A AMIGA
A AMIGA
Mily acordou em mais um dia, lavou o rosto de maquiagem borrada, arrumou o cabelo espalhado, e tentou beber um pouco de água para curar a ressaca. Ela saiu na balada e conheceu mais um cara. Mais um dentre tantos. Talvez ela escrevesse um poema em homenagem a esse amor repentino. Procurando sempre ser sincera, ela repete a conversa com rapazes que a conhecem, rapazes que não dão a mínima pra opinião dela, mas que se importam mais com seu rosto belo e decote.
Jeison era um rapaz trabalhador. Vivia se dedicando aos seus planos, a estudos e a crescimento financeiro. Não tinha muita sorte com as mulheres, e quando muito levava um fora. Havia comprado um novo carro e foi passear um dia, em um evento de carros. Ele é alto, não muito forte. Não se trata de alguém musculoso. Mas que sempre levou as coisas a sério, e muito ligado a mãe. Eis que viu de longe uma moça morena, magra, e com o rosto quase infantil. Bela e apaixonante. Era Mily. Ela estava com uma amiga, mas essa era meio estranha, sem qualquer interesse.
Mily ia toda a semana na balada. Sempre conhecia um cara, e quando não conhecia um cara, era porque algo impedia. Ela não tinha muito gosto definido. Às vezes ficava com loiro, noutras moreno, e noutra gordo, e assim por diante. Ela é o que se diz alguém com “atitude”. E muito sincera, sempre falava mal dos homens, que os homens não valem nada etc. Ela é sincera, e sabe seu próprio valor de mulher. Seu lado feminino era mais ainda claro nas poesias que escrevia. Parece que cada poema era para o amor da sua vida. Ledo engano de quem lê esses poemas, achando que se trata de um único homem amado.
Jeison estava trabalhando duro. Uma vida dedicada ao sacrifício e a honestidade. Ele procurava a esposa perfeita. Casamento, ter filhos um dia. Muito ligado aos pais, ficava quase sempre cuidando de alguém, dando presentes, até cuidava de sobrinhas, gêmeas, com 6 anos. Seria um ótimo pai. Dedicado e correto. Ele era alguém que sempre esteve íntegro. Alguns até tinham indicado que ele fosse padre, ou se dedicasse a vida religiosa. Tamanha era a confiança que ele passava.
Mily tinha muitos amigos. Eram todos os rapazes com que ela ficou. Passavam de 50 já, senão mais. Ela não contava. Não é boa em matemática. Ela sabe porque escreveu mais de 50 poemas. Cada poema inocente, com flores e figuras das mais puras. Mily passava a imagem de boa moça. Mas tem o jeito sensual, usa roupas quando quer, que enlouquecem o olhar masculino. Ela queria se casar. Não pelo casamento, mas pela festa, luxo, pela cerimônia. Pouco importa o marido. O casamento é o mais sublime para ela.
Em um bar conhece Jeison a Mily. Ela estava tomando energético, uma vez se exercita bastante em academia. Ademais, ela nunca parece cansada. Já Jeison trabalha demais, se dedica a pessoas que ajuda e dorme sempre cansado. Ela foi novamente sincera, disse que deseja conhecer alguém sério, que tenha algo que dure, que seja fiel. Jeison era o cara certo. Ela cumpria isso e tudo mais. Não parecia sincero. Já Mily parece de tudo, ela muito legal. Jeison se impressionou com a quantidade de amigos de Mily. Em cada rua, até na sorveteria que saíram, ela conhece o rapaz que trabalha lá. Pensou Jeison: que mulher encantadora.
Debochado, Jeison a apelidou de “amiga”, mesmo sendo já sua noiva. Sim, ele rapaz sério, pediu em noivado. Ela desfilava a aliança por onde ia. Agora estava prestes a casar, arrumando para a festa, e muitas coisas. Uma nova mulher. Ela mostrava os poemas para Jeison, e ele pensava: que mulher inocente, quantos sonhos e fantasias. Ele achava quase que Mily era virgem. Mas tiveram uma noite de amor, apesar dela não estar tão curiosa, mas fazer aquilo como quem dirige automóvel. Ela faz meio no automático. Mas Jeison pensou que deve ser a timidez dela. Uma moça tão sincera e legal deve ter tido muita renúncia, pensou ele. Ela ajudava a mãe, tinha sempre um jeito carinhoso.
Eu sei que eles casaram. Após o casamento Jeison descobriu que ela tem mais amigos. E continua a chamando de amiga, apesar de ser agora esposa. Ela continua muito sincera, e sempre fala tudo a Jeison. Dos amigos disse que são da faculdade e trabalho, e que não pode evitar. Jeison pensa, melhor evitar brigas. Mily parece receber tantos presentes, e até está ganhando dinheiro. Muito mais que Jeison, que trabalha tanto. As amizades garantes mesmo muitos favores. Essa Mily é incrível. E Jeison ainda imagina que ela casou quase virgem, que não teve muitos namorados. Enquanto ele trabalha dia e noite, Mily conhece novos amigos, e continua com seu talento para a poesia. Essa mulher tem futuro.