisão, voltada a rompimento definitivo; não rompimento material, isto é cada um no seu canto, mas rompimento com a herança que Adib alojou em seu coração. Estava na hora de jogar tudo fora e felicitar o passado pelos bons momentos, mas sem qualquer sofrimento em relação ao que foi.

Um choque abrupto, em um desses momentos de ciúme, atingiu Adib o qual, como em um passe de mágica, retornou à realidade e refletiu racionalmente. Pensou consigo.

– Afinal o que eu pretendo? Pretendo mudar uma realidade, sob o argumento de amor profundo?
- Amo-a, sim, mas, agora, com plena consciência de que nada está além de relacionamento carnal. No meu íntimo sinto que devo seguir minha vida, permanecer na estima de Mailun, porque foi meu grande amor, porém esse grande amor chegou ao fim.

- Enxergo agora, no meu coração, a cicratiz terrível, porém sem atingir as batidas que revelam tudo o que aprendi na vida. Tristes foram os dias, mas, com resignação consegui superar e elevar meu espírito.

Com essa maneira de pensar, nova, engendrou uma providência racional, que não trouxesse mágoas, traumas ou decepção à moça a respeito da qual, então, nutria profundo respeito, já que não havia ódio algum a reinar. Essa providência já estava traçada e não cabia contestação, porque era uma realidade, ou seja seu retorno ao Brasil.

Conversou muito com sua amante, mostrou o quanto fora feliz durante esse período de tempo, mas o dever impunha seu retorno. Aproveitou e disse a ela que a situação havia mudado; fosse ele o mesmo moço de antigamente, sem muita cultura e com profissão modesta, talvez insistisse para ficar em companhia de Mailun, então mais dotada de cultura; porém, afirmou ele, o tempo o levou ao estudo, à assunção de compromissos e ao progresso profissional; portanto, não podia parar.

A moça entendeu e sem condições ou argumentos para impedir a realização, porque também percebeu sua responsabilidade perante sua família, jurou a Adib que o amaria para o resto da vida e aceitaria a condição de ele permanecer em companhia dos seus. Ela, de sua parte, com muito sacrifício e sem amor ao marido, permaneceria fiel a ele e às duas filhas, aceitando o fato como castigo.

Confessou, por derradeiro que foi egoísta, que agiu com desprezo em relação a Adib e, por ter agido no furor de sua vontade estritamente material, não poderia naquele momento alterar as consequências por ela ocasionadas voluntariamente.

Num longo beijo e lágrimas nos olhos, despediram-se e Adib retornou ao Brasil. Interessante que deixou a carga que carregava há quase vinte anos, em seu coração. Sentiu-se aliviado e concluiu que se tivesse contraído matrimônio com Mailun não teria dado certo e, provavelmente, estariam separados. Melhor foi, portanto, a experiência desses dois anos.

Outras décadas passaram e ambos tornaram-se idosos; à distancia mantiveram bom relacionamento para diálogos, porém sem qualquer compromisso porém sem prejuízos de se avivarem lembranças felizes. Apenas palavras de conforto, mais da parte de Adib para Mailun que, na derrocada de sua trajetória, suportando as enfermidades dos anos, assumiu seu desatino. Segundo ela restaria apenas a esperança da vida após à morte quando então, se permitido for, reencontrará seu amor em outra dimensão, sem as expiações do passado e as provas do futuro. Não amor carnal, mas amora espiritual, ditado pela afinidade, o verdadeiro amor.

Certo é que Amon não conseguiu dar a Mailun o amor verdadeiro que somente Adib poderia fazê-lo, porém tinha pleno conhecimento dessa circunstância porque, mesmo querendo, Mailun não conseguiu esconder o ímpeto. A vida de ambos foi um tormento, sem solução e, embora casados, viveram separados de espírito na mesma casa.

Certo é que Thais, mulher de Adib também sabia do grande amor, porque tentou demover do coração dele o grande amor que sentia e pretendeu receber esse amor. O casamento de ambos também esbarrou nos tormentosos desencontros espirituais, mas perdurou porque há razão que a própria razão desconhece.

E assim termina a narração de um grande amor material que, por seguir caminhos misericordiosos de Deus, doloridos, permaneceu íntegro no plano meramente espiritual, onde não há algozes ou vítimas.

As considerações que adiante serão expendidas, por causa do caso verdadeiro que envolveu Adib e Mailun e que nos foi ditado em momento sublime do plano espiritual, tem por escopo registrar explicação que, no mundo puramente humano, nem sempre são compreendidas.

No plano da vida humana, não se pode afirmar, com segurança, que tudo o que envolve as pessoas começa com o nascimento e acaba com a morte. Essa ideia é falsa, porque não explica as diferenças que existem entre as pessoas; diferenças de conhecimento, de saúde, de riqueza, de comportamento e assim por diante.

