Volto.

Nunca soube dizer se era amor ou aventura. Nunca sabia a data do encontro seguinte e o intervalo doía até se esquecer de beijos e afagos, de apertos e descobertas, de furiosas entregas em que empenhava o corpo e a alma. Ninguém pedia fidelidade e a palavra amor andou sempre arredada daquele jeito de gostar que se arrastava, há anos, em tempos estranhos do dia ou da noite. - Pode ser agora? Podia. Outras vezes, com o banho por tomar, os pelos por arrancar, o cabelo desgrenhado pedia sorte para que tudo corresse como de costume. Mal se viam e logo se beijavam, uma, muitas vezes. A roupa era literalmente arrancada e havia uma avidez que nunca passava. Sexo puro e duro, despudor absoluto e as vozes a raspar a pele e a pele a usar-se como passeio de mãos e dedos, limite de prazer profundo, admirações que se tinham por inéditas. – Não sei quando te verei de novo, disse-lhe. Caso amanhã. Há a festa, a viagem de núpcias a Paris, a mudança de casa… Sabes como é. A família vai exigir-me as folgas todas. Ela anda desconfiada. Mas volto. Nunca ninguém me deu tanto como tu. Nem sei por que não me caso antes contigo. E saiu. Ainda não voltou.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 28/01/2015
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