Nos acordes do prazer (pt. 1)

“-Caralho!”

Yago não segurou o palavrão quando viu Manoela descer do carro. O primo adiantou-se e o cumprimentou com aquele sorriso amistoso de sempre, abraçando-o.

-Quanto tempo, primo! Você andou sumido!

A alegria do primo o fez sentir-se culpado por ter olhado tão diretamente para as pernas expostas da esposa dele. “Mas quem manda aparecer com uma saia deste tamanho?”

E era pequena mesmo. Pequeníssima. Manoela aproximou-se, subindo os degraus que separavam a varanda da rua, com um sorriso no rosto, erguendo os óculos escuros e olhando-o profundamente nos olhos.

-Olá Yago! – cumprimentou estendendo-lhe a mão e beijando-lhe o rosto. O jovem prendeu a respiração ao sentir o toque indecente dos lábios dela no canto de sua boca, e sentiu-se arrepiar. Sorriu, afastando-se, convidando todos a entrar que a tia os esperava.

Era uma família pacata. Final de ano, iam todos para a casa do rio. Estavam ali ao todo oito pessoas. Mas Yago estava mesmo preocupado era com Manoela, ou com as reações que ela lhe causara. Desde que o primo Eduardo casara, ele havia trocado, não só uma vez, olhares cheios de segundas intenções com Manu. Ela era uma mulher despojada, sorridente, sempre muito simpática e extremamente inteligente. Sabia falar de tudo, com todos. Via-a se dar bem com as crianças de um ano até os avós de 98. Mas o que chamava mesmo a atenção dele era a paciência dela.

Eduardo, o primo, nunca fora um cara muito doce nem carinhoso. Sempre muito “prático”, como Manuela preferia defini-lo. Na verdade, ele era arrogante e grosseiro. Fora que, quando tomava “umas a mais”, procurava briga com todos. e ele mesmo vira Manuela ser tratada mal diversas vezes na frente de outros presentes. Yago só não compreendia como ela, mesmo com tudo isso, não o deixava. Mas também, nunca a ouvira se queixar nem mesmo triste ou com o semblante decaído. E isso ele admirava demais numa pessoa.

A tarde caíra no sítio. Fizeram uma fogueira na varanda de terra em frente à casa principal e assavam milho. Os homens bebiam, discutindo futebol e outras amenidades. As mulheres riam e fofocavam. Yago, segurando o violão, estava mais afastado de todos, encostado numa árvore, sentado ao chão. Manuela o viu e aproximou-se dele, chamando-o para o meio da conversa.

-Não, Manu. Obrigado. Gosto da solidão das cordas- ele riu com a própria desculpa.

-Ah, sei que um violão é bem mais atrativo que a conversa besta que Edu e seu pai estão tendo ali, mas pelo menos fica perto. Ou toca pra gente. O som das cordas é muito charmoso.

E ela sorriu, ajeitando o cabelo atrás da orelha. Yago não sabia se ela fazia de propósito ou se era sem maldade. O fato é que ela transbordava charme. Depois de insistir um bocado, Manuela acabou convencendo-o a juntar-se à roda. Ficaram entre uma música e outra, uma palma e outra. Aos poucos, foram se retirando e, perto da meia noite, tudo era silêncio no sítio.

(continua)

Dark Moon
Enviado por Dark Moon em 02/01/2015
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