Ao menos há lógica na fórmula ação e reação, ou melhor causa e efeito. Toda causa produz efeito o qual perdura e não se esvai com a morte. Portanto, não é estranho admitirem-se os seguintes axiomas:

Se o corpo anima-se por ação da alma, a alma não é o corpo, mas deste se vale.

Se a alma é imortal e o corpo se transforma com a falta de alma (morte), o corpo é mortal e limitado.
Se a alma, que anima o corpo, realiza a vida, qualquer corpo humano pode ser objeto dessa realização e, ao longo dos séculos.
Se há causas presentes, no corpo humano, há causas passadas, em outro corpo humano, sem que a alma seja diferente.

Em conclusão, a lei natural da reencarnação é de rigor, para prosseguimento das linhas que vêm adiante, sob pena de tudo o que for dito não alcançar o objetivo pretendido pela espiritualidade.

Se no espírito do leitor pairar restrição a respeito dessas condições, as considerações não servirão de explicação ou de aceitação e o melhor é não prosseguir na leitura.

Nas questões ordenadas por Allan Kardec e transmitidas pelo plano espiritual, em “O Livros dos Espíritos”, obra fundamental da codificação da doutrina, a partir da questão 399, o foco está direcionado ao o fenômeno da reencarnação. A propósito do assunto escreveu-se o seguinte:

“Mergulhado na vida corpórea, perde o Espírito, momentaneamente, a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas vezes vaga consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser reveladas. Esta revelação, porém, só os Espíritos superiores espontaneamente lha fazem, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade”.

“As existências futuras, essas em nenhum caso podem ser reveladas, pela razão de que dependem do modo por que o Espírito se sairá da existência atual e da escolha que ulteriormente faça”.

“O esquecimento das faltas praticadas não constitui obstáculo à melhoria do Espírito, porquanto, se é certo que este não se lembra delas com precisão, não menos certo é que a circunstância de tê-las conhecido na erraticidade e de haver desejado repará-las o guia por intuição e lhe dá a ideia de resistir ao mal, ideia que é a voz da consciência, tendo a secundá-la os Espíritos superiores que o assistem, se atende às boas inspirações que lhe dão”.

“O homem não conhece os atos que praticou em suas existências pretéritas, mas pode sempre saber qual o gênero das faltas de que se tornou culpado e qual o cunho predominante do seu caráter. Bastará então julgar do que foi não pelo que é; sim, pelas suas tendências”.

“As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e, simultaneamente, provas com relação a recompensas do futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos resignados e sem murmurar.”

A doutrina reencarnacionista não dissocia sua linha teórica da linha da teoria dos processos cíclicos da natureza, mormente no que tange à lei universal do progresso. A teoria dos fenômenos espirituais (espiritualidade) não teria o menor sentido, tampouco lógica, sem vínculo a outra, a teoria física (a materialidade).

No que interessa à vida que se instala no corpo humano, há uma condição de possibilidade relacionada à adequação química dos elementos celulares de reprodução, da formação dos tecidos e da estrutura do corpo; é a harmonia orgânica e mental de um corpo humano.

Quanto à vida espiritual, cujos elementos corporais não são densos como os do corpo humano físico, a condição de admissibilidade é a existência de fluído cósmico, propulsor da vida material, sem que pereça no tempo, como acontece com permanência do corpo humano na terra. A vida espiritual no invólucro denominado perispírito, encaixa-se mais na aceitação de uma entidade imortal, por causa da plena vigência da lei universal e cósmica do progresso; lei inexorável, porquanto, no ciclo natural da espiritualidade, não se cogita de estagnação; há que se avançar sempre no aprimoramento em busca da Verdade Divina.

Em assim sendo há que se admitir anterioridade do fluído espiritual, independentemente do fenômeno denominado corpo humano, mas relevante para acoplamento do perispírito equipamento humano (o corpo físico), porque a simbiose é indispensável ao progresso, não somente da espécie humana como tal, mas porque esta, em sendo o invólucro do perispírito, propicia também a este a realização do progresso.

Por via de consequência existem ciclos naturais nas moradas de Deus no cosmos onde se realizam as entidades fluídicas, não densas, para o fim do aperfeiçoamento.

Se dois enfoques podem ser dados, acerca de fenômeno recíproco, corpo/alma, mesmo considerando que cada elemento com suas características próprias ( o corpo-mortal/e a alma imortal) a questão relevante está em se aceitar ou não a maneira pela qual acontece a simbiose, isto é a reencarnação.

