Café

Acordei.

Olhei pro lado e ali estava você. Dormindo como um anjo, em meio àqueles lençóis brancos, que escolhemos juntos quando aluguei meu apartamento, você me ajudou com a mudança. E agora, te olhando assim, parece que olho pela primeira vez. Sua barba por fazer, como no dia em que nos conhecemos, e essa sua touca azul, seus óculos no criado mudo, ao lado do abajur, junto ao livro que te dei de presente no seu aniversário. Você sempre gostou de uns escritores esquisitos e histórias complexas demais pro meu gosto, enquanto eu leio romances clichês e meia-boca, eu sempre amei isso em você. Sempre tão culto, sempre me ensinando algo, direta ou indiretamente. As delineações do seu corpo, sempre tão definido, sempre me encaixei tão perfeitamente a ele, como se eu tivesse nascido para estar ali, para estar protegida por você.

Te olhar, te olhar e te olhar. Eu nunca vou me cansar de te olhar. As pequenas rugas no canto dos seus olhos que aparece toda vez que você ri. A covinha na sua bochecha toda vez q você dá aquele meio sorriso tímido.

E então você acorda e olha pra mim, sorri pelo canto da boca e me puxa pra mais perto. Quem se importa com o mau hálito matinal?! Você me dá um beijo e diz pra eu não me levantar, porque você já vem. Levanta da cama e eu conto cinco minutos no relógio... você aparece com uma xícara de café e uma torrada nas mãos. Nós nunca ligamos pra pratos e bandejas. Nós nunca ligamos pra nada além de nós.

Tão poucas as vezes que as palavras "eu te amo" foram ditas, mas sempre tão explicitas em nossos atos. Eu sei que agora, segurando essa xícara e me olhando você diz isso, e eu, te olhando de volta, enquanto sopro meu café, só consigo pensar no quanto eu preciso de você aqui.

Espero que você consiga ler nos meus olhos. Eu amo você.