A outra mudou a nossa história
Posso deitar no seu peito?
Eu perguntava com aquele olhar de cachorro sem dono, mesmo sabendo que a resposta seria um não seco e em alto e bom som, eu insistia porque imaginava que o meu dia poderia chegar, parece bobagem, eu sei mas, era tão importante pra mim e nos nossos quase dois anos juntos nunca tinha acontecido, não por falta de oportunidade, acontece que algo o impelia a não aceitar que eu me aconchegasse ali e isso doía profundamente em mim.
Existia um problema isso é fato, só que por algum motivo ele não se sentia bem falando sobre isso e eu o respeitava.
Um certo dia arrumando umas coisas dele encontrei uma pasta que eu nunca tinha notado antes, sei que é errado, mas a curiosidade gritou bem mais alto e eu resolvi bisbilhotar, encontrei inúmeras cartas, o nome dela era Flávia, as cartas endereçadas a ele falavam de um amor genuíno, enorme, puro, porém impossível, o pouco que pude ler notei que ela era casada há anos com um homem muito violento que nem poderia sonhar com os encontros as escondidas que aconteceram e ainda aconteciam entre os dois, haviam inúmeras juras de amor, promessas de um final feliz mas, em nenhum momento minha existência foi citada, eu era um nada, era um nada na vida dele, ele era uma das pessoas mais importantes da mina vida e eu? Bem, eu não era ninguém, meu chão caiu, li em um das cartas um trecho que dizia "Espero que o meu lugarzinho nos seus braços continue guardado e lembre-se que te amo acima de tudo, não importa o que aconteça." foi neste trecho que entendi o porque nesse tempo todo eu nunca pude deitar em seu peito, era o lugar dela e ele mantinha intacto; Já havia lido umas trinta cartas e ainda faltavam muitas pra ler e a cada paragrafo a raiva ia aumentando e a decepção também, eu o amava, na verdade ainda o amo muito e não sabia como reagir perante tudo aquilo, resolvi a primeiro momento guardar as cartas, poderia usa-las depois como provas.
Nos dias seguintes tentei agir da forma mais natural possível, inevitavelmente fiquei mais emotiva, as vezes olhar para ele doía, era o mesmo que cravar uma espada no peito, eu o imaginava com ela nos braços, fazendo juras de amor e então eu chorava copiosamente, ele não entendia nada ou fingia não entender e foi assim por quase três meses; Em um determinado momento algo nele foi mudando, algo em mim também.
Ele começou a me enxergar, passou a ver meu valor e a cuidar mais de mim, numa certa noite me ofereceu o peito para que eu pudesse deitar, eu fiquei espantada, por um breve momento lembrei que era o lugar dela, então chorei, ele me olhou nos olhos e de alguma forma eu pude sentir que ele estava se desculpando, estava pronto para seguir em frente com a nossa história, ele chorou também e me prometeu se redimir de todos os erros dele, era uma confissão afinal eu não tinha dito uma palavra sequer a respeito do episódio com as cartas.
Eu resolvi virar a pagina, resolvi fingir que nada aconteceu, deixei de lado o medo e a insegurança por nós dois, porque o amo demais pra deixar que isso acabe com o nosso casamento, porque sabia que era necessário abrir mão de tudo o que nos impedia de prosseguir e apesar de toda a dor que tudo isso me causou eu o perdoei, eu entendi que o que aconteceu só ia me machucar enquanto eu permitisse isso, que se eu deixasse de olhar pra trás ia enxergar na minha frente uma oportunidade de mudar a nossa história e foi nesse momento que tudo mudou.