Quando eu me perdi de você
Ela volta à sua cidade depois de um longo período longe. Numa tarde chuvosa passeia pelo parque, caminhando entre as flores coloridas com o pensamento perdido entre o presente e o passado. Ao fundo, uma música embala seus pensamentos e se deixa levar. Cantarola os versos sem se preocupar com o tom ou com a letra correta. Naquele momento nada importa. A não ser o simples fato de estar só. Ela e seus velhos sentimentos.
Entre o verde das folhas e o vermelho das flores, entre uma estrofe e outra, vê que dois olhos observam-na atentamente.
A música ao fundo insiste em continuar tocando, mas ela, surpresa, para repentinamente. Ele se aproxima.
O seu coração dispara e a melodia se mistura com lindas lembranças de um amor juvenil.
Ele chega ainda mais perto e já é possível ver que continua com o mesmo andar esguio. Agora está tão perto que ela pode sentir o seu perfume e notar que a sua barba possui alguns fios brancos, que o deixam ainda mais atraente.
Ele está ali. Diante dela. Seus olhos se cruzam e seus corpos se tocam num abraço aconchegante e cheio de saudades.
As palavras saem rápidas com medo de que o tempo passe a ponto de perder a oportunidade de se olharem mais uma vez.
O assunto não faz sentido, só importa o momento. Nem a chuva incomoda.
Falam de ontem e de anteontem, mas não de amanhã e nem dos dias que viveram juntos, antes de ontem e de anteontem.
Olham-se querendo entender o que houve com o sentimento que existiu entre os dois. Mas não ousam perguntar, pois os dois temem pela resposta.
E antes que alguma coisa saia errado e acabe com aquele momento tão simples e tão significante, despedem-se.
Ela precisa ir. E ele também.
Na despedida, uma pergunta: quando estarão juntos novamente?
Não se sabe a resposta, apenas a pergunta.
A chuva aumenta, o tempo voa, a música continua tocando.
No estacionamento eles tomam direções opostas como fizeram há anos atrás.