O seminarista segunda parte.
O Seminarista. Segunda Parte.
Na primeira noite após a missa do domingo, não consegui dormir, minha cabeça estava confusa e muito bagunçada. Nossos quartos no monastério eram individuais, mas o quarto do meu amigo Frederico era ao lado do meu, pensei em ir até o quarto dele para conversar, mas tive medo afinal o que ele poderia pensar a meu respeito, imagine um monge com desejos carnais por uma mulher, isso era inconcebível. Por três vezes me levantei da cama ensaiei ir ao quarto do Frederico, voltei e deitei novamente, repeti essa operação por varias vezes. Demorou ate que eu dormisse e quando consegui, tive um sonho com a Cecilia, era para enlouquecer qualquer um, mas eu tinha que manter a calma e o controle para que ninguém percebesse minha aflição.
No dia seguinte mantive minha postura de santidade, embora eu não tivesse feito nada, eu me sentia como se tivesse feito um crime. Não sei o motivo de tanta inquietação, era só uma moça, a Cecilia magrela de outros tempos, mas o meu coração não conseguia enxergar assim.
Nossa rotina de estudos era puxada, estudávamos a historia dos santos, da igreja ao longo do século, introdução à filosofia, fora o grego e o latim, a historia dos papas, entre outras coisas. Eu sempre tive facilidade com estudos, nunca fiquei como posso dizer, empacado em alguma matéria, no seminário não era diferente, meu desempenho era bom, porem naquela semana tudo começou a desandar, literalmente desandar, eu não conseguia me concentrar em nada, estava totalmente perdido nos estudos e nos meus afazeres, alguns monges perceberam que eu não estava bem, pensaram ate que eu estivesse doente, ate o Frederico pensou nisso, e de certa forma alimentei essa ideia, eu nunca que diria a ninguém que estava apaixonado pela Cecilia, mesmo porque eu tentava esconder de mim mesmo o que estava sentindo.
Aquela semana parecia que nunca ia passar se arrastava, dentro de mim inconscientemente eu não via a hora de chegar o domingo para vê-la novamente, outra parte de mim recusava tal sentimento, eu não sabia o que fazer.
No sábado pela manhã meu superior o Monge Roberto me chamou para uma conversa em partícula, fiquei morrendo de medo, será que ele percebeu, será que alguém notou e lhe contou, eram tantas as perguntas que se passavam na minha cabeça.
O Irmão Roberto aproximou-se de mim, e convidou-me a passear pelo jardim enquanto conversávamos.
_Irmão Arthur nos temos notado o seu progresso desde o seu primeiro dia aqui, você parece gostar mesmo do monastério, estou certo.
_Claro que sim irmão, me habituei bem à rotina, estou muito satisfeito. Respondi com certo medo.
_No ultimo domingo na missa foi sua primeira vez cantando o salmo em latim, e para falar a verdade há muito tempo não víamos uma voz assim tão harmoniosa, nosso reitor pediu que você cantasse em todas as missas de domingo, pediu para te perguntar se haveria algum problema.
_Nenhum irmão, imagine agradeça ele por mim ficarei feliz em servir a igreja do senhor com minha voz.
_Que bom irmão e alias você melhorou do seu mal estar, fiquei sabendo que você não estava bem essa semana.
_ Já estou melhor sim não tem com o que se preocupar.
Que susto passei, imaginei que ele soubesse de alguma coisa, agora a situação começou a piorar, vou ficar bem de frente de todos no domingo, em todos os domingos, se ela for à missa não sei o que será da minha alma atormentada. Que Deus me ajude.
Chegou o domingo, eu estava tenso dormi mal a noite, a missa seria às sete horas da manhã e ainda faltava uma hora, todos os monges que participariam da missa já estavam prontos, o Frederico também não demorou e ele veio me chamar, eu já havia preparado o salmo estava tudo pronto. Após nos reunimos no corredor dos quartos, nos dirigimos para a igreja, ainda não havia chegado ninguém.
Aos poucos cada monge foi se ajeitando no seu posto, os músicos o coral com o canto gregoriano, eu com os salmos, os participantes da missa começavam a chegar um a um, eu estava tenso, suava Frio, e a todo o instante olhando para a porta, de repente vi o papai entrar primeiro e logo depois a mamãe e a Cecilia, quase cai de costas quando a vi, ela estava ainda mais bonita do que no domingo anterior, a missa foi iniciada, meu tormento aumentado, foi difícil para cantar o salmo, os meus superiores todos estavam naquela missa, minha capa ficou molhada de suor.
Ao terminar a missa como de costume, os familiares foram conversar com os seus filhos e lá vinha a mamãe com a Cecilia, meu Deus vai começar tudo de novo.
_Meu filho querido, você cantou lindamente hoje, parabéns, de um abraço aqui na sua mãe.
Tive que abraçar a Cecilia também, dessa vez ela não disse nada apenas sorriu, me deu um abraço tão apertado que senti seus seios se comprimindo em meus peitos, aquilo era para enlouquecer, a essa altura eu já comecei a questionar minha vocação sacerdotal.
_E os estudos meu filho como estão indo, perguntou o papai.
_Está bem meu pai, não tenho dificuldade com eles. Adiantamo-nos um pouco da mamãe e da Cecilia, meu pai aproveitou para cochichar em meus ouvidos, _ Eu sei qual é sua verdadeira dificuldade.
_Como assim, não estou entendendo o senhor.
