Quando o portão de madeira do chalé das Rosas se abriu, Fred estava muito nervoso, mas quase perdeu o folego com a beleza da propriedade. O cheiro de chuva recente, o lago, o pomar, os banquinhos de madeira que contornavam as árvores graciosamente e o lindo jardim de rosas que emolduravam o chalé dando-lhe um ar elegante e suave, parecia um cenário da região de Provence na França. Durante anos respeitados jornalistas tentaram entrar nesse paraíso e entrevistar Eliseu Martins, mas nunca conseguiram. Era difícil imaginar que o crime do século teria ocorrido ali.
Ao parar o carro em frente ao chalé, Fred foi recebido por Teodoro, neto de Eliseu, acusado de ter sequestrado e matado o jovem Nicolas Ribeiro em 1969, durante o regime militar. De acordo com o governo, Nicolas foi mantido como refém até que foi morto e o assassino fugiu do Brasil.
- Fred?
- Sim.
- Sou Teodoro, neto de Eliseu. Me acompanhe por favor, meu avô está esperando você.
Na época o crime chocou o país e quando Eliseu voltou do exílio amparado pela lei da Anistia, discursões voltaram a tona após ele comprar o Chalé e nunca ter dito uma palavra para se defender.
- Vovô - a voz de Teodoro é suave - O reporter está aqui.
Eliseu está deitado na cama de olhos fechados, aparentemente frágil, mas ainda um homem forte e bonito. Ele abre os olhos devagar.
- Nicolas?
- Não vovô. Esse é Fred, o reporter que o senhor pediu para chamar.
- Boa tarde sr. Eliseu.
- Obrigado por atender o pedido de um velho meu filho.
- Imagina sr. Eliseu. É uma honra conhecê-lo. O senhor é meu ídolo.
- Não diga isso em público. Sou um assassino.
- Eu não acho.
- Hum....pq?
- Tive acessos aos arquivos do crime e existem muitas perguntas não respondidas.
- Leio o seu blog e gosto do que escreve.
- Muito obrigado. É uma honra tê-lo como leitor.
- Você disse numa entrevista que pensava em escrever um livro.
- Verdade.
- Já tem alguma idéia?
- Bom, um editor queria reunir algumas crônicas do blog mas eu recusei.
- Vou lhe dar uma idéia. Posso?
- Por favor.
Eliseu tomou um pouco de água e continuou.
- Gostaria que escrevesse um livro com minha visão sobre o crime.
Fred não acreditou no que acabara de ouvir. Qualquer jornalista ou escritor daria a vida por esse projeto, então por que Eliseu escolheu exatamente ele?
- O senhor está preparado para responder muitas perguntas?
- Não. Esse assunto ainda dói muito. Mas sempre tive o hábito de fazer anotações de coisas importantes que aconteceram na minha vida. Com a ajuda do meu neto pus essas anotações em ordem. Lendo-as você terá todo o material que precisa. Compare o meu relato com os arquivos.
- Claro. Farei isso.
- Ouça com bastante atenção o único depoimento que vou lhe dar.
- Pode falar.
- No dia 13 de dezembro de 1968 o governo militar anunciou o AI-5 pela televisão. A ditadura finalmente mostrava suas garras e dava o golpe de misericórdia. Após o anúncio vários estudantes, intelectuais, artistas e politicos foram presos. Imediatamente saí de casa e fui para a casa de uma madrinha que não via há anos e me escondi. Cinco dias depois um amigo me pegou as quatro horas da manhã para sairmos do Rio. Mas no caminho fomos parados numa blitz e me reconheceram. Meu amigo arrancou com o carro atropelando um soldado e no meio da confusão levei um tiro.
Eliseu fica emocionado e bebe mais água.
- Meu amigo voltou para o prédio onde morava, deixou o nosso carro e pegou o do pai. Antes de sairmos da garagem apaguei e quando acordei, estava aqui com Nicolas na minha frente.
- Então não foi um sequestro. Mas por que o senhor veio para cá?
- Nicolas mesmo sendo neto de um General, não apoiava a ditadura. Ele ajudava nos bastidores e salvou muita gente assim. Na propriedade de um General, ninguém ousaria invadir, nem imaginar que eu estaria aqui. Poderia me recuperar em paz e depois sair do Brasil ou entrar na clandestinidade.
- Então Nicolas na verdade ajudou o senhor.
- Isso é tudo que vou lhe dizer. Leia o material e escreva o livro.
- Uma última pergunta: Por que o senhor nunca se defendeu?
- Por que minha defesa envolveria Nicolas e magoaria minha mulher.
- Mas o senhor não conheceu sua mulher depois?
- Leia minhas anotações e vai entender tudo. Agora estou cansado e gostaria de ficar sozinho.
- O senhor sabe quem matou Nicolas?
- Não. Mas não fui eu. Nicolas Ribeiro foi o grande amor da minha vida.
