O Lago Dos Cisnes-PARTE 1
Ás vezes , antes de dormir de olhos abertos , ele ainda pensava nela. Quase não se falaram nos últimos dias infindáveis de outono.
Mas sempre o ritualístico ético e cordial : - Bom dia !
E depois , quando possível , de longe algum olhar de esguelha ,
seguido de uma estranha sensação de reticências na boca.
Muitíssima gente comentava que talvez , ele a estivesse esquecido...
Mas no fundo de cada alma existem tesouros inescrutáveis ,
ocultos e imperceptíveis, e certamente as mais das vezes revelam :
o que se cala pode ter maior intensidade do que aquilo que se diz!
A história deles não possuía no âmago, as características estruturais
ou o perfil dos leitores que avidamente suspiram por romances tórridos de finais felizes - Porém, quixotescamente era shakespeariano.
Nem as situações de início que enredam ambos, estavam presas
ao pensamento claro e articulado de um modo pleno e coerente.
Mas nos fazia contemplar e sentir algo diferente.
Nos desafiando a não somente olhar para o que todos poderiam ver,
e sim, enxergar um horizonte único, intrínseco e diferente.
Havia algo entre os dois , algo mais poderosos que todos os exércitos !
Absolutamente, ela sempre refletiu nele um efeito provocativo.
Metaforicamente, ventania súbita que arranca todas as roupas
do varal inocente , rendido e agora completamente desnudo !
Comparação esdrúxula ? Talvez tenham razão.
Mas não existia linguagem ideal ou adequada para explicitar
a visão magnífica, eviterna e materializada dela !
O fato de ser assim, causava fascínio e deslumbramento.
Além da lisura espontânea do franco sorriso perturbador.
Até o jeito dela singular, de falar o nome dele, como alguém
que morde paulatinamente a carnação frutuosa da maçã,
revelava, sem dúvida, que ela era extralinguística.