Curta viagem

Aquele sábado à tarde parecia mais um de muitos. Ora porque o sol vespertino de um verão estava por esconder-se em meio às nuvens que possivelmente haveriam de anunciar uma tão esperada chuva. Esperada por conta da seca, assustadora porque meus meios traziam tamanha vulnerabilidade.

Peguei aquela estrada como já não fazia há muito tempo. A estrada estava pouco movimentada e intensamente acelerava aquelas duas rodas por sobre o asfalto quente. O sol cada vez mais tímido se escondia pelo horizonte. Já passava as quatro da tarde.

O sentimento era de esperança, ansiedade e dúvidas, pois seria arriscar-me novamente. Estava determinado.

Poucas horas depois cruzei a fronteira daquela cidade. Tudo parecia estar como antes. As mesmas casas, as mesmas árvores, as mesmas pessoas? Talvez sim, talvez não...

Tentei conter minha ansiedade em não ir diretamente pra frente do seu portão. Por mais estranho que pudesse parecer, o medo estava a me dominar. Não tinha porquê seguir para outro sentido. Então resolvi conter-me e seguir em frente.

Chegando ao local quase tudo estava como antes. O bairro tranquilo de nome italiano preservava seus velhos ou novos traços.

Seu portão era o mesmo. Parecia que a pintura havia sido sutilmente modificada, mas nada exagerado. Parei no mesmo lugar de costume, sem coragem de me manifestar. Quem sabe enviar uma mensagem ou mesmo num ato de sumo-atrevimento tocar a campainha. Não! isso jamais! O melhor a fazer era esperar. Não sei por quanto tempo, mas esperar...

Passaram-se apenas dez minutos. Minha tamanha ansiedade estava por me elouquecer. Antes de uma reação imediata, vi algo que me chamou a atenção de maneira extrema: um carro se aproximou e parou. Cor prata, empoeirado. Apenas parou mas ninguém desceu.

De repente avistei ao longe seu portão se abrindo: era você! Estava do mesmo jeito que a primeira vez. Olhar simplório, pele clara como a mais branca flor.

Decididamente desceu os poucos degraus, caminhou até o portão. Abriu a porta daquele veículo e entrou. Ali permaneceu por eternos cinco minutos. De repente o carro ligou e vocês saíram.

Feita a volta pela praça abandonada, fiquei aguardando do outro lado. Parei a observar, e quando passaram por mim pude ver o seu olhar. Era a cena de um filme que se repetia, mas dessa vez não esbossei reação. Dei partida lentamente, enquanto observava o automóvel dobrar a esquina.

Segui para a estrada, sentido o mesmo ponto que houvera partido, sob intensos pingos da chuva que estava a se armar horas antes. Tudo estava como sempre esteve.

Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 09/02/2015
Código do texto: T5131785
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