822-CARTAS E POEMAS DE AMOR - Autobiográfico

Os nove meses que residi no Rio foram um teste para nosso amor. Enny e eu iniciamos a troca de cartas entremeadas com sonetos de amor.

Nossas cartas iam e vinham a cada semana, cheias de declarações de amor, juras de fidelidade e saudade imensa. Esta correspondência, conservada com carinho, revive aqueles dias, quando tínhamos certeza de que nosso amor seria para sempre, embora não fizéssemos a mínima idéia de como se desenrolaria.

As remessas pelo correio eram semanais, mas a entrega nem sempre tinha aquela cadência. Em uma carta de oito de abril, eu escrevi: “Na terça feira recebi sua carta de 16 de março, com um atraso de 20 dias!” Tais atrasos eram causa de uma ansiedade nunca antes sentida por mim e, em consquência, havia semana em que eu recebia duas cartas no mesmo dia.

O amor aumentava, apesar da distância, e eu podia me expressar com palavras coisas que talvez não tivesse coragem ou oportunidade para dizer, como esta abertura em carta de 20 de maio, data em que Enny aniversaria:

“Eu estava procurando um termo que exprimisse, numa palavra, tudo o que você é para mim. Procurei, procurei e só encontrei este: FADA! (...) Para explicar, fiz um poema (...) que saberá explicar porque chamar você de FADA”

O curto poema era assim:

O MEU MUNDO

Enny... Um mundo em quatro letras

As noites de estrelas – são seus olhos

As claras auroras – são seus sorrisos

Tudo é você em meu solitário viver

Enny...São as estrelas que piscam tão longe

Quisera eu tê-las para você!

É a lua que passeia mui calma

Enny...São aquelas nuvens brancas, esgazeadas

Pelo fraco luar iluminadas.

É a beleza da vida que me enche a alma.

Enny... Você é os pássaros nas arvores trinando

Você é as ondas do mar a praia beijando

Você é a brisa por entre as folhas sussurrando

E as folhas secas pra longe levando

Enny... Suas cartas, lindas cartas,

São retratos – suaves retratos num álbum

É poesia... Poemas... rimas soltas.

Enny... A fonte entre os arbustos

Soluçante e isolada

É a minha fada!

Enny... O nome da minha fada

É o meu mundo em quatro letras: Enny. Gobbinho.20. Maio.1955.Rio

Enny me respondeu com este lindo soneto:

SE TU SOUBESSES

Se tu soubesses por que choro todo dia

Que as minhas lágrimas imploram piedade

E que arrasto minha vida em agonia

Guardando sempre no coração a Saudade!

Se tu soubesses quantas noites de insônia

Perdidas na tristeza daminha infeliz vida

Que é para mim sempre, sempre, tão lacônica

Lembrando eternamente a felicidade ida.

Se tu soubesses, talvez tu regressasses

E eu então as lágrimas não mais derramasse

E não mais viveria nesta aflição.

Esquecer-me-ia da dor que sinto agora

Tornar-me-ia feliz com o fui outrora

E voltaria abater feliz meu coração! Enny.20.maio.1955-Paraíso

Entre 22 de novembro de 1954 e 12 de setembro de 1955 trocamos cartas apaixonadas como os versos que escrevíamos. São mais de setenta cartas, guardadas com cuidado. Esta coleção, repleta de declarações de amor, fidelidade e esperança de nossa futura união pelo casamento, é apenas o prólogo ou um ensaio para nossa correspondência em um tempo bem mais longo, a uma distância bem maior.

Intensas e vibrantes, as cartas foram, antes de nossa união matrimonial, os laços que mantiveram acesa a chama de nosso amor.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2014

Conto # 822 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 11/06/2015
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