NA PRAIA
A viu e ficou assim, os olhos afogados em saudade. De verde ela refletia a natureza estampada em seu biquíni. Deu-lhe um oi ensolarado:
- Menino, quase não te reconheci! Seu cabelo ficou ótimo.
Nenhum comentário sobre seus pés descalços na areia, a cabeça livre do boné. Justo ele, que tinha horror ao sal, ao sol. Só estava lá por insistência da mãe, que queria comemorar o aniversário da avó como nos velhos tempos.
- Pois é, você gostou?
Ainda bem que usavam óculos escuros, os dela como sempre exageradamente grandes. Conseguiu esconder o arrependimento pela pergunta: ela não precisava saber que no momento em que entrou naquele salão metido a besta era seu rosto que ele tinha como inspiração.
- Ficou lindo- Tocou os fios com a mão macia, cheirando a um novo filtro solar.
Envolvido pelo que havia de mais bonito na paisagem que os cercava não notou os braços que seguravam as pernas douradas, a pele que um dia amaciou seus dedos, seus desejos. E nem a ouviu a voz delicada a chamá-la de tia.O arrependimento pela distância dos últimos cinco anos não o deixou compreender aquela coadjuvante da cena que esperou e encenou por tantas vezes no segredo da sua saudade.
- Tia, e meu sorvete?
- Pega o dinheiro meu amor, já vou te encontrar.
Demorou para perceber que a dona das maria chiquinhas loiras era Luana, a sobrinha nascida no dia em que, tomado por um ciúme exagerado ele desistiu da casa e da vida que dividiam e encerrou a pior e mais dolorosa briga fechando a porta de madeira da sala de estar com a falsa garantia de não voltar atrás.
- Viu como ela cresceu? É minha companheira. Minha irmã às vezes se sente mal porque vou buscá-la todos os dias na escola. Mas nem ligo, é no meu caminho pra casa e a Lu sempre me espera com um sorriso tão grande que compensa qualquer esforço.
" As pessoas sempre esperam por você"- Esse comentário ele conseguiu guardar.
Não quis falar da própria vida,das mulheres que foram suas paixões quando ele esperava reencontrar o único e verdadeiro sentimento que seu peito habitou. Relações demais, coragem de menos. Com elas ele não sentia a vontade, a necessidade ( e o medo) de se mostrar. E nem de uma vida que o preenchesse.
Luana voltou, o rosto de traços mestiços e delicados sujos de chocolate. Pediu ajuda para se limpar.
Antes de ir até o mar lavar o rosto e as mãos da sobrinha ela deu-lhe um beijo e contou que estava na casa dos pais, um lugar que ele conhecia tão bem.
- Vai lá hoje, vamos fazer um churrasco.
Luana pegou em sua mão e repetiu o convite. Com as ondas levando a vergonha, ele aceitou. Sabia o quanto queria sentir o cheiro da grama do enorme quintal, ser parte daquela família outra vez, mesmo que só por uma noite.
Apesar da pele tostada pelo sol de odiosos trinta e sete graus sorriu e agradeceu. Estava novamente refrescado pela calma e deliciosamente salpicado de novas esperanças.
D.SConsiglio