Nosso amor de Primavera...

Era muito tarde pra chegar em casa e eu sabia que minha mãe não ia deixar barato. Sai da escola no fim da ultima aula e fui estudar na casa de uma amiga. Aliás minha melhor amiga. Minha nova melhor amiga. A tarde foi especial. Ela é realmente uma pessoa nota mil.

Parece que estou devendo alguma coisa ao mundo mais não consigo deixar de sentir o que sinto em relação a ela. Resolvi, por causa dela, que capricharei mais nos estudos de agora em diante. Mesmo a matéria que eu detesto que é matemática, tentarei ser a melhor para ajudá-la.

As flores caiam sobre a minha cabeça como se me futucassem e rissem de mim. Achei que estava com cara de idiota. Talvez por me sentir exatamente assim. Não andava, flutuava.

Os bancos da praça pareciam mais bonitos. A grama parecia mais verde e os pássaros cantavam mais lindos do que nunca. Errei o caminho de propósito. Não queria chegar em casa e acabar com a magia deste momento.

Fui parar no cais do porto e as docas me atraiam. Os navios flutuando pareciam um pouco comigo. Eu também me sentia assim. A lua cheia me fez cantar uma canção pra ela." Lua, Óh lua, majestosa cinderela. Desce e vem dançar comigo e assuma o lugar dela. Que meu amor está dormindo e eu preciso tanto dela..." Mas a lua não desceu, eu é que subi flutuando de amor.

Um carro passou e businou pra mim. Levei um susto e acordei dos meus devaneios. Era 10 horas da noite.

_Minha mãe vai me matar!!! E saí correndo pra casa.

Quando cheguei em casa, minha mãe cochilava no sofá. Passei pé ante pé e entrei no meu quarto. Deitei na minha cama e dormi em seguida. Amanhã será outro dia. E tudo se explicará.

Amanheceu chovendo e quando chove não tem aula. A escola está muito velha e precisa de reformas. A prefeitura não reforma e por isso a sala de aula fica alagada. Fiquei um pouco mais na cama. MInha mãe veio me chamar. Havia uma goteira na cozinha e ela queria ver se eu consertava. Tenho apenas dezesseis anos, quase dezessete, mas sou bastante alta. Meu pai nos abandonou quando eu tinha apenas seis anos de idade por causa de uma história que até hoje não ficou explicada. Eu adorava meu pai e ele nem se despediu de mim. Minha mãe conta que ele saiu pra trabalhar e não apareceu nem pra receber o salário do mes. Tenho certeza que ele não nos abandonou. Até hoje espero o dia em que ele há de voltar. Fazem dez anos mas para mim foi ontem.

Meu nome é Alessandra mas todos me chamam de Leco. Sou muito forte e quando me chamam pelo nome cobro caro na porrada.

Minha mãe não entende porque sou assim. O fato é que sou e pronto. Se eu colocasse um vestido, ficaria muito linda. todos dizem isso. Mas ai de quem ousar fazer tal proposta. Uso calças Jeans e camiseta regata. O Maldito sutiã tenho que usar, mas, a contragosto.

Amanhã é sábado e eu tenho certeza de que encontrarei a Dina. Ela é muito meiga e delicada. O contrário de mim. Tão inocente!!!

Saí de casa na chuva e fui procurar por ela. A Mãe dela me avisou que ela tinha saído pra casa de alguma colega e ela não sabia qual. Resolvi procurá-la mas não encontrei em casa de nenhuma colega.

A chuva passou mas deixou tudo molhado. Os pássaros cantavam estridentemente como se agradecessem a Deus por dádiva tão sublime. O cheiro de terra molhada invadia minhas narinas e os bancos molhados da praça me impediam de sentar. Eu já estava um pouco molhada, mas, mesmo assim, sabe como é, o bumbum não gosta da sensação de sentar no molhado. Andei pela praça do “Jequitibá rosa” que cresceu tanto que estourou os meio fios, até encontrar um amigo. Resolvemos ir até o bar da esquina dar umas tacadas e tomar uns goles. Seu Manoel, o Portuga, não gosta de vender bebidas para menores mas meu colega é maior de idade. Qualquer dia desses a gente põe o “Gajo” em uma enrascada, pois é proibida por lei vender bebidas a menores.

Lúcio, o menor da turma chegou e disse que havia algo errado na casa da Dina. Passou por lá e ouviu choro. Saí em disparada do bar deixando os dois sem entender nadica de nada.

Cheguei em frente a casa da Dina e fiquei a observar. Ouvi gritos que vinham de dentro de casa. Era a mãe dela. Dina chorava e pedia perdão a mãe. Ela respondia que nunca a perdoaria.

Não entendi a princípio mas comecei a entender quando a mãe dela disse que as malas já estavam prontas e o táxi estava chegando, que ela parasse de choro e se preparasse pra partir. Dina estava indo embora. O táxi chegou e ela saiu de casa acompanhada pela mãe. Entregou o celular quando a mãe pediu. Ela me viu e me olhou de uma maneira que eu nunca entendi direito. Não sei se era ódio, dor ou amor. O fato era que a minha Dina estava partindo pra sempre e eu sabia lá no fundo que nunca mais a veria.

Meu coração doeu tanto que nem sei como consegui voltar pra casa. O trajeto que fiz deve ter sido o mesmo e o vento me trouxe. Chorei muito nesse dia e por dias a fio sempre que me lembrava dela. Minha mãe me consolava mas não dizia nada.

Um dia tomei coragem e fui procurar a mãe dela. Queria uma explicação. Toquei a campainha e ela veio me atender. Mandou-me entrar e convidou me a sentar no sofá.

Então perguntei:

_ E então, vai me explicar o que está acontecendo? Porque a Dina foi embora? Porque fez isso com ela? Odeia sua filha? Ou me odeia?

Por uns minutos fiquei olhando a velha esperando uma resposta. Então ela finalmente disse:

_ Alessandra, Esse é o seu nome. Embora queira ser chamada de Leco e sua mãe não faça objeção. Eu ao contrário, não criei minha filha pra ver ela se enrabichar com uma garota metida a macho. Dinorá foi morar com o pai dela. E lá ela vai ficar. Até que arranje um bom rapaz e se case. Falhei com a educação dela e o pai saberá cuidar dela melhor. Não tenha esperanças. Ele mora muito longe daqui e eu não pretendo lhe dar o endereço. Esqueça minha filha ela será feliz longe de você. Agora vai embora que já me causou dor demais. Estou separada da minha filha por sua causa. Nunca mais me procure.

Saí dali esperando que algo mudasse e que eu reencontrasse a Dina em algum lugar algum dia. Mas os anos me mostraram que não seria bem assim.

As pessoas começaram a me olhar de um jeito diferente na rua. Como se eu fosse um bicho estranho. As crianças se afastavam quando eu chegava perto, pois as mães chamavam. Era só eu e a mãe natureza. Em casa, como sempre, minha mãe me dava toda a força. Ela nunca me julgou.

Na escola fui me arratando até o fim do ano. Meus amigos não me abandonaram mas era só eu, o Gajão e o Lúcio. Aprontei muito mas passei de ano. Não queria decepcionar minha mãe.

Um ano se passou e quando eu estava pra fazer dezoito anos aconteceu algo que mudou minha vida pra sempre.

Cont…

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 09/02/2015
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