Bonjour
A: – Minha mãe dizia que quando você beija os olhos de alguém, você beija a alma da pessoa. – E beijou meus olhos.
Sorri e retribuí os beijos. Ficamos ali, deitados na cama que estava no meio do quarto, abraçados, em silêncio, de olhos fechados. Enquanto isso, acontecia um diálogo que ele não podia ouvir, mas que era gritante na minha mente.
B: – Você sabe que precisa acordar, não sabe?
C: – Cala a boca! Me deixa aproveitar isso aqui.
B: – Você está se iludindo, sabe disso.
C: – Eu gosto do estrago, você sabe bem, então pra que ficar infernizando minha vida?
B: – Porque depois você vai me culpar e odeio quando faz isso.
C: – Mas isso aqui tá tão bom. Eu aqui abraçada com ele, vestindo apenas uma camisa que ele pegou no guarda-roupa pra mim, recebendo esse carinho... Por que não posso só aproveitar? Você sabe que nem eu nem você conseguimos descrever exatamente a sintonia que sentimos com ele. Você sabe que quando fiquei olhando pra ele e ele perguntou o que era, respondi nada porque você não conseguiria achar palavras pra explicar algo tão simples e tão especial. Você sabe que...
Ele sussurrou algo me tirando desse diálogo interior.
A: – Quem dera...
C: – Quem dera o que?
A: – Nada. Eu tava viajando aqui...
C: – Fala, poxa.
A: – É que você tava aqui, tinha uma malinha que ficava aqui no quarto. Você ficava aqui, sabe? Comigo. Quem dera fosse verdade acordar todo dia com você vestindo uma camisa minha extra grande e falando “bonjour!” pra mim.
E minha vozinha interior se manifestou novamente.
B: – É, eu sei. Você tá completamente ferrada.