824-FÉRIAS NO PARAISO- Cap. de "Amor Sem Limites"

Como dizer á minha amada Enny que um longo período de separação entre nós dois era iminente e necessário?

Havíamos vivido nove meses de separação, quando residi no Rio de Janeiro, amenizados por um fim de semana que juntos passamos na Cidade Maravilhosa, por nossas cartas e por sabermos que a distância (entre Rio e Paraíso) poderia ser vencida com poucas horas de viagem.

Tendo sido nomeado para uma agência do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul, tudo mudava de figura. Um detalhe técnico daquela nomeação deixou de ser detalhe para se tornar o ponto crucial de nosso relacionamento. Eu deveria permanecer na agência de Tapes (RS) durante dois anos, sem pedir transferência.

A fim de amenizar a notícia e nos prepararmos para mais uma separação, passei um mês de férias na nossa querida Paraíso, ao lado de minha querida Enny.

Só a certeza de que nosso amor venceria mais este desafio foi que me impulsionou a fazer juras de amor, apesar da distância e do tempo. Enny compreendeu a situação e me animou, pois era a construção do nosso futuro.

Foi um mês inteiro que passamos juntos, vivendo manhãs, tardes e noites de felicidade por estarmos lado a lado, evitando pensar na separação. Nosso namoro era promissor e nossas famílias compreendiam o sacrifício que estávamos nos impondo. Visitamos parentes de Enny em Franca e Ribeirão Preto. Passeios juntos com fotos, muitas fotos.

Prometi à minha amada que estaria de volta tão logo cumprisse o período de dois anos.

— Nem um dia a mais. Pedirei transferência para uma agência próxima a Paraíso, onde poderemos viver nossa felicidade no lar que vamos construir.

Mal sabia o que enfrentaria, mas não duvidei um só momento da perenidade do nosso amor.

rometemos continuar trocando cartas de amor a cada semana, como já havíamos feito quando eu estava no Rio.

Desejei que aquelas férias fossem eternas, Infelizmente, chegou o dia em nos despedimos para uma longa separação. O dia 12 de outubro de 1955.

Nossos olhos marejaram de lágrimas e nossos braços nos prendiam numa ânsia de adiar a partida.

—Adeus, amor.

—Adeus, querido...

<><>

Nossos sentimentos eram expressos em sonetos nos quais colocávamos a saudade, a melancolia e até mesmo a incompreensão da separação.

TUA AUSÊNCIA

Enny, 17.12.1954

Faz hoje um mês que tu foste embora

Deixando-me sozinha com a triste solidão

E às vezes consulto aflita meu coração

Serás tão sincero como o foste outrora?

Recordar-te-ás de mim nessa cidade encanto

Onde as belezas confundem-nos a visão

Onde a própria noite é um belo clarão

Onde por certo já não ouves o meu canto?

Pergunto, contudo, perde-se a resposta

Estás bem longe, mas não importa

Certo é que ao menos terás presente

Em um pensamento, minha lembrança

E eu ouso ter agora a esperança

De que me terás no coração constantemente.

PORQUE PARTIR?

Gobbinho, 6.4.55

Porque partir?

Ir para além, muito além da próxima colina

Para mais longe do que o longínquo horizonte azul.

Adeus?

Não!!

“Até logo, meu bem”

Amanhã...

Amanhã não verei mais estes olhos

Nem sentirei teus cabelos sob meu rosto

São macios, tão negros

Nem o calor de tua mão sentirei

Nem mais a música suave

De tua voz.

Amanhã...

Amanhã estaremos separados

A saudade virá

E a alegria ir-se-á.

Eu não sei por quê

Porque tudo isto

Porque a viagem, a tristeza

De vivermos separados.

Porque Partir?

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 8 de fevereiro de 2014

Conto # 824 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/06/2015
Código do texto: T5276922
Classificação de conteúdo: seguro