UMA ROSA PARA INÊS
Série: Contos Sensuais
Ghiaroni Rios
Boa parte da turma era apaixonado pela Fátima. Olhos azuis, decidida, inteligente e adiantada nos estudos. Mas eu era mesmo apaixonado pela Inês, sua irmã.
Descrevê-la é difícil. Olhos negros, morena, irreverente e pequena como sua mãe, uma gabaritada professora de português no Colégio Santa Clara e brava.
Era colega de escola e sala de seu irmão Paulo Cesar, e amigo do outro irmão, o popular Garrafinha.
Paulo Cesar me socorria no ginasial com as colas em matemática. Bem feito pros dois. Virou engenheiro e eu biólogo e advogado de plantas e bichos.
Mas os olhos expressivos de Inês e seu jeito zombeteiro e bem humorado é que me atraiam.
La pelas dez e meia da noite, a cidade pequena adormecia, a roda de prosa depois da aula se desfazia. Era a hora de roubar as rosas vermelhas.
Em frente a casa de Nena, um pequeno jardim com grades baixas e muitas rosas bonitas, bem cuidadas. O furto tinha que ser rápido senão os cachorros bravos chegavam.
As flores eram solenemente depositadas na janela do quarto da Inês, que supunha, dava pra rua.
Rolava um volei de quintal na casa da Inês, mas a paixão me inibia de ir lá. Adorei quando contaram que à mesa a mãe a corrigiu:
-Nesse caso não é ‘pra mim’ que se fala, é ‘para eu’!
Mas Inês não perdeu o tom:
-Ih mãe, ‘mim’ também come!
Muito tempo se passou e muitas rosas roubadas e depositadas, enamoradamente, naquela janela, fui descobri, decepcionado, que aquela janela que dava pra rua, era do quarto dos irmãos, não da Inês e Fátima.