O conquistador

Everton mora em uma cidade quase litorânea, onde trabalha como vendedor de carros. Ele tem estatura, voz grave e certo jeito com as palavras. Não se sabe quando ele mente. Nem mesmo ele sabe quando está mentindo. Para todo o carro que apresenta, sempre é um veículo de garagem, está bem cuidado, nunca foi batido e expressões do gênero. Sempre financia muito bem e nunca gerou problemas. Ele promete que o juro fica “baixinho”. E ele nunca ficou sozinho, sem namorada. As mulheres adoram Everton, porque ele tem pegada e sempre parece milionário.

Ele geralmente conhece uma mulher por mês, ou mais. Sempre há mulheres correndo atrás, e ele até tira algum dinheiro delas. Promete casamento, diz que vão viajar para a Europa, e tem uma que até deu dinheiro para a passagem. Ele fala tanto que parece possuir helicóptero, iates, além de ser segundo ele um homem caseiro, até saber cozinhar. Nunca se viu nem fritar um ovo, mas é o que diz para as mulheres.

Das cinco últimas que conheceu, todas queriam um homem especial. Assim Everton se faz especial, diz estar estudando teologia, escreve poemas. Até carta de amor anda aprendendo a fazer. As mulheres o acham diferente, e são seduzidas. A Jéssica viu nele um cara diferente, que prometeu comprara uma casa e um carro. Juliane viu nele um homem sincero, quando lhe deu anel de noivado. Ela usa até hoje o anel, apenas em outro dedo. Rafaela viu nele alguém bom de conversar, e com abdome bonito. Cintia viu nele um cara que tem planos e futuro, talvez pelo tanto de dinheiro que ele diz ter, fazer aplicações, investimentos, um verdadeiro economista. Já Evelyn brigou com ele, mas tinha nele um bom homem na cama, e era isso que importava.

Everton nunca teve muito estresse, nem depressão, nem doença alguma. E também nunca teve de se preocupar com solidão. Ele convence tanto que até essas mulheres o perdoaram, e se o visse, talvez ficariam novamente com ele. Acontece que elas mudaram, e acharam um amor mais convencional. Jéssica conheceu um ex-seminarista, quase virgem, que planeja casar com ela. Juliane ficou com um careca, mas que pelo menos não mente pra ela. Rafaela conheceu um homem que o pai apresentou, e pelo menos teve aprovação da família, apesar de meio distante na cama. Já Cintia conheceu um homem rico de Florianópolis, ganhando um carro de presente. Mas nenhuma delas esqueceu Everton, que era um homem perfeito, pelo menos pelo que falava. Agora são infelizes em comparação, pois aquela aventura valia mais que atuais casamentos. A juventude passa e elas preferiram pensar em constituir família, progresso financeiro. Não raro uma delas arruma um amante.

Mas Everton sempre é amado, e sempre soube lidar com as mulheres. Ele daria aula para os terapeutas. Sempre que conhece alguém triste, anima essa pessoa. Ele transforma mais as moças do que os antidepressivos. Ele nunca teve qualquer desejo sexual deixado de lado. Suas fantasias se realizaram. Sempre foi sincero, e conquistador. Depois as mulheres xingam ele, mas sempre foram entregues ao amor do momento. Já seus atuais maridos são verdadeiros, trabalhadores. Mas quem se importa com alguém trabalhador? As aventuras que Everton proporcionou transformaram as mulheres que conheceu. Falasse com o Papa, até santo seria feito. Porque ele tem o segredo das palavras, o jeito de vender seu peixe. Se era bom ou mal, certo é que viveu e curtiu. E viverá.