O barqueiro e o velho barco

Ele não sabia ao certo, o porquê o seu agora velho barco, sempre que passava naquele mesmo ponto do rio ia diminuindo a marcha e ali se deixava ficar por longo tempo.

E por mais que ele, experiente marujo, remasse contra aquelas águas tranquilas, o barco resistia como que fincado num banco de areia e ali desejasse parar.

Até que um dia, um velho índio do local contou-lhe a história da violência do rio que irado, arrancou o jovem, mas frondoso pé de Jatobá.

Dizem as línguas mais faladeiras do lugar, que era por causa da paixão tamanha do rio, pela formosa laranjeira que o inebriava com o seu cheiro, mas o seu coração a ele não queria entregar, pois já caira de amores pelo belo Jatobá.

Assim, sua vingança se deu nesse dia e o seu rival ele entregou às suas correntezas e à sua dura e própria sorte. Até que ele exausto, veio num ponto qualquer do rio a encalhar.

Só que umas mãos muito habilidosas de artesão o resgatou de seu destino e deu-lhe uma nova forma, veloz e bela.

Agora, novo, transformado em barco, era livre e ao longo do rio punha-se a deslizar, mas dizem que em noites de lua cheia e perfumadas, saudoso ele vagueia, debaixo dos raios pratas do luar. Assim ele chora de um lado do rio, a perda de sua amada, que do outro lado rio estende seus longos galhos, como imensos braços na tentativa de seu barco alcançar.

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 25/06/2015
Reeditado em 25/06/2015
Código do texto: T5289240
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