O caminho da felicidade cap 2
Um Leitor Como Eu
O dia Amanheceu mais bonito na quinta feira. O pé de algodão de frente a janela parecia ser feito de algodão doce. Vários floquinhos ente cacholas reluziam sua brancura no sol. As crianças passavam em frente a nossa casa em direção a escola. O Duque latia furiosamente contra os mais atentados, que mexiam com ele através da velha cerca,que está caindo aos pedaços. Ele só não corria atrás deles porque estava amarrado ao pau que sustentava o varal de estender roupas, no fundo quintal. Ele era muito grande e se estivesse solto pareceria um pouco mais assustador. Mas amarrado assim, não passava de um vira lata com mistura de várias raças. Um labrador talves, misturado com policial e enraçado a vira. Ele era meu melhor amigo. Era eu quem o levava para dar passeios no parque, mas depois que ele cresceu, fico com medo dele fugir e atacar alguém, e quem o leva pra fazer suas necessidades hoje em dia é o Evilásio. Hoje porém fiquei encarregado dessa tarefa e depois da aula vou chamar alguém pra fazer isso comigo.
Cheguei atrazada na escola. A 1ª aula era de História e a professora não vai com a minha cara até hoje. Ela me deixou entrar mas exigiu que eu copiasse toda a matéria e só então fosse para o recreio. As duas primeiras aulas eram dela. Fiquei copiando a matéria e nem senti falta do recreio. Mas meus amigos lembraram de mim e vieram me ver. A Gina me trouxe um sandwiche natural. Ela é fissurada nestas coisas. Mas tava muito bom. O Godô trouxe um refri de Uva. Estava com fome e comi e bebi com pressa. Eles me ajudaram a terminar de copiar enquanto eu comia. O resto eu terminei de copiar rápido. Antes do recreio terminar, já tinha acabado. Saí pra ir ao banheiro e o sinal tocou. Demorei mais do que o previsto no banheiro e quando voltei, pensei que iria ter problemas, mas encontrei uma grande confusão no pátio. Uma grande roda encobria a cena. Alguém correra mais do que o necessário e batera de frente com outro aluno. O choque fora fatal. uma menina do 1º ano estava desmaiada em estado grave. Já haviam chamado a ambulância e ela já deveria estar a caminho. Ninguém me disse quem eram as crianças. Não pude ver. Soube que era uma menina e um menino que tinham se chocado e só.
Não houve mais aula naquele dia. Todos foram liberados. Havia a possibilidade da menina ficar com problemas. Fui procurar a Tininha para levá-la pra casa. Ela só tem 7 anos e por isso depois do acontecido resolvi protegê-la um pouco. Eu sou a irmã mais velha e devo cuidar dos meus irmãos. Não achei a Tininha. Achei que ela já deveria ter ido embora. Ela sempre vai sozinha pois moramos perto da escola. Fiquei sentada na escada que da acesso ao pátio de cima da escola "Gal Severo Gomes de Freitas" e observei que os pássaros estavam muito agitados. O Bem-te-vi cantava mal sem abrir o bico. Estranhei. Os outros pássaros estavam normais. Aquele pássaro no entanto não saiu da minha cabeça. Peguei o livro com o Alexandre e voltei a ler despreocupada. Minha mãe não sabia que não haveria mais aula pra mim e por isso podia ler. Li o resto do livro e me deu um ódio danado daquela cobra. A inocência do menino e a maldade da cobra são como a maldade dos seres humanos. Alexandre não saiu da escola também. Alguma coisa o prendeu ali. Ele me olhava mas não dizia nada. Quando terminei o livro e o devolvi pra ele, acompanhou-me de volta a casa. Quando cheguei em casa ele me disse com a voz muito pausada:
_ Doca, Não se preocupe com a Tininha. Ela esta melhor do que voce.
De repente tudo ficou claro pra mim. Era a Tininha a menina do recreio!!!
_ Onde está ela?
Ele disse:
_ No hospital "N S das Graças."
Saí correndo pela rua e fui parar no hospital. Na porta havia grande confusão. O tal menino estava mal mas respirava e a menina ninguem disse nada.
Entrei correndo e perguntei ao médico:
Onde está minha irmã?
Ele me olhou com uma cara muito triste e só respondeu:
_Sinto muito!
Comecei a chorar feito uma louca e o desespero foi tanto que a minha professora de História até me abraçou. Logo ela que não me suporta.