Cristo, durante sua vida apostólica viu-se obrigado a falar, a ensinar e a orientar por meio de simbologias ou parábolas, dado o baixo grau de entendimento do povo para o qual se dirigia. O grau de profundidade de suas palavras afastou e afasta até hoje qualquer tentativa de interpretação literal do que foi ensinado. De sua maneira Divina legou, para reflexão, este conselho: peça e receberás, procura e acharás, bata e a porta se abrirá.

Pois bem, quanto à reencarnação, e como se disse há quem não a aceita, mais por falta de compreensão do que convicção, essa pessoa navega no mar da ignorância e da cegueira. Um cego não pode dirigir outro cego para evitar queda no precipício, ambos cairão. Basta atinar para o ensinamento de Cristo, qualquer pessoa de coração limpo, de boa vontade e que tiver olhos de ver, verá na recomendação do Mestre que pedir com devoção é algo Divino.

Qualquer local de prece, onde há reunião de pessoas, é local que propicia momento de pedir, com humildade, sem o que não se poderá exigir dádiva; sem o que não se saberá o que se procura. Local de prece não é festa de convidados, mas acolhida de quem, por seu livre arbítrio e humildade, decide buscar alívio para sua carga, para seu jugo ou mesmo para os momentos que entende ser momentos de sofrimento.

Assim é a reencarnação. Não há convite para comparecimento ao ato que demonstrará a reencanação ou que servirá de discussão a respeito. Há consciência de sofrimento sem explicações e a possibilidade de se pedir, de se procurar respostas e de se encontrar a porta aberta para as explicações.
Os doutrinadores da ciência espírita, apoiados nas comunicações do plano espiritual, fazem referência a três categorias amplas de reencarnação, de acordo com o critério do grau de evolução dos perispíritos reencarnantes e do local em que o fenômeno deverá acontecer.

Há pessoas que, ao longo da vida reencarnada, exercitam o livre arbítrio nas atitudes estritamente carnais, de sorte que o elemento material se sobrepõe ao elemento espiritual, alijando a possibilidade de refino ou de aprimoramento.

Todos seres humanos dispõem de livre arbítrio e, como o nome diz, são livres para escolha do que melhor consulte aos seus interesses. Se os interesses nascerem da vontade de satisfação das necessidades carnais, é livre para a busca da satisfação.

Ao contrário, se os interesses nascerem do desejo de aprimoramento moral, cuja fórmula está nas palavras de Cristo, também é livre para buscar o aprimoramento, desta feita espiritual. O fim do caminho escolhido mostrará a beleza ou a tristeza do lugar a que chegarem.

Esses encarnados que não exercitaram o livre arbítrio na direção do bem obviamente, como todos, desencarnarão, porque esta é a lei da vida humana. Porém, no momento do desenlace, oportunidade em que o perispírito deixa o invólucro corporal, a liberação do corpo será o caminho para a prisão do perispírito, a vagar na crosta terrestre.

Em assim sendo, aqueles que, quando do desencarne, não deram, ao perispírito que se hospedou no seu corpo humano, oportunidade para o aprimoramento e não a deu porque, por ato livre seu, provocou a prisão da entidade às vontades terrenas, ficará sabendo que não fez bom uso dos talentos que Deus lhe deu e, de algum modo, deverá fazer o resgate. Resgate que somente pela reencarnação poderá ser feito.

Com o desencarne é óbvio que esse perispírito será erraticida, ou seja ficará preso às vontades terrenas, das quais se acostumou, sem que tenha consciência de que já não está hospedado nas dependências do corpo humano que se transformou em pó. Há, pois, que se cumprir, de alguma maneira, a lei do esclarecimento, ou seja da evolução natural, também no plano espiritual.

Mas há quem, na vida carnal, buscou aprimoramento moral e se lançou na busca de ajuda junto ao plano espiritual, este não será erraticida e prosseguirá nas trilhas das realizações Divinas. Uma das trilhas mais importante é a que conduz o bom espírito à ajuda dos necessitados na terra.

Ante o exposto, o plano da espiritualidade enuncia uma regra auxiliar, sem absoluto rigor quanto aos limites das três classes propostas. Trata-se de enunciado geral que tem por escopo situar, em zonas amplas, os desencarnados na condição de displicentes (erraticidas) os disciplinados (elevados) e os que não foram displicentes tampouco elevados (misto).

REENCARNAÇÃO COMPULSÓRIA - para aqueles displicentes que se dedicaram aos prazeres carnais e que, com o desencarne ficaram sem rumo, permanecendo na crosta terrestre ou nas regiões inferiores (erraticidas), estes reencarnação compulsoriamente, a fim de que, mediante o cumprimento de provas inflexíveis e não comutativas, possam retomar ao curso do progresso natural nos ciclos da espiritualidade.

