ANDANÇAS - A HISTÓRIA DE MALENA -PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULO I

Um conto para as Mulheres - Primeira Parte (capítulo I)

Caros Amigos - ESTA É A PRIMEIRA PARTE DO ROMANCE QUE COMECEI A ESCREVER BASEADO NUMA TEMÁTICA FORTE E REALÍSTICA. QUERIA A OPINIÃO DE VOCÊS NO SENTIDO DE SE VALE A PENA CONTINUAR NARRANDO A HISTÓRIA DESSA INCRÍVEL PERSONAGEM. OBRIGADO POR OPINAREM E BOA LEITURA!!

Minha vida se tornaria muito mais interessante se a tivesse vivido de forma diversa daquela que vivi. Nem sempre o destino nos presenteia com os sonhos que povoam nosso íntimo. Mas aprendi, através de inúmeras experiências, que somos nós mesmos que obstruímos os canais por onde a alegria plena e a felicidade poderiam nos brindar abundantemente. Ao me encontrar hoje nos últimos anos da minha rica e conturbada existência, pois há muito já entrei na velhice, o que me restam são as memórias do meu passado e são essas que pretendo compartilhar com os meus leitores. Se ainda estou viva foi por pura sorte ou proteção de Deus. Sinto-me ainda forte e totalmente lúcida para remexer em minhas lembranças e trazer à luz todos os fatos que me ocorreram desde que vim ao mundo. Os registros da minha infância e do início da minha adolescência estão todos arquivados dentro de mim e, mesmo sem ter conhecido meu verdadeiro pai obtive uma educação esmerada e grande proteção masculina por ter sido a última e única filha temporã numa família de mais dois irmãos que cuidaram de mim como uma filha, muito mais do que como irmã.

Pretendo narrar, dentro da mais perfeita exatidão que me permitir a memória, porque e como passei de mulher casada a prostituta e daí para beata e novamente para uma mulher da noite, repleta de glamour e de glória para, finalmente cair dentro de uma penitenciária feminina, acusada e condenada por furto e assassinato, sendo este último me imputado sem que eu tivesse a mínima culpa. Mas, a principal função dessa narrativa é mostrar como consegui superar todas essas reviravoltas impostas por meu destino, escapar da morte e assumir em seguida um papel digno dentro da minha sociedade. Vou deixar, por enquanto, em aberto a descrição do que sou hoje e do que faço.

Minha intenção principal é provar, por fatos acontecidos a mim e por evidências atuais, que basta uma pessoa querer e se determinar a mudar para que a roda da vida comece a girar a seu favor e ela seja abençoada com a paz de espírito que sempre almejou. Entretanto, embora seja este o desejo de todo ser humano ao vir ao mundo – pelo menos assim creio eu – se ele não fizer a parte que lhe cabe com esforço e fé nada acontecerá para que haja mudanças significativas em seu destino.

Quando nasci, mamãe já tinha filhos grandes e muita experiência com crianças. Fui muito mimada a ponto de causar ciúmes, mas, fora briguinhas rotineiras, presentes em toda família que tem crianças, éramos unidos e muito felizes. Como já foi mencionado não conheci meu verdadeiro pai. No entanto, durante um período que, felizmente durou pouco, fui obrigada a conviver com um padrasto frio e autoritário, o que me causou sofrimentos que não gostaria de relembrar; porém este relato não estaria completo se eu prescindisse de mencionar o que passei durante o tempo de convivência com aquele homem. Não foram exatamente sua frieza ou autoridade que me deixaram marcas que considero inapagáveis, mas seu abuso em relação a minha pessoa. Eu não passava de uma criança de nove anos de idade, quando comecei a dar conta do seu comportamento anormal. Gostava de fingir que me tinha carinho ao me pegar no colo e, mesmo na frente de mamãe, alisar minhas nádegas disfarçadamente, fingindo inocência.

Mas eu percebia uma espécie de malícia em seu olhar e, mesmo sem nada entender dessas coisas, não deixava de me preocupar porque já começava a distinguir as diferenças entre os sexos e como os filhos vêm ao mundo. Embora sempre tenha tido uma mãe reservada nesses assuntos, nunca ficava sem uma resposta que matasse minha curiosidade ao lhe indagar sobre coisas, digamos, não muito usuais para uma criança da minha idade.

Á medida que eu crescia e meu corpinho ia adquirindo formas de moça, sentia que ele não se continha em me olhar demoradamente. As carícias e os alisamentos não tinham mais razão de ser porque eu já tinha um corpo desenvolvido por volta dos onze anos. Meus seios começavam a chamar a atenção. Sua tara começou a aumentar e eu percebia isso quando não usava sutiã, pois ele não perdia oportunidade de me ver abaixar ou fazer qualquer movimento que afrouxasse a minha blusa. Um dia, ao se despedir para o trabalho com um beijo em meu rosto como sempre fazia, ele se excedeu e eu, por pouco não levei até mamãe a ousadia da sua atitude. Eu estava estudando na mesinha da área por onde ele passaria para ganhar o portão. Ao ver-me não conteve o sorriso e os ditozinhos assanhados como sempre fazia ao estarmos sós.

- Estudando! Que coisa bonita! Dá cá o meu beijo – e abaixou-se para fazê-lo.