Pensei que minha irmã estava morta mas ela só tava em coma. Não sabiam que sequelas haveria de ter, por causa do choque. Engraçado é que ninguém viu o choque dos dois. Quando viram eles já estavam no chão. Na hora do recreio... Isto é um bocado estranho não é?
Voltei a escola que fica ao lado do hospital. Os Bem-te-vis faziam arruaça no pátio da escola, entre duas árvores que temos por lá. Os alunos as plantaram na primavera do ano retrazado e elas agora, grandes, abrigam vários pássaros. Eles até que enfeitam a escola mas fazem tanta algazarra que as vezes até atrapalha as aulas. Há uma polêmica por causa disto na escola. Corta-se as árvores ou não? A maioria dos alunos não tá nem aí pro barulho (eles ouvem música enquanto estudam em casa!!!) Mas os professores ficam chateados com o barulho. Os canários da terra, os pardais e os sabiás não atrapalham muito. Mas os Bem-te-vis e as andorinhas são muito barulhentos. Se houver um Plebiscito para decidir (sugestão de algumas pessoas) é melhor nem perguntar aos serventes da escola, eles andam querendo assar passarinhos de tanta raiva. Os bichinhos sujam tudo. Normalmente eles não chegavam perto da gente. Havia, no entanto um Bem-te-vi estranho que me seguia por toda a parte. Mas eu nunca conseguia tocar nele. Naquela quinta feira, o sol esturricante, prenúncio de um verão ardente, me levou a crer que o bichinho estava com sede. Tentei dar água pra ele mas ele nem se aproximou. Achei que fosse um bichinho domesticado. Mas me enganei. Ele se assustou e fugiu dali as pressas. Não cantava. Fui embora dali.
Sentei num banco da pracinha no "Parque das flores" e fiquei lendo um almanaque que peguei em casa. Minha mãe no hospital nem saberia que eu ando lendo. O Evilásio nem liga pros meus castigos. É um trato nosso. Ninguem dedura ninguém. Enquanto eu lia as piadinhas do almanaque alguém se aproximou. Era um menino. Ele nem me viu. Lia com muito interesse um livro bem grosso. Tropeçou no meu pé e caiu em cima de mim. Levou um susto danado. Imagine o meu susto. Ele era muito bonito, tinha os olhos puxados e devia ser nissei ou sansei e eu fiquei sem fala. Ficou estático em cima de mim por uns trinta segundos até se mancar e sair. Mas seus olhos continuaram a me olhar até que eu perguntei:
- O que foi? Tudo bem? Se machucou?
_ Não me machuquei. Está tudo bem. E você?
_ Tudo bem. Quem é você?
_Eu sou o Quelé. Todos me chamam assim. Na verdade tenho outro nome mas não gosto dele. Mudei pra cá ontem e ainda não conheço ninguém aqui nesta cidade.
_Vai gostar daqui. É um lugar pequeno e todos se conhecem. Eu me chamo Dorotéia e detesto este nome. Todos me chamam de Doca. Muito prazer. To vendo que gosta de ler. Também é o meu passatempo preferido.
_ O prazer é meu, mas gosto de ler literatura boa. Os almanaques não me atraem.
_ Nem a mim KKKK. Sou viciada em leitura e, como não tinha nada pra ler, peguei isto. Mas tem algumas coisas bem interessantes.
_ Também sou viciado em leitura mas consigo ler quando tenho tempo. Não morro se não ler. Apenas aproveito meus momentos de laser pra ler.
_ Onde está morando agora?
_ Chama-se rua Aparício Alvarenga Drumond nº 135.
_ Ah ja sei! Aquela casa que estava em reforma.
_ Sim meu pai mandou reformar depois que comprou. A familia toda veio morar aqui pra cuidar da minha avó que já é idosa e não tem mais muita saúde.
_ Moravam onde antes?
_São Paulo. Meu pai tem indústrias de eletrônicos por lá.
_ Legal! Vou te apresentar minha turma. Vai estudar na minha escola, eu acho.
_ Não. Meu pai não gosta do ensino brasileiro. Tenho professores que vem administrar aulas em casa.
_ Pena, você iria adorar. Porque não se matricula apenas pra fazer amigos? Iria tirar de letra as matérias e as amizades não tem preço. Tenho certeza que teremos muito a aprender com você e vice versa.
_ Pode ser. Vou conversar com meu pai. Já fiz isso antes. Foi muito enriquecedor.
cont.