É o tipo de Reencarnação denominada Compulsória, em que colhe o espírito sem prévia concordância dele e até mesmo sem seu conhecimento. É, por sua índole, própria dos espíritos cujo grau de perturbação impede análise clara da situação ou cujas faltas são tão graves que anulam a liberdade de escolha.

REENCARNAÇÃO LIVRE (missionários) - Aqueles de grande elevação espiritual por causa da disciplina, da caridade, da fé e do amor que serviram de norte durante a vida carnal, reencarnam em apostolado de serviço, em prol da humanidade. São os mensageiros de Deus cuja missão é assistir à humanidade no caminho do bem; são os socorristas que trabalham no auxílio dos flagelos humanos; são os cientistas que buscam descoberta de drogas curativas para auxílio da humanidade.

É própria dos missionários, espíritos redimidos perante a Lei Divina. São os que possuem ampla liberdade de escolha. Chegam ao plano material para o desempenho de tarefas elevadas em quaisquer segmentos do conhecimento humano, tanto nas ciências como na filosofia ou religião.

REENCARNAÇÃO PROPOSTA (MISTA) – Envolve a maioria dos reencarnados. Fica reservada a quem, durante a vida carnal, não se revelou displicente tampouco disciplinados; de um modo ou de outro fizeram jus a uma oportunidade de programação reencarnatória.

Aos que se inserem nesse modelo, os trabalhos mediúnicos lhes serão distribuídos e, mesmo com muito sofrimento, abrirão, para eles, a porta do caminho que poderá, com disciplina, levá-los às zonas de elevação, orientação e trabalho em prol do progresso e aproximação da verdade de Jesus, não a verdade dada pela humanidade, mas a verdade revelada pelo Mestre.

As longas porém indispensáveis considerações, expendidas por absoluta necessidade de compreensão, servem, pois, para facilitar o entendimento do que aconteceu entre Adib e Mailun, mais particularmente a retenção de amor no perispírito de Adib durante muitos anos, sem ter realizado, nas experiências humanas, relacionamento íntimo com aquela que devotou profunda paixão e, ao depois, percebeu que tudo fora um devaneio, uma quimera.

É evidente que ambos se relacionaram em vidas passadas e de forma íntima, sem que esse relacionamento tivesse ocasionado rusgas relevantes quanto a eles.

Não menos certo é que, ambos, de um modo ou de outro, envolveram-se em outras modalidades de relacionamento voltado a quem, nesta reencarnação, nasceu para ser o marido dela e a que, nesta reencarnação, nasceu para ser a mulher dele.

O namoro que mantiveram não foi traumático, foi muito bom e se desfez sem rusgas ou ódio, ainda que tenha ocasionado em Adib profundo recalque, consequência da frustração no namoro.

Fechou-se no seu íntimo e, essa prisão, por paradoxal que pareça, foi a libertação de condições para que Adib conhecesse sua esposa Thais, esta sim colocada na trilha reencarnatória para resgate, em relação a quem mantivera passado de ódio e de martírio. Mailun, de sua parte, também, por causa do namoro com Adib, atraiu a atenção de seu marido, porque, igualmente, com ele aprendeu a perdoar no sofrimento de uma matrimônio que não teve beleza.

Tanto a mulher de Adib quanto o marido de Mailun, depois de algum tempo de matrimônio foram atacados violentamente por obsessores que encontraram as condições físicas e perispirituais para atos terríveis de vingança contra Adib e Mailun.

Levando-se em conta que estes ofereciam natural resistência ao ataque, a solução encontrada foi a presença frágil de Amon (marido de Mailun) e Thais (mulher de Adib) que serviram de instrumento contra as defesas destes.

Enquanto, entre os obsessores que estão a atuar, no relacionamento matrimonial de Adib e Mailun, não acontecer o ato do perdão, do amor, do progresso moral continuarão a agir e a tentar levar os obsidiados (Amon e Thais), se for o caso, à morte, porquanto concomitantemente à obsessão, desequilíbrios orgânicos provocarão o acometimento de doenças, aliás, como se sabe, acometimento que está a acontecer.

Se algo terrível ainda não se revelou foi exatamente porque Adib e Mailun encontraram o caminho do progresso perispiritual e consideram que a insustentabilidade do relacionamento matrimonial deles é a derradeira prova que, se vencida, trará benefícios futuros.

Esse é o quadro atual das personagens que atuaram no palco desta narrativa, cuja peça ainda não chegou ao fim; portanto, aguarde-se o desfecho e que seja o melhor possível para os envolvidos.
aclibes
Enviado por aclibes em 17/07/2015
Reeditado em 17/07/2015
Código do texto: T5314403
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