As Noites Brancas-Capítulo 1:Largado na noite,na noite largada

Capítulo 1-Largado na noite,na noite largada

Exausto.

Nada como um dia puxado para completar a semana puxada.Quando eu cheguei em casa após a aula na faculdade,ignorei totalmente todos os convites para almoçar o quanto antes e fui direto para a cama.Recuperar naquela tarde de Sexta-Feira todo o sono perdido em cinco noites mal-dormidas.Caí na cama feito um bêbado.Fechei os olhos.Dormi feito um bebê.Dependia apenas do travesseiro.Não fazia a mínima diferença em dormir sem um cobertor.Apenas queria descansar minha cabeça em uma superfície macia,ao invés de uma mesa plana e desconfortável ou um prato de comida.

Sinceramente,até que seria engraçado desmaiar de sono na mesa de jantar e deixar minha cabeça cair sobre o prato.Poderia imaginar a reação da minha família ao ver tal cena inusitada porém previsível.

Dormi o que parecia ter sido a tarde inteira.Foi meio assustador abrir os olhos e ver uma noite súbita e agradável pela janela após ter visivelmente visto um meio-dia ensolarado antes de deitar na minha cama.

Enfim,de quê adianta falar do que eu passei sem ao menos mostrar a minha casa (ou pelo menos parte dela) aos meus visitantes?

Vou começar pelo meu quarto.

Bem,meu quarto não é o que o mais prestigiado príncipe europeu poderia sequer ver,porém é mais do que o suficiente.Um quarto com chão de madeira bem datada,com paredes pintadas no mais pálido amarelo;um tapete de pelagem negra cobrindo quase toda a área da base do quarto;um beliche posicionado do lado da porta (pra informação de vocês,eu durmo na cama de baixo);uma escrivaninha branca na extremidade da direita,composta por várias pequenas gavetas e decorada com uma simples luminária;um computador devidamente posicionado em uma mesa rústica na extremidade esquerda,sendo banhado pelo vento fresco do quintal,vindo por meio de uma janela sempre aberta e,para completar a descrição da minha toca,dois armários opostos á parede da porta,sendo separados por uma pequena cômoda,encabeçada por uma TV de LED.O armário da esquerda continha muitos dos livros que eu li antes da faculdade e todos os livros que eu li graças à faculdade.O armário da direita servia apenas para guardar as minhas roupas,meu perfume,meu desodorante,alguns trocados e certas lembranças.E,para completar,um ar-condicionado instalado perto da porta,na parede virada para o quintal.Um quintal de terra enegrecida,com coqueiros e uma ala com uma churrasqueira.Ficava ao lado da garagem.

Meu quarto ficava ao lado de uma grande varanda localizada nos fundos da casa,contendo uma comprida mesa oval,usada principalmente para jantares em ocasiões especiais e mais que especiais e um freezer.

Acho melhor parar por aqui.Você não iria gostar se eu lhe fornecer detalhes demais,não é?

Enfim.Aonde eu estava mesmo?Ah,sim.

Eu acordei após ter dormido a tarde inteira.

Decidi me acostumar ao horário do meu despertar indo ao parapeito da varanda.Podia ver o meu quintal,com sua terra cinzenta e seus belos coqueiros e a melhor parte:a floresta de prédios erguida além dos limites do quintal da minha casa.Prédios altos.Não tão altos.Baixos.Bonitos.Feios.Grossos.Finos.Escuros.Iluminados.Haviam prédios de todas as espécies.Certas vezes,me coloco naquele parapeito com uma tábua de madeira,observando aquelas estruturas,imaginando quais pessoas aqueles apartamentos já abrigaram.Quais experiências foram vistas pelas paredes.Os amores recordados.As tristezas acobertadas.Várias coisas.

De repente,uma singela luz alaranjada captou a minha atenção.Vinha de um apartamento não muito distante,nem muito alto.

Era uma pequena varanda iluminada por uma luz alaranjada.Teto de madeira.Porta dupla de madeira com espaços quadriculados cobertos com vidro.Um parapeito sustentado por vidro e um corrimão esverdeado.E uma mulher.

