A Miragem-Capítulo 5:Corrompido

Capítulo 5-Corrompido

Minha vida estava simplesmente perfeita.

Desde que eu conheci Manuella,naquela noite onde eu tentava afogar toda a minha tristeza e decepção no álcool,eu mudei como pessoa.Antes,eu era um ranzinza semi-depressivo,agora eu descobri exatamente como era amar e ser amado por alguém completamente real.Uma sensação difícil de ser caracterizada em uma só palavra.Estava me sentindo vivo,feliz,importante,satisfeito e,acima de tudo,maravilhado.

Manuella,uma mulher de cabelos negros como carvão,olhos azuis,corpo ligeiramente volumoso,poucos centímetros mais baixa do que eu,com uma pele tão limpa quanto água vinda de uma nascente,mãos tão macias como se tivessem sido massageadas por Deusas e Musas e um rosto que parecia ter sido esculpido por um artista renascentista,de tão perfeito que era,é a minha melhor amiga,espoasa e alma gêmea.Uma expressão facial,um tom de voz,um olhar,um gesto:Detalhes mínimos que simplesmente bastavam para que ela saiba do meu humor ou sobre o que estou pensando.Quase uma conecção.Quase uma leitura da minha mente.Ela também foi uma surpresa inesperada.Amigos e familiares,inclusive Jaime estavam impossibilitados de acreditarem na sua beleza e no fato dela ser a minha esposa.’’Ela só quer o seu dinheiro’’,’’Ela vai se cansar de você’’,’’Ela é demais pra você’’:Besteiras,quase chegando ao limite do ridículo,que vem aos meus ouvidos quando demonstro meu amor por Manuella.’’Ignore-os’’,disse Manuella,no mesmo momento em que tentamos dormir em nossa cama,’’São apenas tolos.Enquanto dançamos,eles assistirão,e continuarão tolos’’.Suas palavras,suaves como as mãos que percorriam o meu rosto,me hipnotizavam.’’Durma bem,meu Rei’’,disse,antes de me dar um longo e delicioso beijo de ‘’Boa Noite’’.O cheiro do seu perfume caro entupia as minhas narinas,ao mesmo tempo que o sabor do seu batom de frutas vermelhas se espalhava pela minha boca.Não conseguia mais parar de beijá-la.

Ao longo do tempo,nosso amor gerou frutos.O inteligente e criativo Ricardo Jr.,de 11 anos;O amigável e alegre Henrique,de 9 anos e a doce e adorável Emile,de 7 anos.Dei todo o meu amor a eles,e cresceram apreendendo a amar de verdade.Jr. herdou a minha inteligência,e Henrique e Emile herdaram as graças e a beleza de sua mãe.A cada ‘’Eu te amo,papai’’ que eu ouvia de suas jovens vozes,me sentia orgulhoso de ter filhos tão carinhosos.

Tudo estava absolutamente perfeito...Até hoje.

Acordei com o alarme do celular para ir trabalhar.Quase levei um ataque do coração com o alarme,mas Manuella não expressava nenhuma reação.Estava dormindo ainda.Tinha um sono profundo.Mas eu descobri que ela havia acordado,depois de ver ela sorrir após beijar sua testa.Tomei banho,passei desodorante,escovei os dentes,coloquei a roupa,calcei os sapatos,comi pão com café e fui para o hospital trabalhar.

Cheguei em casa ás 13:00.Porém...

Alguma coisa parecia estar diferente em mim...

Estava mais cansado que o normal...

Podia desmaiar de sono a qualquer momento...

Meia-hora depois,Manuella chegou em casa junto com as crianças.Tinha saído do seu turno como arquiteta para buscar as crianças na escola.

-Oi amor,como foi o seu dia?-Disse,sorrindo,antes de dar um beijo curto em Manuella.

-Foi bem,e o seu?-Respondeu ela,com uma expressão de alegria.

-Foi ótimo.O mesmo de sempre-Respondi,procurando esconder o meu cansaço.-Olá meninos!

-Oi papai!-Responderam Júnior e Henrique,quase em uníssono.

-O que vocês fizeram de bom hoje?

-Eu e os meus amigos jogamos uma partida de futebol contra os meninos da 4° série,e ganhamos!-Disse Henrique,abrindo um sorriso,combinando com o seu cabelo em forma de tigela.

-Que ótimo!-Respondi exaltado-E você,Júnior?

-Nada de especial-Respondeu Júnior-Além de ter vencido o campeonato de xadrez hoje!-Seus cabelos longos e negros,chegando aos ombros,não foram capazes de esconder sua felicidade.

-Parabéns,meu filho!-Disse,feliz e orgulhoso,antes de abraçar Júnior-Você merece!

-Papai!-A voz de Emile ecoava pela sala.Larguei os braços de Júnior para dar atenção á ela.Estava correndo em minha direção com um papel na mão.

-Oi,minha princesa-Disse antes de beijá-la na bochecha-O que você tem aí?

-Um desenho que eu fiz pra você-Disse Emile carinhosamente,sorrindo com suas bochechas rosadas e seu cabelo idêntico ao de sua mãe.

-Pra mim?Posso vê-lo?

Emile me passou o desenho.

Não conseguia acreditar no que eu via.

Emile,que gostava de desenhar,nunca tinha desenhado nada parecido com aquilo.Era uma mulher de cabelos dourados,olhos verde-esmeralda,pele pálida e com um vestido da mesma cor dos olhos.O espanto que sentia era incapaz de ser contido.

-Tudo bem,amor?-Disse Manuella.

Tirei os olhos do desenho e posicionei-os na direção da minha esposa.não só ela,mas todos estavam com uma expressão assustadora de preocupação,como se eu tivesse sofrido um acidente grave.Pensei rápido e organizei as palavras.

