MEU AMOR EU TE PROMETO... FINAL

_Senhor Felipe Mansuri, meu nome é Guilermano Mendes, sou advogado e tenho uma excelente notícia para o senhor. Me ligue neste número e me encontre as dez horas na galeria de artes do centro."

O número estava gravado na bina. Eram nove e cinquenta e não havia tempo a perder. A galeria ficava a um quarteirão de distância do prédio em que ele morava. O elevador chegou ao primeiro toque. Parecia até um sinal.

A galeria de artes estava quase deserta a esta hora. Não havia esposição em destaque. Apenas algumas obras vendidas na última esposição ainda aguardavam que seus donos viessem buscá-las. Felipe andou por duas das alas da exposição e por fim encontrou a recepcionista, uma jovem de uns vinte e oito anos, que lhe disse que havia um homem esperando na última ala. Dirigindo-se para lá o rapaz encontrou o homem que se apresentou logo a Felipe.

_Olá, sou Guilhermano e o senhor é o Felipe?

_Sim, sou Felipe. O que o senhor tem a dizer-me?

_Sou representante de um tio seu. Ele deteve por alguns anos a posse de uma fazenda localizada aqui nesta cidade. Vendeu a propriedade e mudou-se com a família para a capital de Minas Gerais onde se tornou muito rico. Sua esposa morreu este ano sem lhe deixar nenhum herdeiro. Seu tio está com os dias contados pois tem uma doença gastrointestinal que lhe causou um cancer. Ele me encarregou de lhe entregar esta carta.

Felipe pegou a carta da mão do advogado, abriu o envelope com muito cuidado e começou a ler. A carta dizia:

"Caro sobrinho Felipe.

A sociedade nos faz acreditar que para ser feliz é preciso ter dinheiro. Eu não medi esforços para adquirir a fortuna que angariei pela vida. Fui capaz de atos dos quais me arrependo muito. Abandonei você para usufruir de uma coisa que não me pertencia. Hoje parece que Deus me castiga severamente. Estou doente sobrinho. Muito doente. Tenho poucos dias de vida e não tenho outros herdeiros além de você.

Acredite, você tem mais direito sobre o meu patrimônio do que qualquer filho que eu tivesse tido. Quando meu pai morreu, deixou apenas eu, você e minha irmã. Meu cunhado sumiu no mundo, mas lhe dissemos que ele havia morrido. Ele foi embora porque eu e meu pai não gostávamos dele. Ele nunca soube que você existe. Quando sua mãe teve você, foi uma desgraça para nós. Meu pai nunca o aceitou como neto por causa de seu pai. Você foi registrado com o nome de seu pai porque sua mãe o registrou, porque pelo meu pai você seria registrado sem pai. Procure por ele que ele vai ficar muito feliz em conhecê-lo. Ele é dono de uma marca de roupas que ele mesmo criou na capital. Deixo o endereço dele abaixo. Para meu pai a questão da pobreza era uma ofensa. O seu nascimento foi o inicio de muitos problemas de saúde de sua mãe. Ela me odiou o resto de sua vida pela perda do seu marido. Condenava eu e meu pai pelo sumiço dele. Você me incomodava só com sua presença. Te suportei apenas enquanto ela era viva. Quando ela morreu mandei você para um orfanato e para que nunca me oferecessem você de volta, vendi a fazenda e me mudei pra Minas Gerais. Meu pai deixou a fazenda pra mim e sua mãe. Então você também tinha o direito de herdá-la. Mas eu, com meu preconceito maldito neguei-lhe este direito.

Minha esposa morreu recentemente de uma doença cruel que lhe deu muito sofrimento. Antes de morrer ela me pediu que procurasse por você. Que lhe desse seus direitos de volta pois o castigo, que era pra mim, tinha ido pra ela. Seu sofrimento parece ter sido pouco, pois para meu pesadelo, veio minha doença. Filho eu não quero morrer sem receber de você seu perdão. Fiz da sua herança algo muito maior pra você. Roubei-lhe parte de uma fazenda e me privei de ver você crescer. Mas estou lhe devolvendo muitas fazendas em troca. Seja feliz mas por favor me perdoe. Venha me ver.

Abraços de seu tio Edigar."

Quando terminou de ler a carta as lágrimas escorriam de seu rosto. Chorava convulsivamente como uma criança. Felipe não podia acreditar em tudo aquilo. Não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Por muito tempo acreditou que era uma peste que ninguém queria. Foi abandonado por seu tio Edigar. Jogado em um orfanato e espulso de vários sem que ninguém lhe dissesse o que ele queria ouvir dos adultos: "Você é só uma criança e te amamos com seus defeitos"

Nunca fora feliz antes de conhecer o amor de Sayumi. Agora estava convicto de que tudo seria melhor, mas fora privado de conviver com sua família. Nunca perdoaria seu tio Edigar. Seu pai não sabia de sua existência. Um dia procuraria por ele e lhe daria tudo que ele merecia receber do filho que lhe negaram.

_E então, jovem Felipe, pronto para mudadr de vida?

_Como assim?

_Há uma herança incalculável esperando pelo senhor em Minas Gerais.

_Sério mesmo? Ele não mentiu na carta?

_Não. Ele é muito rico. Ou melhor, o senhor é muito rico agora.

_E ele?

_Morreu antes de encontrá-lo.

_Não quero ir pra Minas Gerais.

_Tem que tomar posse da sua herança mas depois o senhor decide o que fazer.

_Tenho algumas coisas a fazer aqui antes.

_Tudo bem. Entre em contato comigo e partiremos quando o senhor quizer.

Sayumi recebeu um bilhete de Felipe pedindo pra encontrá-la no lugar sagrado para os dois. Fazia três dias que não recebia notícias dele.Ela sabia que o lugar era esse. Tinha muitas novidades pra contar para Felipe. Recebeu por um mensageiro uns papéis dentro de um envelope dois dias antes e ao abrir ela viu que eram contas e mais contas da fazenda, inclusive a hipoteca vencida. Tudo estava pago. Ela nem imaginava quem fizera isso mas estava aliviada porque a fazenda não passaria pra estranhos, por causa de dívidas. Agora estava ali esperando por Felipe e pensando porque ele demorava tanto?

Felipe chegou atrás de Sayumi e tapou seus olhos. Sem ver nem ouvir a sua voz Sayumi o reconheceu apenas com o toque de seus dedos e seu cheiro.

_Senti saudades de você.

_Eu também!

_Alguém pagou as dívidas!

_Eu sei. Tenho muito a lhe contar. Mas primeiro me beija que a saudade de seus beijos esta me sufocando.

Naquele beijo Felipe lhe transmitiu um prenúncio de felicidade. Sayumi ainda não sabia, mas ela seria a rainha de um lar com o qual Felipe sempre sonhara. Ele agora podia lhe dar esse lar. Poderia lhe agradecer por tudo o que ela lhe fez. Inclusive por te-lo ressucitado. Trazido de volta a vida. Ela estava em seus braços e ele agora não pretendia perdê-la de vista nunca mais. Queria ver esse recanto com muitas crianças correndo por ai a solta, como ele e Sayumi correram na infancia. Faria dali um lar para crianças abandonadas e tinha certeza de que ela adoraria a idéia. Comprara a antiga fazenda da sua família e uniria as terras das duas fazendas para que as crianças tivessem um espaço muito maior. A fazenda das crianças seria um exemplo a ser seguido no mundo.

FIM.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 19/03/2015
Reeditado em 23/03/2015
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