O caminho da felicidade - Final

Segunda feira amanheceu especial pra mim. Dia de sol e alegria em casa. Tininha respondia bem ao tratamento e vislumbrava sombras. Evilásio entrou em contato com uma instituição para deficientes de São Paulo, para conseguir acompanhameno para ela a conselho dos médicos. Teria alta do hospital e precisaria desse acompanhamento. Fui pra escola e encontrei o pessoal alvoroçado. Haveria um aluno novo na escola. Quem seria ele?

Entramos na sala de aula naquele dia e ficamos esperando o diretor o Sr Jordano, com a apresentação do aluno novo. O terceiro ano estava assanhado. As meninas principalmente.

Quando ele entrou na sala meu coração acelerou. Era o Quelé. O diretor fez as apresentações de praxe e se retirou. A professora de química perguntou ao Quelé se ele queria dizer alguma coisa e ele então, numa linguagem clara e precisa , educadamente se apresentou:

_ Bem pessoal. Como o diretor fez questão de dizer, meu nome é Tanaku, mas espero que me chamen de Quelé. Quando cheguei aqui na sua cidade, encontrei uma pessoa que me mostrou tudo. Ela se mostrou uma pessoa muito especial e acho que eu estou amando-a de verdade. Quero que saibam desde já, que tenho uma namorada ,mas pretrendo respeitá-la muito e que a aula pra mim é coisa séria. Seu nome pra vocês é Doca. E me jogou um beijo. Sentou-se onde foi indicado e a aula começou. Não fez mensão de olhar pra trás. Eu também não olhei muito pra ele. Prestei atenção na aula como nunca. Aprendi mais de química como a muito tempo não aprendia.

O sinal do recreio bateu e Quelé saiu primeiro que eu. Quando cheguei ao pátio ele já estava com dois lanches na mão. Me entregou um e foi logo perguntando pela Tininha. Dei-lhe as notícias e ele então me falou que a fundação deve ser a Fundação da família dele. Se responsabilizou em arranjar alguém pra acompanhar a Tininha em casa. Fiquei muito feliz. O recreio terminou e voltamos pra aula. Ele apenas segurou a minha mão pra entrar na sala. O toque de sua mão na minha, parecia ferver. Indescritível foi a sensação de tocar sua pele.

Quando o sinal bateu para irmos embora ele me acompanhou até em casa. Entramos e então ele falou com minha mãe.

_Senhora dona Lúcia, venho aqui pedir que autorize-me a namorar sua filha Doroteia. Acredite que tenho as melhores intenções para com ela. Saberei esperar até que se torne maior de idade para casar-me com ela. Saberei respeitá-la em cada minuto do tempo em que estivermos juntos. Seu nome será honrado no que depender de mim.

_ Nossa mãe do céu menino! - respondeu minha mãe – Você é sempre assim tão formal? Mas gostei muito de sua atitude. Tenho notado que minha filha esta melhor a cada dia que passa ao seu lado. Sendo assim consinto porque sinto que posso confiar em você. Sou viúva e sozinha para cuidar de meus filhos, mas não pretendo afrouxar a educação deles. Sei que os jovens gostam de se beijar. Mas espero que façam isso dentro desta sala. E não pela rua.

_ Concordo com a senhora. Intimidades são para se ter dentro de casa. Mas sei exatamente até onde posso chegar. Sua filha é menor de idade e eu tenho muita responsabilidade. Pode confiar.

Minha mãe gostara muito dele por causa da atenção que nos deu enquanto estávamos no hospital. A mulher que iria acompanhar Tininha já entrara em contato. Chegara em casa de Quelé e ficaria lá até não ser mais necessária.

Quelé ficou uma hora na minha casa. Ele ligou pra família avisando, fez as tarefas de casa comigo e depois foi para casa dele. Conversaria com a familia dele e falaria que já tinha um compromisso com alguém. Eu não era ninsei como ele, mas era valorosa e seus pais aprovariam com certeza. Japonês tem uma só palavra. Seu pai já lhe cobrara um namorico pelo menos. Agora estava acontecendo.

