BODEGA DO ZÉ
Foi na Bodega do Zé, que Jacinta e Onofre se conheceram. Jacinta era uma mulata faceira, cheirosa, que encantava pelo sorriso e alegria. Já Onofre era desengonçado, desajeitado, mas tinha um charme que não se sabe de onde vinha e era sempre o mais desejado do lugar.
A Bodega do Zé abria todos os dias, mas no sábado tinha a noite da dança. Lá vinha o sanfoneiro, o violonista, o contrabaixista e o Uarley, com a voz mais afinada que se conhecia por aquelas bandas. Tudo ficava diferente naquela noite. As mesas abriam para dar espaço ao salão, o palco improvisado com um tablado, as bebidas mais geladas, e a caipirinha de limão de dar água na boca, preparada na hora.
Às oito horas em ponto a bilheteria abria. Mulher não paga, e os homens, vinte reais. As nove horas a música começava a tocar.
As mulheres com as roupas ajeitadas para ocasião, umas de vestido, outras de saia iam pegando seus parceiros, todos arrumadinhos, a dançar no salão.
E começava o rela-rela, o bole-bole, ao som do forró, do bolero, samba, reggae, poprock. Era uma mistura de ritmos, embriagante, envolvente, enlouquecente.
Ninguém resistia. Até os garçons, os bilheteiros, os seguranças e o dono, caiam na dança.
O mundo parava ali naquele momento, só havia alegria. Todos se abraçavam, cantavam, beijavam, e a música ia apaziguando as dores contidas em cada coração que pulsava naquela noite.
De longe se ouvia o som que parecia chamar os que estavam longe. E ia chegando mais gente, e parecia que o lugar ia crescendo, pois ninguém ficava de fora.
Em cada noite daquela, um casal se formava para sempre. Naquele sábado os escolhidos foram Jacinta e Onofre, que há muito vinham procurando um grande amor. E ele nasceu ali, naquele sábado aos cruzarem os olhares, os cheiros, o rebolado, os lábios, dos beijos trocados.
Quando a noite findava, se viam os sorrisos, a felicidade do coração e o prazer saciado dos que ali estavam.
O domingo vinha limpo, o povo em paz, a hora da hora...