Despedida

Lá fora a chuva cai silenciosa e traz em cada gota a saudade que machuca ao lembrar-se dos nossos momentos. No rádio, toca a nossa música.

Espero-te todo dia, olhando pela janela - que agora está embaçada pela chuva e ofusca meu sofrimento. Busco ao longe seu assobio ou o som da tua voz, que todas as noites sussurrava em meus ouvidos, mas as notas que ouço atrapalham minha audição e alimentam minha mente dos nossos instantes.

Algo queima meu rosto e dói por dentro. São lágrimas que escorrem por minha face, enquanto embaçam meus olhos ao aguardar – utopicamente – sua chegada.

Nossa cama está pronta e vazia, com o travesseiro e lençol que tanto gosta. Sobre a mesa está o vinho e as taças, que adornam nosso ninho.

Enquanto vaga, minha mente recorda da nossa última noite. Fizemos amor como nunca! Foi eufórico, extasiante e inesquecível. Suas mãos carinhosas que tocavam meu cabelo. O abraço forte que afagava meu medo e ansiedade. E os lábios? Ah! Como eram macios e adocicados. Seu corpo quente e abrasador ao tocar no meu acendia todas as fantasias e loucuras, que juntos realizamos.

Seu suor misturava ao meu, enquanto nossos olhos vibrantes se encontravam em busca do infinito e as bocas entreabertas, com sede de prazer, buscavam o saciar do sentimento mais intenso que juntos já experimentamos.

O prazer e a magnitude daquela noite vêm como um delírio em meus pensamentos, arrepiando todo meu corpo e intensificando meu choro incessante.

Hoje sei que foi, apenas, uma forma de despedida.