Quando amanheceu sai de casa para ir a padaria e encontrei no portão um Bem-te-vi morto. Não entendi na hora mas quando voltei da padaria investiguei. A pobre ave tinha um chiclete preso no bico. Morrera de inanição. Revoltei-me. Porque as pessoas fazem essas coisas? O lixo deve ser jogado na lixeira. Era por isso que aquele pássaro não conseguia cantar direito.

Quelé viera me buscar para irmos a escola. Fica perto da nossa casa mas ele fazia questão de me levar todos os dias. Contei a ele sobre o pássaro e então ele teve a idéia de contarmos o que aconteceu na sala de aula. Quem sabe assim impediríamos que acontecesse a outro animal.

A turma ficou triste com a história do Bem-te-vi. Resolvemos fazer o plebiscito logo. Aqueles pássaros corriam risco de vida no meio de pessoas que não sabiam nem descartar o lixo direito.

Minha mãe foi trabalhar e eu fiquei por conta da Tininha a tarde. Quelé, como sempre veio fazer as tarefas comigo. Quando acabamos, ele me olhou e chegou bem perto de mim. Demos aquele beijo de novo. Quase desfaleci. A sensação é maravilhosa. Dá um calor no coração indescritível. Ficamos nos beijando por uns dez minutos entre intervalos. Como ele é carinhoso! Abraçou-me com carinho e disse:

_Minha futura esposa!!!

_Sou muito nova ainda!

_ Eu sei. Saberei esperar.

Despediu-se de mim e foi para casa cuidar da avó.

O plebiscito aconteceu alguns dias depois. Ficou decidido qu as árvores sairiam do pátio da escola. Faríamos um lindo jardim em seu lugar. havia muitas árvores pela cidade no parque. Os ninhos seriam cuidados antes.

Hoje fazem tres anos que conheci o Quelé. Ele continua o mesmo. Não avança o sinal, me respeita muito. Me trata com carinho. Um cavalheiro em todos os sentidos.

Tininha se recuperou do acidente e aprendeu uma lição: nunca mais correu no recreio. Estamos com casamento marcado para daqui a uns dois meses. Tenho muito que preparar.

Os pais de Quelé vão voltar para o Japão depois da cerimônia. Eu e Quelé cuidaremos da avó. A avó e a mãe dele me ensinaram muitas coisas da cultura japonesa. Uma delas eu já sabia. Meu marido é o meu senhor. Ele se faz respeitar . Me conquistou com seu modo peculiar de ser. Perdi o vício da leitura. Agora leio nas horas vagas livros da faculdade, e os livros para diversão, sem muita frequencia. Passei com louvor em todas as diciplinas no ensino médio e comecei a fazer faculdade. Estou quase terminando. Vou ser engenheira eletrônica em breve. Me tornei uma pessoa melhor. Aprendi a cuidar de tudo com amor e disciplina. Entre todos os caminhos que eu buscava nos livros, para encontrar a minha felicidade, não achei nenhum que se compare a este. Descobri o verdadeiro caminho para a felicidade ao lado do Quelé. Foi ele quem me ensinou que para ser feliz é preciso ser alguém primeiro. Não é se anulando. Ser feliz depende de cada um de nós. O amor me tornou terna e pasciente. Obediente e caprichosa com minhas tarefas. Buscar a felicidade em livros ou em outras coisas supérfluas nunca me fizeram realmente feliz.

E agora eu sei que ter Quelé a meu lado,ver minha família tranquila, amigos que me amam de verdade pelo que eu sou, e respeito a tudo que minha mãe me ensinou e a cultura da família a qual agora pertencerei, mais a possibilidade de crescer profissionalmente, para mim é o caminho para a minha felicidade.

Fim.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 13/02/2015
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