Um conto sobre um casal qualquer
Ele acordou com a cabeça estourando poucas lembranças da noite passada, um gosto amargo na boca, sem abrir os olhos simplesmente ficou deitado pensando se deixando levar pelos seus pensamentos... Ele sabe que no fundo queria estar em outro lugar longe disso tudo, ele sabe que ela continua vivendo enquanto ele vai vegetando preso no passado, refém do seus próprios erros.
A janela quebrada de alguma noite de bebedeira qualquer deixava um vento gelado entrar, ele sente sua pele esfriar e ele pensa: "Será clichê demais se quisesse que ela estivesse aqui para me esquentar" um riso sufocado pelo torpor que ainda não quis passar. Ele levanta pega o velho violão e as lembranças o invade sem piedade, as velhas canções que cantava para ela dormir lhe tiram o sono e ele pensa que ironia do destino.
Do outro lado da cidade ela corre atrasada para pegar a condução que a levará ao emprego ela sempre correndo enchendo a cabeça para não se permitir lembrar, mudou toda a decoração do quarto jogou os velhos lençóis fora e as cartas de amor com a letra dele que somente ela conseguia traduzir. Ela se distanciou dos amigos em comum para não saber noticias dele, ela pensou em se mudar de cidade mas... não há distância que a faria esquecer.
Ele abre a geladeira pega um copo de vodca e se deixa cair no sofá, engraçado ele pensa como a maioria dos casais ela não o deixou por causa de traição ou outra coisa qualquer semelhante, ela simplesmente se foi aos poucos sem que ele percebesse e quando se deu conta suas roupas já não estavam mais no guarda-roupa, uma mala na porta e lagrimas no olhar. Ele tentou dizer que a separação era um erro mas ela não quis escutar, ele tentou levar flores e prometeu terminar a faculdade, ela não quis escutar...
Os anos foram passando ele morreu cedo demais e ela também, as suas almas se foram aos vinte e três respectivamente mas os corpos se arrastaram até os cinquenta e sete e sessenta e três sem que ninguém soubesse dizer o porquê da separação