Cartas de natal
Durante a véspera de natal em 1914, no fronte francês de guerra, se encontrava Baptiste. Ele era iletrado, um camponês francês recrutado para morrer defendendo a pátria, portanto não era bom com palavras, muito menos em botá-las no papel. Ele tinha certeza: receberia uma carta de sua esposa Catherine, portanto precisava amolecer seu coração enrijecido pela guerra para mandar à sua esposa todos os sentimentos retraídos através de uma carta ditada por ele e escrita por um escrivão.
Era natal. Cessou-se o fogo.
Baptiste estava sentado em um improvisado acento de madeira úmida dentro das trincheiras à espera do carteiro. Seria a primeira carta que receberia de Catherine, ele afirmava para seus companheiros entrincheirados. O carteiro passou pela trincheira carregando uma enorme mala abarrotada de cartas organizadas por ordem alfabética em filetes. Quando passou por Baptiste, este lhe disse: “minha esposa me enviou uma carta!”, para qual o carteiro pediu “diga-me seu nome e lhe entregarei tão estimada carta”. Baptiste disse seu nome completo, o de sua esposa e ficou esperando sentado. Não havia carta. “Lamento, Baptiste. Há demora nas entregas às vezes”. O soldado francês abaixou a cabeça, vestiu seu capacete, recostou-se na lama socada da trincheira e esperou o entregador de cartas.
“Ei, rapaz, você... Tenho uma carta para enviar à minha esposa” – “Diga-me o endereço e o nome dela, caro Baptiste”. A carta estava direcionada. E Baptiste esperou uma resposta que não veio. E ele não enviou mais nenhuma naquele ano.
Véspera de natal em 1915. Ainda no fronte francês, o espírito de esperança de Baptiste voltou a se inflar. Era hora para enviar uma carta para sua esposa em resposta àquela que ansiosamente esperava receber no dia 25.
Era natal. Cessou-se o fogo.
Baptiste estava encarregado de vigiar desertores, pois era sabido que na noite de natal muitos fugiam durante as festas. Perambulava de um lado a outro segurando uma pistola. Encontrou um desertor. “Aonde vai?” – perguntou ao fugitivo, para qual foi respondido “Não recebo notícias de minha esposa há sete meses. Prefiro morrer a lutar essa guerra sem ela”. Baptiste abaixou a arma e viu o homem sumir na escuridão da noite natalina. Ele podia ser punido com a morte por deixar alguém fugir, porém o risco era válido, pois alguém teria uma remota chance de encontrar respostas naquela guerra que só deixava perguntas.
O carteiro chegou e passou pela trincheira carregando uma enorme mala abarrotada de cartas organizadas por ordem alfabética em filetes. Quando passou por Baptiste, este lhe disse: “minha esposa me enviou uma carta!”, para qual o carteiro pediu “diga-me seu nome e lhe entregarei tão estimada carta”. Baptiste disse seu nome completo, o de sua esposa e ficou esperando sentado. Não havia carta. “Lamento, Baptiste. Há demora nas entregas às vezes”. O soldado francês abaixou a cabeça, vestiu seu capacete, recostou-se na lama socada da trincheira e esperou o entregador de cartas.
“Ei, rapaz, você... Tenho uma carta para enviar à minha esposa” – “Diga-me o endereço e o nome dela, caro Baptiste”. A carta estava direcionada. E Baptiste esperou uma resposta que não veio. E ele não enviou mais nenhuma naquele ano.
E isto se seguiu até a noite de natal de 1917. Mais uma vez ele não havia recebido nenhuma carta e ditado uma para o escrivão. Baptiste sabia que não receberia respostas de sua esposa, mas ainda possuía esperanças que ela recebesse a dele, nem que ele entregasse pessoalmente. “O sistema de cartas deve estar com problemas, Baptiste” – disse-lhe o carteiro. E, caso fosse, então o soldado francês precisava sair de lá. Era natal... Que noite melhor haveria para fugir?
Baptiste o fez. Pegou seu rifle e, na calada da noite, enquanto muitos se embebedavam com vinho seco, saiu de fino pelo frio da noite. Sua esposa vivia na Bélgica. Era um longo caminho a percorrer, mas Baptiste iria conseguir, ele acreditava. E algumas horas depois foi baleado próximo a estrada usada para abastecer as tropas. Baptiste caiu no chão frio e ali permaneceu por horas até finalmente morrer. Em sua mão estava a ultima carta que ele, encarecidamente, ditara para o escrivão.
“Querida Catherine,
Eu lutei durante estes anos sem suas cartas, sem seus afagos, sem seu carinho, mas jamais estive sozinho, pois sempre lhe mantive no cantinho mais quente de meu coração.
Sabe, esta será minha ultima carta, eu suponho. Irei fugir e provavelmente serei morto. Gostaria de deixar minha ultima carta em seu túmulo pessoalmente, porém morrerei com ela em mãos para lhe entregar pessoalmente no céu.
Soube que nossa cidade fora bombardeada no inicio da guerra e que você não havia sobrevivido ainda em 1914; mas não quis acreditar – poderia ser um erro dos correios. Mas não era... E agora vou lhe encontrar no paraíso após anos no fronte lutando por sua memória.
Com imenso carinho,
Baptiste Deneuve”
E, no ano seguinte, não houve natal no fronte, pois não mais havia um. A guerra havia acabado, mas sem antes levar milhares de vidas e deixar cartas sem serem enviadas e cartas sem serem lidas.