A Miragem-Capítulo 1:Especial

Tudo que eu faço,eu faço pensando nela...

Era em um vasto gramado,coberto com árvores,algumas floridas,outras não,algumas sem mesmo terem folhas.Estava andando,desorientado,talvez confuso.Foi nesse lugar que a vi.Sentada em uma pedra,no meio de um pequeno lago,mexendo nos seus cabelos dourados.Seus olhos esmeraldas fitavam o cabelo,mantendo uma sintonia com o rosto,pálido,expressando um desinteresse.Procurei me aproximar,sem fazer algum ruído,para me certificar se era mesmo ela.Mas,inexplicavelmente,ela notou minha presença de repente,como se ela a sentisse.Seus olhos,rápidos como um animal selvagem,me conteram.Ser observado por eles era como uma bênção,e uma tortura,ao mesmo tempo.O sorriso que se abriu em seu rosto,de bochecha a bochecha,me deu uma justificativa pra explicar a sua expressão desinteressada de antes.

-Eu estava te esperando-Disse ela,com uma voz doce e limpa.

Ela se levantou,graciosamente,e desceu da pedra,cruzando o pequeno lago em minha direção.Não se importava de ter o seu vestido de lã esverdejada molhado pela água.Ela simplesmente andava,sem pressa,mas ansiosa.

Tê-la em pé ao meu encontro,a um dedo de distância,me mergulhou em ansiedade.Minha respiração parava,as mãos suavam.Quando percebi,já estava imóvel.Porém,ela se levantou na ponta dos pés,esforçando para chegar perto do meu rosto.

-Vamos brincar um pouquinho-Disse,em um sussurro hipnotizante.

Em um piscar de olhos,ela estava correndo,atravessando o lago,em direção ao gramado coberto por árvores.Rindo como uma criança,se divertindo.Antes de pensar qualquer coisa,decidi segui-la.Mesmo sendo maior e mais rápido,não pude alcançá-la.O sentimento constante de vazio,um sentimento que me acompanhava toda vez que a via,estava pesando o meu corpo.Fraco,incapaz,inútil:Eis o meu estado.Tropecei,caí,deitei.Provavelmente,devo ter arranhado um dos meus joelhos com a queda,mas não importava,pois minha respiração estava lenta,em decorrência da minha fraqueza.Levantar para mim era totalmente impossível.Sou minha própria vítima,o meu próprio agressor.Fechei os olhos,com o intuito de achar alguma força ou motivo para levantar.

-Se machucou?-Disse,olhando para mim,preocupada.

Não consegui responder.Minha voz não substituía a respiração pesada.De alguma maneira,ela entendeu a situação pelo qual eu estava passando.Como se ela estivesse na minha mente.Logo depois,abaixando-se lentamente,deu um pequeno beijo na minha testa.De repente,uma animação incontrolável me tomou conta.Se espalhava,se revirava,corria.Um veneno.Um tipo especial.Do tipo que eu teria o prazer de ter correndo pela minha corrente sanguínea.Levantei,abruptamente e a observei,por um segundo.

-Vamos de novo.Tenho certeza que você vai conseguir agora.-Falou,com um tom de sábia.

Tudo se repetia.A corrida,o riso.É claro.Pega-Pega.Devia ter percebido antes.Conclui o meu raciocínio,e ela já estava muito longe.Corri.Mas...Havia algo diferente.Eu estava mais fluído,livre,ansioso e rápido.Mais que o normal.Porém,o tempo de cerimônias de comemoração não era agora.

Corri o máximo que pude.Era inútil,no final das contas.Pensei em desistir,até um cipó aparecer no me caminho.Tomei impulso,pulei e o agarrei.Esperava poder usá-lo para ir longe o bastante,para chegar perto dela.E,para a minha sorte,minha expectativa se realizou.O que se seguiu foi um vôo curto pela floresta,o bastante para me colocar perto dela.Pulei e aterrissei na sua frente,assustando-a,parando-a.Ela sorriu,novamente.

-É por isso que eu te acho especial-Disse,em um tom alegre.

Ela se aproximou,mais uma vez.Pela sua expressão,notei que queria me dar um beijo.Lhe concedi.Experimentar o sabor de cereja dos seus lábios foi um momento único.A cada segundo,o sabor ficava mais e mais azedo,se transformando no sabor de areia.Olhei para ela,agora transformada em uma escultura de areia,se desmanchando de uma forma inacreditável...

Acordei.Sentei na cama para tentar saber o que havia acontecido.No fim,acabei chorando.Foi um sonho.Apenas um sonho.

Ela não é real...

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 15/04/2015
Reeditado em 08/09/2021
Código do texto: T5208211
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