Amor de primavera.

AMOR DE PRIMAVERA.

Era a primavera de oitenta e cinco, e naquele ano as flores estavam ainda mais bonitas do que no ano anterior, eu sou apaixonado por flores, de todos os tipos de todas as cores e perfumes, inclusive cultivo algumas espécies em minha casa, as minhas preferidas são as orquídeas e as rosas, principalmente as rosas.

Permita-me apresentar-me, peço perdão por não faze-lo antes, meu nome é Giovane Lombardi, sou um simples vendedor de rosas e orquídeas, exerço esse maravilhoso oficio já faz alguns anos, e amo o que faço, é importante que eu lhes conte como tudo aconteceu, como as flores entraram na minha vida, literalmente flores e flores, vocês entenderam o que quero dizer.

Tudo teve inicio quando eu fiquei desempregado, na ocasião eu trabalhava em uma metalúrgica, antes da primavera de oitenta e cinco o desemprego bateu em minha porta, e as dificuldades saltaram pela janela, eu morava com a minha mãe, uma simpática professora que amava cultivar rosas, e as suas preferidas eram as vermelhas, naquela ocasião em que eu não conseguia outro emprego comecei ajudar minha mãe no cultivo das rosas, era uma forma de passar meu tempo, mas ai veio a tempestade, minha querida mãe adoeceu, eu só tinha ela, sou filho único e meu pai já havia falecido, dias difíceis aqueles.

Não foram nem duas semanas e minha heroína falecera, quanta dor quantas lágrimas, quanto desespero em meu perdido coração, a parte mais difícil foi escolher as rosas que enfeitariam o seu caixão, suas preferidas rosas vermelhas que ela amou até o fim da vida. Foi ali naquele cenário de dor e morte que jurei a mim mesmo que não deixaria as rosas de minha mãe morrerem, passei então a cultiva-las e a vende-las, fiz delas o meu oficio e o meu ganha pão, foi desse modo que as flores me encontraram e que eu encontrei as flores.

Contudo devo também falar de outra flor, e essa ainda mais bela, a primeira vez que meus olhos pousaram sobre ela foi no enterro da minha mãe, em meio a uma multidão de conhecidos, lá estava aquela figura desconhecida, que beleza singular, era a primeira vez que eu via uma rosa negra, é muito rara eu sei, mas lá estava ela, estendida de forma primorosa no seio de outra flor ainda mais bonita.

Imagino que os senhores estejam se questionando sobre qual rosa estou a falar, na verdade das duas eu diria, duas rosas negras que conquistaram meu sofrido coração dilacerado.

Dias depois eu por aquela moça e sua rosa negra, perguntei a todos os moradores da pequena cidade de Rio Claro se alguém por ventura não havia visto uma bela moça com um rosa negra no peito, depois de muito perguntar por fim um senhor da banca de jornal, que ficava na praça central da cidade me informou que a vil adentrar em uma escola que ficava próximo dali, como eu conhecia bem a escola não hesitei e fui até lá.

Nos primeiros passos pátio adentro me surpreendi algo diferente havia ali, e era justamente o belo jardim de rosas e orquídeas próximas a secretaria. Eram de uma beleza que com palavras não consigo descrever, e lá estava ela, tímida rosa negra em meio as rosas vermelhas, que fascinante visão, digna de um artista da grandiosidade de Da Vinci, somente as talentosas mãos do mestre Italiano poderia pintar com exatidão as vivas cores que vestiam aquelas rosas.

A moça da secretaria percebendo meu encantamento pelo jardim que ali fora plantado, chamou-me naquele momento de minha distração,.

_Olá tudo bem senhor, vejo que gostou das rosas, são lindas não é mesmo, foi a nossa nova diretora que plantou, ela as trouxe da sua antiga cidade.

_Olá moça- Respondi timidamente- Meu nome é Giovani, morro aqui perto, sou vendedor de rosas, por isso a minha admiração por elas.

_Que bom Giovani, meu nome é Alice, sou a nova secretaria. O senhor gostaria de falar com a diretora, acredito que vocês se darão bem, afinal, os dois amam flores, especialmente rosas.

_Eu gostaria sim Alice. Se não for incomodar.

_claro que não vou chama-la.

Não demorou muito e lá veio ela, a passos curtos e precisos, com a mesma rosa negra em seu farto busto os olhos claros e os cabelos encaracolados e negros fazendo contraste com sua pele igualmente negra, que mulher maravilhosa, que perfume maravilhoso, no momento em que ela me cumprimentou com um forte abraço, me senti com uma abelha a sugar o néctar daquele doce perfume.

_Em que posso ajudar senhor, meu nome e Isabela.

_Me perdoe por incomoda-la senhorita Isabela, é que sou vendedor e cultivador de rosas.

_ Que coincidência também as aprecio e cultivo. Talvez você queira me vender algumas.

_Não senhora não vim vender, mas conhecer.

_não entendi senhor como assim.

_ Eu a vi na semana passada no enterro da minha mãe, com esta mesma rosa negra, fiquei interessado, pois é a primeira vez que vejo uma, minha mãe era professora nesta mesma escola herdei dela a paixão por flores, sem ser inconveniente, como você as conseguiu.

_Bom, na verdade e minha mãe que cultiva rosas, assim como a sua, ela também faleceu não faz muito tempo, ela e sua mãe eram colegas, e sua mães possuía uma espécie de rosa vermelha que ela queria muito, mas acabou morrendo sem consegui-la, aproveitei a oportunidade do emprego para buscar essa rosa, mas dai fiquei sabendo da morte de sua mãe, estou surpresa eu não sabia que ela tinha um filho.

_Que historia enh.

_Pois é eu ai te procurar para pedir a tal rosa e você veio a mim, justamente atrás de uma rosa.

_não me entenda mal, mas entre rosas e corações não existe coincidências, apenas amor. E nada mais. Você veio atrás de minha rosa e está levando muito mais do que isso, tu levas o meu coração junto da rosa.

_Belas palavras poeta.

_Aceita jantar com esse simples vendedor de rosas esta noite.

_Como recusar um convite desses.

Foi assim amigos que tudo aconteceu, foi dessa forma, que a rosa negra conquistou o meu coração, as rosas negras eu diria, naquela linda primavera de oitenta e cinco a exatos cinco anos.