OFFICE BOY

Era o jogo da sedução!

O braço dela, liso, de pelos alourados, sustentava uma mecha de cabelos que, para ele, cheiravam dor.

Por quantas vezes o ‘me mostre esses seios que espiam o mundo com tanta naturalidade e segurança!’ suplicara para dentro de si.

Ele, inexperiente em sua adolescência.

Ela, extremamente erótica. Quase incerta mulher.

...E a visão do braço dela, liso, de pelos alourados, sustentando uma mecha de cabelos que, para ele, cheiravam dor.

O mundo era só silêncio em suas lembranças! A máquina copiadora já não irritava e seus apitos emudeceram pela inutilidade. O corredor totalmente deserto. A parede branca. A filha do patrão... a TENTAÇÃO!

Ele não entendia absolutamente nada de jogos passionais. Não sabia nada que não fosse timidez, refletida na face coberta por acne, óculos e promessas...

Atrapalhado, um dia, deixara pacotes de papéis espalharem-se pelo chão, bem aos pés da patroinha, e, desastradamente, abaixara-se, quicando entre mesas, estantes e cestos de lixo que teimavam em atravessar seu caminho menos pacífico que para todos os simples mortais. Entre ganir, fincar a cabeça num imaginário buraco e desmanchar-se em febre palustre que lhe queimava as entranhas, não se obstinara a erguer-se, permanecendo naquela posição ridícula, entregue aos formosos pés da sua diva de pernas vigorosas e singulares.

Sentira um vazio no estômago... Não era vazio! Eram náuseas. Repente de gravidez: estava em trabalho de parto, gerando timidez e paixão.

Sentira o cheiro que emanava do vértice daquelas pernas muitíssimo próximas, quentes, esguias, belas e colossais. Sentira uma mão iluminada tocar a sua, ao pegarem a mesma folha de papel.

Sentira... o frêmito... dorido... do toque

Sentira-se eternamente perdido, naquele brevíssimo momento

‘_ Fica!?’

Ouvira tal discurso?

Se ouvira não saberia dizer com precisão. Se ouvira não definira nele sugestão ou súplica. Era uma ordem imperiosa, acrescentada de um sorriso de envolvência extrema.

Ficara!!!

Arranjara milhões de cópias gestadas no instantâneo e improvisado ardil.

Pura transpiração, experimentava agora o silêncio do escritório deserto, quando o coração latejava-lhe em cada milímetro de corpo. E o desejo, apesar de não se pronunciar no vão das pernas trêmulas, encontrara aconchego em seu ventre contraído de arrepios.

Ficara.

Fincara raízes no piso encerado e impassível do escritório deserto!

E a patroazinha, com a mecha sustentada pela mão não ficara... Escarnecera dele. No outro dia, todos no escritório saberiam que fora ridicularizado pela patroazinha... ou por seus ouvidos moucos pela paixão adolescente.

Daí que lhe vieram arroubos de violência: Boca seca. Língua amarga. Lápis quebrado. Mesa agredida. Sangue nos olhos. Elevador. Térreo. Rua. Liberdade(?).

O vento abafado lhe bafeja na cara contrita e traz o cheiro da prostituta da esquina escura. As ventas abrem-se, de cio.

Não demora muito e o gosto de fêmea mata o gosto de amor em estocadas curtas, viris, virulentas e extremadas, sentindo... o frêmito... dorido... do toque

Voltar para casa. “Corujão” pequeno demais para tanto... Melhor caminhar, compartilhando as frustrações com as lobas doidivanas das esquinas.

“Neste protesto surdo e violento,

Me convenço, me confesso,

Sendo seu

Pelo que tenho de felicidade,

De tristezas e

De insuficiência,

Ante as minhas impressões de amor.

_ Quanto cansa transportar o nada!”