Desejava vê-la com todos os seus detalhes,mas a noite e meus óculos para a minha miopia em nada contribuíam.Corri de volta para o meu quarto,abri minha gaveta de camisas e achei o que eu estava necessitando naquele momento:Um par de binóculos que ganhei em uma das viagens de verão da minha família.

Voltei ao parapeito.Enterrei o par de binóculos nos meus olhos.Fitei a varanda alaranjada.Lá estava ela.Parecia ter quase a mesma idade que a minha.Um corpo muito magro e bem esculpido,agraciado com um suave e puro branco.Pés descalços.Cabelos castanhos.Um rosto afiado e surreal,digno de uma deusa.Olhava para o céu enegrecido.Pelo seu olhar,posso inferir que procurava pelo sinal de alguma estrela para lhe fazer companhia nesta noite...

Infelizmente,todos os meus pensamentos protagonizados por mim e por ela foi bruscamente interrompido quando a minha mãe veio me comunicar do jantar recém-terminado.Pensei em adiar a refeição,mas a minha fraqueza e o rugido da minha barriga eram mais fortes.Por fim,cedi à tentação.

Fui para a cozinha com o objetivo de comer muito pouco para poder,deste modo,voltar para minha musa.Mas eu não contava com um imprevisto:Há alguns dias que eu não consigo medir a minha fome e faço um prato cheio de comida suficiente para acabar com a fome no planeta terra.E este animal irracional que vos escreve fez isso.Logo hoje.Eu enchi o prato com arroz,feijão,bananas fritas,batatas assadas,um pedaço de bife de frango e uma grande caneca de suco de pêssego.A única coisa na qual eu fiquei pensando enquanto eu encarava meu jantar após ter sentado na mesa da cozinha foi:’’Ferrou’’.

Bem,depois de pensar um pouco,a melhor solução que veio até a minha cabeça foi comer tudo de forma rápida o quanto antes.Fiz o melhor para deixar o mínimo de comida no prato.Por fim,me retirei da mesa,tomando cuidado para não vomitar tudo aquilo que me esforcei tanto para colocar no meu estômago.

Tudo isso para ir até a varanda e não notar a presença dela.Sim,você não leu errado.Eu queria afirmar o contrário,mas,infelizmente,não posso.Ela não estava lá.

Sabe aquela sensação?Quando apenas um detalhe é mais do que suficiente para arruinar o seu dia?Podia senti-la descendo pelos meus ombros.

Decidi ir para a cama.Minha barriga estava caótica e tudo aquilo me deixou completamente exausto.Me aproximei da cama e deixei a minha massa desabar sobre ela.Não desliguei a luz.Me esqueci de ligar o ar-condicionado.Não peguei um cobertor.Fechei os olhos e adormeci...

...Até certo ponto,meu caro visitante.Por algum motivo,meus olhos se abriram subitamente,como se eu tivesse tido um susto em algum sonho meu.Enfim.Meu quarto se encontrava na escuridão.O ar-condicionado estava ligado.Havia uma coberta sobre o meu corpo.

Cortesia da minha mãe.

Não tinha sono naquela hora.Me levantei e fui até o parapeito da longa varanda.Respirar ar fresco.Me apoiei nele.Não sabia o que esperar daquela madrugada.Me sentia aberto á surpresas.Foi quando eu vi.

Ela foi até a varanda de sua casa apenas para fechar a porta.Mas...No momento que suas mãos tocaram a porta,o seu olhar me fitou por longos segundos.Ela se aproximou do parapeito.Pousou a mão na boca para me mandar um beijo e acenar para mim.Ela voltou e fechou a porta.As luzes apagaram.

Me senti muito feliz!Me sentia leve e calmo,porém feliz!

Isso foi o suficiente para me fazer voltar para cama e tentar dormir.Tentei,porém não consegui.Estava agitando demais.

E você,caro visitante,pode falar que aquilo pode ter sido fruto de um sonho bem vivido ou uma ilusão da madrugada.Poderia ter sido isso.Entretanto,eu gosto de pensar que ela me mandou um beijo de ‘’Boa Noite’’.Então vamos deixar deste jeito.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 18/06/2015
Código do texto: T5281477
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