Fred ficou parado. chocado e surpreso com a revelação de Eliseu e não sabia o que fazer ou dizer.Saiu do quarto com Teodoro, recebeu as anotações e na viagem de volta percebeu que tinha uma história de amor para contar. A história de um amor rebelde.
Ao parar o carro em frente ao chalé, Fred foi recebido por Teodoro, neto de Eliseu, acusado de ter sequestrado e matado o jovem Nicolas Ribeiro em 1969, durante o regime militar. De acordo com o governo, Nicolas foi mantido como refém até que foi morto e o assassino fugiu do Brasil.
- Fred?
- Sim.
- Sou Teodoro, neto de Eliseu. Me acompanhe por favor, meu avô está esperando você.
Na época o crime chocou o país e quando Eliseu voltou do exílio amparado pela lei da Anistia, discursões voltaram a tona após ele comprar o Chalé e nunca ter dito uma palavra para se defender.
- Vovô - a voz de Teodoro é suave - O reporter está aqui.
Eliseu está deitado na cama de olhos fechados, aparentemente frágil, mas ainda um homem forte e bonito. Ele abre os olhos devagar.
- Nicolas?
- Não vovô. Esse é Fred, o reporter que o senhor pediu para chamar.
- Boa tarde sr. Eliseu.
- Obrigado por atender o pedido de um velho meu filho.
- Imagina sr. Eliseu. É uma honra conhecê-lo. O senhor é meu ídolo.
- Não diga isso em público. Sou um assassino.
- Eu não acho.
- Hum....pq?
- Tive acessos aos arquivos do crime e existem muitas perguntas não respondidas.
- Leio o seu blog e gosto do que escreve.
- Muito obrigado. É uma honra tê-lo como leitor.
- Você disse numa entrevista que pensava em escrever um livro.
- Verdade.
- Já tem alguma idéia?
- Bom, um editor queria reunir algumas crônicas do blog mas eu recusei.
- Vou lhe dar uma idéia. Posso?
- Por favor.
Eliseu tomou um pouco de água e continuou.
- Gostaria que escrevesse um livro com minha visão sobre o crime.
Fred não acreditou no que acabara de ouvir. Qualquer jornalista ou escritor daria a vida por esse projeto, então por que Eliseu escolheu exatamente ele?
- O senhor está preparado para responder muitas perguntas?
- Não. Esse assunto ainda dói muito. Mas sempre tive o hábito de fazer anotações de coisas importantes que aconteceram na minha vida. Com a ajuda do meu neto pus essas anotações em ordem. Lendo-as você terá todo o material que precisa. Compare o meu relato com os arquivos.
- Claro. Farei isso.
- Ouça com bastante atenção o único depoimento que vou lhe dar.
- Pode falar.
- No dia 13 de dezembro de 1968 o governo militar anunciou o AI-5 pela televisão. A ditadura finalmente mostrava suas garras e dava o golpe de misericórdia. Após o anúncio vários estudantes, intelectuais, artistas e politicos foram presos. Imediatamente saí de casa e fui para a casa de uma madrinha que não via há anos e me escondi. Cinco dias depois um amigo me pegou as quatro horas da manhã para sairmos do Rio. Mas no caminho fomos parados numa blitz e me reconheceram. Meu amigo arrancou com o carro atropelando um soldado e no meio da confusão levei um tiro.
Eliseu fica emocionado e bebe mais água.
- Meu amigo voltou para o prédio onde morava, deixou o nosso carro e pegou o do pai. Antes de sairmos da garagem apaguei e quando acordei, estava aqui com Nicolas na minha frente.
- Então não foi um sequestro. Mas por que o senhor veio para cá?
- Nicolas mesmo sendo neto de um General, não apoiava a ditadura. Ele ajudava nos bastidores e salvou muita gente assim. Na propriedade de um General, ninguém ousaria invadir, nem imaginar que eu estaria aqui. Poderia me recuperar em paz e depois sair do Brasil ou entrar na clandestinidade.
- Então Nicolas na verdade ajudou o senhor.
- Isso é tudo que vou lhe dizer. Leia o material e escreva o livro.
- Uma última pergunta: Por que o senhor nunca se defendeu?
- Por que minha defesa envolveria Nicolas e magoaria minha mulher.
- Mas o senhor não conheceu sua mulher depois?
- Leia minhas anotações e vai entender tudo. Agora estou cansado e gostaria de ficar sozinho.
- O senhor sabe quem matou Nicolas?
- Não. Mas não fui eu. Nicolas Ribeiro foi o grande amor da minha vida.
Fred ficou parado. chocado e surpreso com a revelação de Eliseu e não sabia o que fazer ou dizer.Saiu do quarto com Teodoro, recebeu as anotações e na viagem de volta percebeu que tinha uma história de amor para contar. A história de um amor rebelde.