PEQUENA BASTARDA

Ela pousa os cotovelos sobre o balcão e fica me encarando . Não pede nada , mas acompanha o movimento do cigarro que levo a boca . Murilo o cara do outro lado do balcão pergunta o que vai ser . Ela aponta para mim e diz :

- Quero ele .

Esta sentada a no máximo 5 metros , Murilo vem até mim arrastando um copo pela metade de gim e passa o recado .

- Eu ouvi .

Digo .Ele vira o copo .

- Mas não tenho dinheiro para ela essa noite .

- Não esquenta , eu lhe empresto a grana .

Diz ele . Claro , tudo que ela precisava nessa noite era um membro pulsando dentro de si , dinheiro e cheiro de homem no seu corpo .

Sobre a cabeça calva do meu agiota o relógio faz tic tac , são onze e meia da noite , as mesas do lado de fora , quatro delas , estão cheias , no lado de dentro só eu e a garota , seus fios de cabelo quase laranja caídos sobre os olhos claros , o vestido que parece ter sido feito a mão aproveitando uma toalha de mesa florida cheira a amaciante , e quando caminha até mim o faz cambaleante , até que tropeça nas próprias pernas e vai ao chão , graciosa e louca , os pés calçam sandálias de couro trançado , estão gastas . Ela murmura qualquer coisa e o murmurar se confunde com o barulho do freezer logo atrás de sua cabeça .

- Talvez devesse ajudá-la .

Fala Murilo esfregando o balcão com um trapo velho .

Termino meu uísque e acendo outro cigarro . Paro ao lado da garota que tenta se levantar , não sei dizer se esta bêbada ou triste além de ser louca . O vestido sobe e mostra sua calcinha rosa , me abaixo e cubro suas pernas . Quando a levanto o faço de um impulso , é leve e desengonçada como uma boneca de pano . Ela puxa o cigarro da minha boca , laça-o com seus dedos , com suas unhas pintadas de esmalte preto gasto . Seus pulsos , noto que estão arranhados , tentativa ordinária de suicídio , ela não queria morrer , assim como tantos outros só estava cansada , ferrada e precisando descarregar . Chorar já não resolvia mais nada e finalmente havia aprendido . E depois disso , só mais do mesmo ... mais do mesmo ...

02/04/2015

14h14m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 02/04/2015
Código do texto: T5192555
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