_Eu vi como você reagiu na presença da Cecilia meu filho, seu pai é velho mais não é bobo, além do que não é a toa que ela está vindo conosco, ela se apaixonou por você, e isso já faz muito tempo, ninguém me disse acabei descobrindo, pense bem meu filho se é isso mesmo que você quer, eu sei que no próximo mês inicia seus estudos de teologia e eles serão fora da qui, pense bem ainda da tempo.
A mamãe aproximou-se nesse momento, a Cecilia a penas me olhava, se antes eu já estava confuso, agora ainda mais depois de saber que a Cecilia me amava, o que o meu pai disse era verdade, eu tinha menos de um mês para me decidir e agora o que fazer.
Caminhamos um pouco mais, chegou a hora de ir embora despedi da mamãe do papai e por ultimo da Cecilia, parecia coisa combinada, ela me abraçou do mesmo jeito que no inicio, e pronunciou as seguintes palavras no meu ouvido.
_Nunca esqueci aquele beijo, vou estar te esperando, pense bem.
Deu-me um beijo no rosto e saiu agora sim eu estava em apuros, minha fé e vocação foi colocados a prova e eu tinha poucas semanas para decidir. Fui direto para o meu quarto sem falar com ninguém, aquelas palavras mexeram comigo, era hora de tomar uma decisão.
Os dias se passaram rapidamente, minha aflição aumentava ao passo que ia chegando à data de nossa partida, iriamos para o Belém do Para, em outra filial do nosso monastério, eu não tive coragem de dizer nada a meu principal amigo o Frederico, que foi o que mais me ajudou aqui, mas eu tinha um plano e ele teria que ser executado logo, ou eu não teria outra chance.
Os monges estavam eufóricos com a viagem com a expectativa de iniciar os estudos teológicos. Frederico parecia o mais animado, eu tentava disfarçar minha aflição, era sexta feira viajaríamos no domingo pela manhã um micro ônibus viria nos buscar para levar-nos a rodoviária.
Fui para o meu quarto sentei na cama sem saber o que fazer, passei as mãos pelo rosto os pensamentos estavam longe, para falar a verdade estavam na Cecilia, aquele rosto que irradiava luz, aqueles lábios carnudos, os cabelos encaracolados e os olhos verdes, eu não parava de pensar nela, foi quando tomei minha decisão, seria isso mesmo e pronto.
Domingo de manhã.
_Olá Arthur, abre a porta dorminhoco, temos que nos preparar para a viagem o ônibus chega as oito, Arthur acorda, meu Deus já são seis e meia, estamos atrasados.
_Mas que barulheira é essa Frederico, meu Deus o que está acontecendo meu rapaz.
_ Irmão Carlos, ainda bem que você apareceu estou chamando o Arthur já faz um tempo e ele sequer responde, estou com medo de ter-lhe acontecido algo, essa semana ele não estava muito bem.
_Bom sendo assim é melhor arrombarmos a porta vai que ele esteja desmaiado, vai saber né.
_Verdade, mas arromba você, que é mais forte e maior do que eu.
_Tudo bem então, Arthur caso você esteja de brincadeira irei arrombar essa porta, um, dois e três..
A porta desaba no chão do quarto, ao entrarem veem somente um bilhete em cima da cama.
_Mas o que é isso, Disse Frederico ao pegar o bilhete que dizia o seguinte.
De Arthur.
“Caríssimos irmão em Cristo, perdoe-me por não me despedir, pela forma que voz deixei, sei que é errado o que fiz, talvez Deus nunca me perdoe pelo que fiz, amei muito o tempo em que convivi com os senhores e foi de grande aprendizado, levarei eles para o resto da vida. Peçam desculpas ao reitor do monastério, e a todos os outros monges, e ao meu grande amigo , Frederico, desculpe pro não avisar. Estou a caminho do meu destino neste momento, apaixonei-me pela moça que vinha junto com os meus pais, sei que é errado minha atitude, mas neste momento o meu coração desconhece o certo do errado, o que ele enxerga é apenas amor, grandioso como nunca senti antes, não sei o que será de mim, mas tive que fugir, para encontrar esse grande amor, Adeus meus amigos.”
“Arthur.”
_Cara, eu não acredito o Arthur fugiu, por que não nos falou nada, nem a mim que era seu melhor amigo, deve ser aquela moça, como é o nome dela mesmo.
_Cecilia, me lembro dele dizer o nome dela, quando conversavam em um desses domingos.
_Isso Cecilia. Bom que Deus o ajude.
Bem longe do monastério.
Na velha estrada, que dava acesso a um antigo sitio dos pais de Arthur ao pé de uma frondosa arvore estava Cecilia, com uma mochila nas costas, ao seu lado um velho carro. Não demorou e ela avistou o seu amado, Arthur, ainda vestido com a capa do monastério, ao se encontrarem nenhuma palavra foi dita, apenas um beijo foi dado, um grande beijo, demorado e apaixonado.
_Como você sabia que eu estaria aqui, perguntou Cecilia.
_Eu não sabia, apenas sai correndo na direção em que meu coração mandou, ainda não estou acreditando no que fiz e você e meus pais sabem disso.
_Só o seu pai sabe, ele que planejou tudo, contei a ele que sempre fui apaixonada por você, e além do que ele não queria que você continuasse naquele lugar ele nunca gostou por isso eu vim morar com seus pais e vim nas visitas, eu sabia que no fundo no fundo do seu coração você também me amava era questão de despertar esse amor que estava escondido ai dentro. Entre vamos, a estrada é longa.
Essa é minha historia, a forma como fui pego pelo amor, por isso fugi de tudo e de todos, não digo quem sou na realidade, nem onde estou agora, digo apenas uma coisa, como é bom amar e ser amado.
O amor é um risco que vale a pena ser corrido.