LINDA HISTÓRIA DE AMOR

O amor por si só é um estado de alma em que dois seres se entrelaçam em sentimentos mil, em longos pensamentos, se abrigam felizes no aconchego das palavras para, numa magia do espaço e do tempo, finalmente se encontrarem e viverem felizes por momentos.

O passado é o instante que já não existe mais, mas se foi bem vivido, retornar a ele faz um bem danado.

Meu pai estava todo recordação, e desta forma aproveitei a oportunidade para perguntar:

- Meu querido pai, gostaria de saber como foi, e onde foi o início de seu namoro com nossa mãe.

Embora esteja fazendo algum tempo que minha mãe já não mais pertença a este mundo, meu pai precisou de uma boa respiração, um longo fechar de olhos para então narrar o que solicitei.

Rabisco aqui com minhas palavras o que escutei dele.

- Sua mãe morava na Água Azul (1) onde o sogro tinha uma serraria. Eu morava no Lageadinho (2), completou ele.

Deu uma paradinha, pigarreou um pouco, e com um leve, mas não disfarçado sorriso no canto da boca continuou.

- Meu sogro gostava de organizar uns bailes, ou na casa dele ou então na escolinha.

Meu pai, com um ar maroto diz.

- Eu sempre ia lá, e algumas vezes até dancei com a Marina. Bailes bons aqueles! Relembrou saudoso.

Marina era o apelido carinhoso de minha mãe.

Agora um pouco mais sério, e com um franzir de sobrolho continuou:

- Eu estava ainda incorporado no 1º Batalhão de Sapadores fazendo o curso para cabo em Itaiópolis. Tinha desmanchado o meu noivado com a Gertrudes e estava livre e desimpedido.

Parou um pouco para organizar o assunto.

- Com mais frequência, nas minhas folgas, comecei a ir aos bailes do pai dela.

Com uma satisfação enorme prosseguiu a narrativa:

- Um dia, ao entrar no baile, a Marina estava de porteira. Apertou minha mão demoradamente perguntando-me se ainda era noivo.

- Não, não sou mais.

Uma pequena pausa, e deu seguimento a prosa.

- Ela apertou mais forte ainda minha mão, e eu senti uma sensação muito boa, inexplicável que percorreu todo meu ser.

- E daí, o que aconteceu? Perguntei curioso para ele.

- No final do baile, ela segredou para mim que iria dia 20 de janeiro na festa de São Sebastião na Vargem Grande (3).

- Mas como foi este encontro com minha mãe se você estava incorporado ainda? Perguntei para ele.

- Consegui uma licença, e vim até a Vargem Grande no dia da festa.

- Ela já estava lá? Perguntei.

- Não, não estava; Chegou depois.

Franziu a testa, organizou seus pensamentos e prosseguiu:

- O dia estava bonito! Muita gente nas suas fatiotas domingueiras, buliçosas, passeando, de um lado a outro, festejando sem parar. O foguetório era intenso, e eu alheio a tudo aquilo tão somente com o pensamento na Marina. Busquei-a ansioso por todos os cantos, e já estava ficando aflito, um tanto contristado, pensando que ela não viria mais.

- Mas e daí? Interrompi.

Ele sorriu para mim, e com olhos brilhando intensamente concluiu:

- Sua beleza era inconfundível. Mais adiante, no meio da multidão eu a vejo ansiosamente buscando por alguém. Ela me vê, fica imóvel por instante, sorri feliz e vem correndo ao meu encontro.

Meu pai parou um pouco a narrativa para tomar um fôlego e organizar seus pensamentos.

- E como foi a conversa? Perguntei aflito.

- Eu, um pouco nervoso indaguei para ela se aceitaria namorar comigo. Vi seus olhos lindos azuis brilharem, e num rompante respondeu-me que sim.

- E aí então começou oficialmente o seu namoro com nossa mãe? Perguntei.

- Sim, respondeu-me ele todo faceiro.

Parou um pouco e continuou.

- Foi o início de nosso namoro, e de nossos setenta anos de amorosa convivência.

E um pouco triste, com um olhar perdido no espaço, completou:

- Eu tenho muita saudade dela meu filho! O tempo passou muito depressa para nós! Parece que foi ontem!

Vi algumas lágrimas em seu rosto, e num abraço demorado eu segredei em seu ouvido:

- Eu também meu pai, eu também tenho muita saudade de minha mãezinha, a linda menina dos olhos azuis.

Nota (1) (2) e (3) Patrimônios pertencentes a São Mateus do Sul

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 17/01/2015
Código do texto: T5105248
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