Pobre coração

Era uma noite de muito calor e Pablo não conseguia relaxar. Sua esposa estava trabalhando a noite na Escola naquele dia, e ele aguardava ela chegar deitado no sofá assistindo televisão. O ventilador não vencia o calor naquela noite. Quando seu telefone tocou com o número de Leila, pensou que fosse ela pedindo que fosse buscá-la mas não era:

_Oi! Boa noite! Você conhece a dona deste celular?

_Boa noite! Sim. É minha esposa.

_Sinto muito, mas sua esposa sofreu um acidente. Um atropelamento.Você pode vir aqui na rua próxima da escola?

_Como ela está?

_Sinto muito, mas ela não resistiu.

_?!?...

Pablo desligou o telefone e saiu correndo de casa. Pegou a moto e correu em máxima velocidade. As lágrimas corriam-lhe a face sem que ele tivesse controle sobre elas. Nem viu o caminho e já estava lá, ajoelhado no chão ao lado de sua esposa. Ela estava como quem dorme. Não havia sangue pelo chão ou feridas expostas. Segundo as pessoas que estavam ao redor o carro arremessou-a para longe quando ela atravessava a rua, um tanto distraída.

Pablo abraçava a esposa morta e dizia em alta voz:

_Você não pode me deixar. Não!!! Volta pra mim. Eu não tive chance de dizer o quanto te amo. Eu não posso viver sem você. Eu só te fiz sofrer. Eu não pedi perdão pelas mentiras, abandono, grosserias, eu não me esforcei para te fazer feliz e agora você se foi... Me perdoa. Eu queria poder voltar atrás. Eu te amo!

Ele estava no chão, chorando junto ao corpo gelado e imóvel de sua esposa. As pessoas se aglomeravam e observavam o sofrimento dele. Pablo ficou abraçado a ela pensando em todas as vezes que ela o abraçava pelas costas quando estavam juntos no chuveiro. Ou quando ela entranhava os dedos finos em meio ao seu cabelo deixando-o arrepiado. Ou quando sentia o perfume suave e adocicado de Leila. Ah! Como ele gostava de sentir seu cheiro ao sair do banho, ou de vê-la se arrumando para sair. Não teria e nem sentiria isso nunca mais. E a dor maior é que ele sabia que só fez o pobre coração de Leila sofrer. Não valorizava, não elogiava nada nela, pelo contrário, só criticava, discutia, xingava, brigava e agora não tinha como consertar, não tinha mais como fazê-la feliz, pois ela se foi para sempre.

Quando ele a olhava ali naquele asfalto sujo, branca, em silêncio e com os olhos fechados ele sabia que não tinha mais volta. Que o carinho que ele podia ter dado ficou no passado, a dedicação, as provas de amor que ele podia ter dado ficaram para trás. Nada mais podia ser feito. Entendeu que ele a perdeu para sempre, e quando a tinha em suas mãos só maltratou, feriu, magoou, enganou e fez seu coração em pedaços. Ele sabia que ela queria amá-lo de verdade, que ela provava seu amor constantemente, que ela demonstrava carinho, mas ele era duro, sisudo não retribuía nada. Apenas maltratava sua esposa e agora era tarde demais, ela se foi. O amor se foi. A oportunidade se foi. E ele ficou só com sua arrogância.

PS: Se você tem um amor, valorize, trate com carinho, dê um amor verdadeiro, respeito, pois você pode perdê-lo(a) e depois que se perde é tarde demais.

Ghane Kelly Gianizelli
Enviado por Ghane Kelly Gianizelli em 12/02/2015
Código do texto: T5135441
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