AMOR DE MENINA (Cap. 5)
Quando a segunda-feira chegou, Laís acordou ansiosa. O garoto com o qual havia ficado na festa era passado. Mas Marcela era bem presente. Tinha sido realmente uma pena que o cara houvesse aparecido justo na hora em que as duas estavam sozinhas. Marcela era tão estranha! Ela intrigava Laís.
Para variar, Marcela chegou depois que todos estavam sentados. Para decepção de Laís, a garota a ignorou totalmente, sentando lá no fundo ao lado de Fabiano. Cris estava curiosa para saber como tinha sido a festa, quantos garotos Laís havia beijado e coisas assim. Mas para Laís ter que se lembrar da festa não era agradável. Esperava sinceramente nunca mais ver o cara. Quando a professora de história chegou, Laís não estava nem um pouco interessada em assistir àquela aula. Forçou em prestar atenção no que ela dizia. Parecia que haveria um trabalho em dupla para fazer naquele dia. Ótimo, pensou Laís, eu vou fazer com a Cris.
- Então, crianças, eu mesma vou escolher as duplas – declarou a professora com os óculos no nariz e encarando a turma. - Quero este trabalho pronto até o período terminar.
Evidentemente que houve protestos. Laís ficou toda arrepiada. Nunca que a professora escolheria Cris para ser a sua dupla. Somente esperava que ela não a colocasse junto com a Sofia, a garota mais nojenta da escola. Tensa, Laís acompanhou com receio a formação das duplas e suspirou aliviada quando a tal Sofia caiu justamente com Afonso, o nerd. Puxa, os dois se odiavam! Ela ainda estava imaginando como os dois fariam para se suportarem quando a professora disse em alto e bom som:
- Laís e Marcela.
Laís sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto Cris murmurava:
- Cruzes...
Não houve sequer tempo para Laís reorganizar seus pensamentos. A voz de Marcela logo se fez ouvir:
- Ei, Laís! Pegue suas coisas e venha para cá!
Lentamente, Laís se voltou e se deparou com Marcela chamando-a com autoridade. Fabiano já estava do outro lado da sala fazendo dupla com uma garota, mas observando atentamente as duas. Sem falar nada, Laís pegou o livro, caderno e uma caneta e se alojou ao lado da colega. Sentia-se muito envergonhada.
- E então? Como estava a festa? – perguntou Marcela encarando Laís.
- Ah, mais ou menos… - Laís espalhou suas coisas sobre a mesa de Fabiano. – Sinceramente achei que pudesse ser melhor.
- Sério? – perguntou Marcela um pouco irônica. – Mas quando eu fui embora deixei você bem acompanhada.
- Por que você acha que eu estava em boa companhia? O cara era um chato!
Mentira. Ele nem era tão chato assim. E além de tudo, era um gatinho. Mas Marcela não precisava saber.
- Sério. Você não precisava desaparecer de repente.
- Ah, e por que você acha que eu teria que ficar por ali? Era óbvio que ele queria estar com você.
- Ora, mesmo assim... Você chegou primeiro.
- Sei quando estou sobrando.
A professora chamou a atenção dos alunos para as perguntas que estavam no quadro. Eram cinco questões que deveriam ser respondidas e entregues até o final da aula.
- Odeio esta mulher – disse Marcela baixinho, começando a folhear o livro de História. – Ela sempre passa estes trabalhinhos babacas.
- Verdade? – aos poucos Laís perdia a vergonha e começava a se sentir mais à vontade, apesar do jeito de Marcela, um pouco rude.
- De onde você veio os professores eram bonzinhos? – Marcela perguntou debochada.
- Alguns sim, outros não.
Marcela a encarou com seus olhos negros.
- Os professores desta escola são uns trouxas.
Laís percebeu que a colega parecia revoltada. Nunca havia se relacionado com uma pessoa tão intensa como ela.
- Acho alguns legais, sabe?
- Você que é boazinha demais.
- Eu? Não me acho tão boazinha assim.
Marcela sorriu e Laís se pegou adorando o jeito que ela sorria.
- Bem, é que eu não conheço você muito bem.
- Agora somos colegas. E parceiras de um trabalho. É a nossa chance. O que você acha?
Imediatamente Laís se arrependeu das suas palavras. Aquilo parecia uma… uma cantada. Ela lutou para não ficar ruborizada. Contudo, Marcela pareceu gostar de ouvir aquilo.
- Certo. Não devemos desperdiçar as oportunidades.
- Claro que não.
O trabalho foi feito tranquilamente. Algumas vezes Laís flagrou Marcela a olhando meio que de lado, como estivesse avaliando-a. E não foi difícil para Laís também fazer o mesmo, admirando aquele cabelo vermelho e de corte estranho, mas que emoldurava tão bem o rosto enigmático de Marcela. Antes de todos, a dupla entregou o trabalho para a professora e como havia alguém ocupando ainda o lugar de Laís, ela se deixou ficar no fundão da sala de aula. Até que não era tão ruim sentar lá atrás.
- O que você está achando?
- Do quê? – Laís olhou para Marcela, em dúvida.
- De sentar tão longe da professora.
- Legal. Na verdade, sempre sentei na frente. É diferente ver a sala de aula por este ângulo.
Marcela apontou com a cabeça para uma classe ao lado.
- Olha, este lugar não está sendo ocupado. Se você quiser vir para cá, esteja à vontade.
A primeira coisa que Laís pensou foi o que suas novas colegas iriam achar. Muito lentamente ela estava sendo aceita em um círculo de amizades de patricinhas. As gurias até eram legais, mas o assunto delas baseava-se principalmente em roupas, maquiagem e garotos. Não rolava ali nenhum papo inteligente.
- Bem, eu…
- Pense com carinho. Eu e o Fabico gostaríamos que você viesse.
Laís desviou o olhar como sempre acontecia quando Marcela a deixava tímida.
- Sim, é uma possibilidade.
Naquele momento o colega que estava ocupando sua mesa ao lado de Cris saiu ao mesmo tempo em que a campainha do intervalo tocou. Laís bem que desejava ficar um pouco mais. Fabiano apareceu ao seu lado esbanjando energia e dando-lhe dois beijos estalados.
- Convidei nossa amiga a vir sentar conosco, Fabico – comentou Marcela.
- Uau, sério? – perguntou ele animado. Então ele baixou a voz e comentou. – Venha mesmo. É bem mais legal do que ficar ao lado daquelas galinhas.
Laís foi obrigada a segurar o riso. Lá na frente Cris estava em pé, observando a cena atentamente. Quando o olhar de ambas se encontraram, Cris fez um sinal para que ela viesse. Enquanto juntava suas coisas devagar, ainda escutou Marcela dizer:
- Pense bem na minha proposta.
- Vou pensar – prometeu Laís sorrindo.