O caminho da felicidade - Cap 3

Fiquei conversando com Quelé muito tempo. Nem vimos a hora passar. Contei a ele sobre a minha irmã. Ele me contou sua vida interia até ali. Tínhamos mesmo muitas coisas em comum.

Ele me explicou que o apelido Quelé viera de uma palavra que ele sempre repetia quando vieram do Japão. Não sabiam falar Português muito bem e tudo que perguntavam a ele se queria, ele respondia "Quelé" em vez de"quer." Seu nome verdadeiro era Tanaku e ele provavelmente seria vítima dos estudantes daqui se os funcionários do pai não o houvessem apelidado de Quelé. Gostou tanto do apelido que o adotou como nome. A família ainda o chama de Tanaku mas em menor escala que antes. Sonhava com o dia em que todos o chamariam de Quelé. Pedira ao pai que trocasse o seu nome mas ele dissera que tinha um significado muito especial e ele desistira.

Quando cheguei em casa não havia ninguém. Resolvi dar uma forcinha a minha mãe. Limpei e organizei a casa. Fiz uma sopa bem gostosa e pus em ordem as contas para serem pagas no dia seguinte. Levei dinheiro do Pato de louças no bolso e parti para o Hospital. Comi um pouco e levei um pouco de sopa para minha mãe e o Evilásio.

Quando cheguei ao hospital minha mãe estava cochilando em um sofá na recepção. Não tínhamos dinheiro para internar Tininha em quarto particular mas ela estava sendo atendida na UTI. Os aparelhos eram por conta da patroa da minha mãe. O marido dela era quase dono do Hospital e assim era fácil pra ela assumir as despesas. Minha mãe acordou e ficou encantada com minha sopa. Na verdade ela nem sabia eu eu saberia fazer sopa, quem dirá uma sopa gostosa. Comeu e gostou muito. Elogiou e disse que eu estava crescendo. uma moça responsável e que tinha orgulho de mim. Quase chorei, porque só então parei pra pensar em quando eu deveria ter ajudado minha mãe antes de acontecer tudo isto.

O médico chegou e disse que a Tininha estava com os olhos abertos, mas ainda não demonstrava nenhuma melhora efetiva. Mas isto poderia ser um sinal de melhora. A gente poderia vê-la só um pouquinho. Fomos e ficamos olhando pelo vidro. Ela parecia estar sonhando com os olhos abertos. Ela respirava sozinha e por isso retiraram ela dos aparelhos e a levaram para uma enfermaria. Agora um de nós poderia ficar ao lado dela. Na hora da visita todos poderíamos ir vê-la.

Quando saí do quarto em que a minha irmã estava encontrei o Quelé. Ele viera lhe fazer uma visita de cortesia. Eu o levei até ela. Muito educado se apresentou a minha mãe que o adorou.

_Um cavalheiro!! - Exclamou quando ele se foi.

Fui pra casa cuidar das coisas. Dinorah estava sentada na porta da sala. Ela não podia entrar no hospital porque era muito franzina e a idade não permitia. Perguntou pela Tininha e eu disse que ela estava no quarto agora. Perguntei se havia tomado sopa e ela disse que sim. Em seus dez anos de idade as vezes ela parecia mais madura que eu. Ninguem havia se lembrado dela e ela se virara sozinha. Foi pra escola e voltou sem ninguém mandar. Comeu a sopa e lavou o prato e talheres. Senti-me envergonhada pelas minhas atitudes alienadas de antes. Abracei a Dinorah e choramos juntas em silêncio. Tudo vai passar. Ja estava passando.

Marquei de encontrar o Quelé na praça a tarde. Depois de pagar as contas vencidas e guardar o troco no pato, saí para o encontro. Quando me viu ele se levantou do banco e veio ao meu encontro. Desejou boa tarde e educadamente me ofereceu um sorvete. Aceitei e fomos tomá-lo no mesmo banco.

_ E então? Noticias da sua irmãzinha?

_ Parece que ela está bem. Só não fala ainda. Vão fazer novos exames hoje a tarde.

_ Se precisar de alguma coisa é só falar. Falei com meu pai hoje e ele se mostrou muito solícito. Ofereceu ajuda.

_Obrigada. Agradeça a ele por nós. Por enquanto não precisamos.

_Este fim de semana vou a São Paulo. Temos uma fundação por lá. Eu ajudo como posso as pessoas deficientes. Vai ter uma cerimônia e temos que estar presentes.

_ Diante da minha cara de tristeza ele disse:

_Volto logo! Prometo!

_ Minha mão estava sobre o banco e eu segurava o sorvete com a outra mão. Ele a segurou e olhou em meus olhos dizendo:

_ Doca, quer ser minha namorada?

_ Fiquei vermelha. Não sabia o que dizer. Não esperava por essta.

Então ele soltou minha mão depressa.

_Desculpe-me . Fui muito rápido não é?

_Não. É que eu nunca pensei em namorar ninguém antes.

_ Nunca namorou?

_Não. Só tenho quinze anos. Nunca pensei nisso.

_Não gosta de mim?

_Muito. Atpe demais.

_ Então me aceita como seu namorado?

Fiquei vermelha e respondi:

_Sim. Não sei se saberei namorar. Nunca beijei ninguém. Será que sei beijar?

_Vamos descobrir...

Ele se aproximou de mim devagar e eu não reagi. Beijou-me nos lábios e eu senti uma coisa muito estranha dentro de mim. Uma sensação de calor no coração, um frio na barriga e uma vontade de beijá-lo de novo.

_Viu, não foi tão difícil assim, foi?

_Não. Não foi.

Aqueles olhos negros pareciam me tragar para o fundo a alma dele. Me abraçou e eu senti que agora eu era realmente a namorada dele. Fazia dois dias que eu não lia nada. Achei que eu estava curada.

Não sentia a necessidade de viajar para mundo nenhum. Meu mundo era muito melhor do que um planetinha de outra galáxia onde vivia um menino ingênuo.

Quelé me levou pra casa a tarde. Fui tomar banho e me arrumar para voltar ao hospital. Tinha que tentar fazer minha mãe voltar pra casa e descansar um pouco. Ele me esperou me arrumar e me levou pro hospital de carro. Era um modelo lindo. Quando ele fez dezoito anos, no começo do ano, o pai lhe dera de presente. Ele era baixinho mas já era maior de idade.

Ao chegar no hospital o clima não estava bom. A Tininha estava bem só não estava enxergando nada. Era por isso que ela não falava. Achava que era noite. Agora, ouvindo as vozes de quem estava perto perguntou a minha mãe porque estava escuro. E tudo ficou claro para os médicos. A tomografia revelou um inchaço no Lobo Occipital do cérebro dela. Provavelmente houve uma pancada muito forte com a queda no recreio. Não se sabe se isso será revertido mas os médicos acreditam que há esperança.

Quelé viajou pra São Paulo. Nunca me senti tão sozinha. Nem consigui ler. Fechava os olhos e sentia aquele beijo. Nem nos beijamos depois daquele dia. Ele é muito respeitador. Dissera-me que queria tudo certinho. Deixaríamos as coisas se acertarem e depois veríamos tudo como manda o figurino. Ele queria falar com minha mãe primeiro. Não queria que nos vissem nas praças e ruas com intimidades. Que fofo!!!

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 13/02/2015
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