O barqueiro e o velho barco
Ele não sabia ao certo, o porquê o seu agora velho barco, sempre que passava naquele mesmo ponto do rio ia diminuindo a marcha e ali se deixava ficar por longo tempo.
E por mais que ele, experiente marujo, remasse contra aquelas águas tranquilas, o barco resistia como que fincado num banco de areia e ali desejasse parar.
Até que um dia, um velho índio do local contou-lhe a história da violência do rio que irado, arrancou o jovem, mas frondoso pé de Jatobá.
Dizem as línguas mais faladeiras do lugar, que era por causa da paixão tamanha do rio, pela formosa laranjeira que o inebriava com o seu cheiro, mas o seu coração a ele não queria entregar, pois já caira de amores pelo belo Jatobá.
Assim, sua vingança se deu nesse dia e o seu rival ele entregou às suas correntezas e à sua dura e própria sorte. Até que ele exausto, veio num ponto qualquer do rio a encalhar.
Só que umas mãos muito habilidosas de artesão o resgatou de seu destino e deu-lhe uma nova forma, veloz e bela.
Agora, novo, transformado em barco, era livre e ao longo do rio punha-se a deslizar, mas dizem que em noites de lua cheia e perfumadas, saudoso ele vagueia, debaixo dos raios pratas do luar. Assim ele chora de um lado do rio, a perda de sua amada, que do outro lado rio estende seus longos galhos, como imensos braços na tentativa de seu barco alcançar.