-Sim...está tudo bem.É que eu fiquei surpreso com o desenho de Emile.Ele,é tão bonito!-O sono estava pesando a cada segundo.-Eu tive uma ideia,que tal a gente comer fora hoje,em um restaurante?

-Está ótimo-Respondeu Manuella,pondo fim áquele clima esquisito.

-Ok,só que agora eu preciso dormir.Eu tenho me esforçado muito no trabalho ultimamente.

-É verdade.Enquanto você dorme,eu vou ir ligando para o restaurante perto da nossa casa para fazer as reservas.Pode confiar em mim.

-Eu sempre confio em você-Respondi,com um sorriso encorajador.

Manuella olhou para os nossos filhos

-Crianças,por que vocês não vão assistir TV enquanto o papai tira um cochilo?-Perguntou ela.

-Tudo bem-Disseram as crianças,quase todas ao mesmo tempo.

Elas saíram e foram para sala.Andei em direção ao meu quarto.Foi muito difícil chegar lá.Meus membros pesavam como se eles estivessem acorrentados á blocos de ferro puro e as minhas pálpebras mais ainda,quase se fechando totalmente.

Cheguei no quarto.Dane-se o travesseiro.Eu caí na cama de uma vez só e dormi logo em seguida.

A medida que eu fechava os meus olhos,tudo ficava mais escuro...

Mais calmo...

Mais tranquilo...

Mais...

Irreal.

-Não se esqueceu de mim,esqueceu?

Aquela voz era familiar.Bem familiar.Familiar até demais.

Abri os olhos.

Eles processavam e mandavam para a minha mente a imagem de uma floresta.Não uma floresta comum,mas ‘’a floresta’’,na qual eu já visitei infinitas vezes.Ela parecia mais viva e iluminada do que da última vez que a presenciei.

Aquela voz familiar vinha de alguém,se deitando ao meu lado na grama cuja cor se assemelhava á dos seus olhos.

-Luisa...-A única palavra dita por mim.

Ela impediu a minha voz com o seu dedo indicador,colocando-o bem na frente da minha boca.Se levantou em seguida,segurando a minha mão direita para me levantar junto dela e a usou para encostar no meu rosto,olhando-o atentamente,observando todos os novos detalhes em mim:Cabelo um pouco longo,tufos brancos e a minha barba,cobrindo o meu rosto do mesmo modo que uma cerca elétrica cobre uma casa.Olhava como se eu tivesse me tornado alguma coisa ruim.Um monstro.

-O que aconteceu com você?-Disse,com a voz fraca.

Tentei abrir a boca e deixar a minha voz escoar pelo ambiente.

-Desculpe Luisa,mas eu sou casado,e eu amo a minha esposa.

-Ela te corrompeu.-Disse lenta e delicadamente,enquanto passava os dedos pela minha barba.Por onde eles passavam,os fios que a formavam caíam.No final,meu rosto ficou completamente limpo.Me sentia jovem outra vez.

Luisa se aproximou ainda mais.Seu rosto ficava mais e mais perto.Um segundo depois,ela começou a me beijar.Havia algo diferente em seu beijo.Tinha um gosto vazio,frio.

Interrompi o beijo.

-O que foi Ricardo,não me ama mais?-Disse ela,indignada.

-Luisa,você sabe muito bem o que aconteceu naquele dia.Não quero cometer o mesmo erro...

-Em vez disso,você quer ficar com aquela megera-Ela me interrompeu.

-Não fale assim da minha esposa!-Gritei,com raiva.

-Ela te comrrompeu,te estragou,te transformou em outra pessoa e matou o Ricardo que eu conhecia e amava!-Ela também estava com raiva.É a primeira vez que eu a vejo assim.

-Pelo menos ela é real!

Um silêncio se instalou.

Pelo olhar e pela expressão de Luisa,percebi que a tinha magoado.Me olhava com uma forte tristeza mesclada com depressão.O seu amado Ricardo tinha morrido naquele segundo em que ele dissera aquilo.Aquele homem em pé a sua frente apenas se parecia com ele,falava como ele,agia como ele,mas não era o seu querido Ricardo.

-Foi um erro ter te encontrado de novo.-Disse ela,ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas dos seus olhos.Vê-la chorar me fez ter uma sensação de estranheza no meu coração.Uma parte de mim havia morrido,e o meu velho amor a perdeu.

Luisa começou a correr pela floresta,tentando fugir de mim.

-Luisa,por favor,espere...

Tarde demais.Ela avançou muito.Corri para alcança-la.Provavelmente,considerando a distância entre nós e a velocidade em que Luisa corria me impediam de tê-la ao meu encontro outra vez.

Pisei em um espeço vazio.Um buraco.Tão profundo quanto um abismo mortal.

Caí e gritei,negando tudo aquilo.

Acordei.

Manuella se sentava na minha cama.

-Amor,eu liguei e o restaurante está lotado de reservas.Vamos ter que jantar aqui em casa mesmo.

-Ok-Respondi,me recuperando do sonho que acabou se tornando um quase-pesadelo.

-Tem certeza que você está bem?

-Tenho,não se preocupe comigo.

22:00

Fui colocar Emile na cama e desejá-la boa noite.

Enquanto ela deitava na cama,ela perguntou:

-Papai,posso te perguntar uma coisa?

-Pode,minha querida.

-Você conhece a moça do meu desenho?

Perplexo,manti a minha mente no lugar e respondi Emile.

-Sim,conheço.

-Quem é ela?

-Uma velha amiga.

-Ela já fez algo ruim pra você?

Pensei por quase uma eternidade,porém,só se passaram poucos segundos.

-Não,minha querida.E eu espero que ela não faça.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 18/06/2015
Código do texto: T5281473
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