A Miragem-Capítulo 2:Chuva

Estava acontecendo tudo de novo.O mesmo lugar.

De novo,sonhando com aquele lugar,mas tinha algo de diferente nele.Existiam mais do que apenas árvores.Coqueiros,arbustos,mato,capim,grama.Tudo estava mais variado.O mesmo para as flores e as frutas.Dessa vez,além de diversificada,a floresta estava sendo habitada por pássaros.Era um festival de cores mescladas.

Atravessei a floresta,tentando acha-lá.O que foi uma tarefa presumidamente fácil,se tornou uma dificuldade.Só depois de uma eternidade que conseguir chegar ao lago do meu último sonho,desta vez imutável,sem nenhuma mudança.E lá estava ela...

Usando o mesmo vestido de lã esverdejada de antes,estava tocando em um violão de cor marrom escuro,grande para o seu tamanho.E o som do seu dedilhado combinava perfeitamente com a paisagem multicolorida.Um passo foi o suficiente para a minha presença ter sido notada.Imediatamente,ela parou de tocar e sentei ao seu lado.

-Olá-Disse,gentilmente-Eu estava entediada,então decidi tocar para passar o tempo.Acho que eu estou ficando um pouco melhor.

É verdade.Eu não conseguiria tocar uma música daquelas.Na verdade,faz alguns meses que eu não toco violão.Me sentei ao lado dela.Seu rosto pálido dessa vez esboçava curiosidade.

-Então,tem alguma coisa a dizer?-Disse ela.

-Posso te perguntar uma coisa?-Falei,sincero.

-Pode,à vontade.

-Porque você sempre aparece nos meus sonhos,me alegrando,me fazendo companhia e sendo minha amiga?

Ela ficou com uma expressão de preocupação.

-Bem-Ela começou-Antes de responder essa pergunta,eu vou te contar como era antes.Você vivia sozinho.Completamente sozinho.Se isolava do mundo real.As pessoas o achavam distante,solitário,deprimido.Nada te alegrava.Seus pais te davam tudo:Dinheiro,roupas,eletrônicos,tudo,menos amor.Pra você,o amor era uma coisa esquisita,irracional,desnecessária,as vezes boba e infantil.Isso até eu surgir.A cada sonho,a cada momento juntos,nossa ligação ficava cada vez mais forte,até você finalmente se libertar da sua cegueira e enxergar o que realmente é o amor,a experimentá-lo,senti-lo.Essa é a minha razão de existir:Te mostrar o que o amor é e o que ele pode fazer.

-Isso significa que,de um jeito ou de outro,você não existe no mundo real?

-Infelizmente,não.

Aquilo foi forte demais para mim.A dor foi insuportável.Como se uma espada aquecida em um forno,quase derretendo,fosse encravada e presa ao meu peito.Uma dor ardente,forte do que qualquer coisa inflamável.Não tinha fim.Não sabia como acalmar aquela dor infernal.

Tentei desviar o rosto,para que ela não visse a minha expressão de agonia,mas ela puxou delicadamente a minha cabeça,puxando-a pelo queixo e colocou a mão na parte lateral do meu rosto,usando o polegar para enxugar a lágrima que estava escorrendo do meu olho.

-Não fique triste.Só porque não sou real,não significa que não pode me amar.-Disse,carinhosamente.

Concordei lentamente com a cabeça.Ela pode ser uma mera ilusão,mas é a única no mundo que pode me fazer feliz e cheio de vida.Por um momento,olhei para o lago,após perceber que alguma coisa pequena caiu nele e provocou pequenas ondas.Em seguida,foram surgindo várias pequenas ondas,até eu finalmente olhar o espaço ao meu redor.

Estava chovendo.

-Ela é linda,não é verdade?-Disse ela,olhando para o céu.

-É,ela é maravilhosa.

Gostava da chuva.Observar a água percorrendo as árvores,as folhas,arbustos,flores e frutas era um momento que eu adorava presenciar.Era único,assim como ela.

-Quer dançar comigo?-Disse,depois de se levantar.

-Nessa chuva?

-Qual é o problema?

-Nada,é que...

-Ah,não me diga que você tem medo de uma simples chuvinha.-Disse,rindo.

-Não tenho.É que eu nunca dancei em toda a minha vida.

-Tudo bem.É só me acompanhar.-Disse,me consolando.-Você sabe como se dança valsa,sabe?

-Sei.-Respondi,meio incerto.

Me levantei.Antes de tudo,nos reverenciamos.Depois,tocamos as mãos e por fim coloquei a minha outra mão em suas costas,perto da sua cintura.Ela fez o mesmo com a outra mão,porém a sua mão estava posicionada no meio das minhas costas.Imaginei uma sinfonia para servir como um apoio e começamos a dançar.1,2,3,4;1,2,3,4.Não era tão difícil.Enquanto os seus olhos tão verdes quanto as folhas da floresta me olhavam de forma sedutora,pude notar que os passarinhos estavam em pé nos galhos das árvores,se protegendo da chuva e assistindo a nossa dança.Quando a dança acabou,tocamos nossas mãos e continuamos o contato visual.Ela começou a aproximar o seu rosto,fechando os seus olhos gradativamente para me beijar...

Eu acordei.Observei o meu quarto e vi que o meu celular estava apitando por causa do alarme.Peguei-o e joguei na parede,quebrando-o e tentei dormir.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 08/05/2015
Reeditado em 08/09/2021
Código do texto: T5235331
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