Para o meu azar ou para a sua sorte acabara eu de sair do banho há poucos instantes e, na pressa e fome de tomar o café, não fui ao quarto buscar um sutiã. Ele vira meus seios desnudos antes mesmo de se abaixar para o beijo e o perfume do sabonete deve tê-lo alucinado ainda mais. Então não poupou o atrevimento de meter as mãos por dentro de minha blusa e apertá-los e massageá-los rapidamente enquanto me dava o beijo. Eu fiquei vermelha de vergonha e ao mesmo tempo de ódio, enquanto ele saía sorrindo descaradamente. Foram vários e seguidos os dias que me levantei da cama decidida a contar à mamãe o que acontecera. Mas o pudor e o medo eram mais fortes do que a minha decisão. Ao mesmo tempo achava que, se não o fizesse, poderia estar dando a ele uma chance de se aproveitar ainda mais da situação, o que seria horrível para nós todos.

Os dias passavam e a dúvida me corroía. Quanto a ele, consegui que ficasse desconfiado de que mamãe soubesse e não quisesse reagir ou comentar a respeito. Olhava-me ressabiado na mesa do café. Para mim isso não deixou de representar um bom sinal; talvez parasse por ali mesmo com os seus abusos. Levada por esses pensamentos, resolvi nenhuma atitude tomar, pois achei que o caso se tivesse ali encerrado. Mas eu estava totalmente enganada, pelas coisas que ocorreram depois.

Eu evitava, por todos os meios, estar a sós com o meu padrasto. Arrumava um pretexto qualquer para ir à casa de alguma amiga da vizinhança sempre que mamãe precisasse se ausentar na parte da manhã. Como ele era um funcionário autônomo não tinha compromisso com horários e, sabendo que mamãe teria que se ausentar e que meus irmãos iriam para a escola, dava um jeito de permanecer em casa ou retornar no meio da manhã. Com medo de suas atitudes, ao vê-lo entrar pelo portão eu rodeava a casa por fora sem que me visse e saía para a rua. Não foram poucas as vezes em que precisei vagar pela praça, aguardando a volta de mamãe porque não encontrara em casa nenhuma de minhas amiguinhas.

Consegui manter essa espécie de distância de meu padrasto por mais de dois anos. Contudo não foi nada fácil suportar as coisas que ele fazia dentro de casa sem que ninguém percebesse. Enquanto que natural e irreprochável na presença de todos, continuava o mesmo tarado e atrevido. Não perdia uma oportunidade de me dizer gracinhas ao ouvido, passar as mãos em minhas coxas por debaixo da mesa e me lançar olhares de desejo e malícia. O incrível é que conseguia fazer e dizer essas coisas sem que ninguém mais esboçasse a mínima desconfiança.

Não raras foram as vezes em que o flagrei olhando-me enquanto tomava banho - embora não conseguisse a visão perfeita de mim – vigiando-me ao trocar de roupa ou parado na porta do nosso quarto às primeiras horas da manhã, apreciando-me enquanto dormia. Chegou ao cúmulo de entrar e se esconder atrás da cortina do banheiro porque sabia que eu me dirigia para lá a fim de tomar o meu banho matinal. Só o notei após tirar a blusa e o sutiã. Pensei imediatamente em mamãe e, quando ele deixou as cortinas foi por causa dela que me contive.

- Se o senhor tentar alguma coisa comigo, dou um grito e acabo com isto de uma vez por todas – eu disse enquanto tapava meus seios com a toalha.

Notei nele uma palidez própria de um ato vergonhoso. Abaixou a cabeça e saiu sorrateiramente sem que, para sua sorte, ninguém percebesse qualquer anormalidade.

Por volta dos meus quatorze anos eu já atingira um corpo esbelto e uma beleza que chamava a atenção. Por mais que mamãe insistisse para que eu arranjasse um namorado eu ainda não sentia esse desejo, tampouco essa necessidade. Não sei se por que casara e fora mãe muito cedo, tivesse essa inclinação de achar que todas as moças deveriam fazer o mesmo. Eu estava indo muito bem nos estudos e essa atividade absorvia grande parte das minhas horas diárias. E isto só me fazia bem porque, além de preparar-me para um futuro próspero eu não tinha que ocupar a mente com as travessuras do meu padrasto. Eu já estava quase que acostumada com aquele seu jeito de ser, não porque gostasse – na verdade, tinha uma espécie de nojo de suas atitudes – mas porque isso enchia meu ego e me fazia sentir desejada e até capaz de enlouquecer um homem como estava enlouquecendo o meu padrasto.

Como toda mocinha, eu gostava de coisas bonitas, belas roupas, perfumes e joias. O problema era que vinha dele a única renda de nossa família. Desde nova acostumara-me a pedir-lhe um trocado de vez em quanto e nesse ponto sempre fora atendida. Contudo, a partir de determinado momento parei com essa atitude e, mesmo quando me oferecia dinheiro eu o rejeitava peremptoriamente. As razões que me levaram a essa decisão eram claras para mim e eu não queria que ele usasse desse expediente como um caminho a facilitar suas investidas. Acontece que as semanas e os meses passavam e eu não via dinheiro de espécie alguma. Pensei inclusive em me dedicar a alguma atividade em tempo parcial, mas fui terminantemente proibida pela minha mãe. Conseguia dela alguns trocados de vez em quando, mas mesmo sendo pequenas as quantias eu me ressentia, posto que pudesse afetar as suas despesas.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 29/12/2014
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