Pequeno conto de paixão e lua
O céu estava carregado novamente, temia as tempestades do Caribe, geralmente, uma simples chuva se transformava num poderoso furacão, o que já vinha acontecendo no Brasil.
Quando despertou ele não estava na cama, Savana lembrou a noite de paixão, as infinitas vezes que estiveram juntos, não conseguia levantar, o corpo ainda estava mole, a cabeça pesava. Pelo vidro, via o mar bastante mexido, as palmeiras estavam agitadas, a orla estava coberta por algas e folhas, poucos barcos haviam saído para a pesca. Savana se espreguiçou, cobriu os olhos e tentou dormir, mas a imagem de Miguel não lhe saia da cabeça, o corpo bronzeado, o peito largo, a voz grave, as carícias, experiências que ela nunca havia experimentado quando casada. Pensou que talvez fossem formas de amar diferentes, continuava amiga de Claudio que sempre foi gentil, terno e apaixonado, o amor que nutria por ele era meio confuso, nunca entendera seu papel na relação, se era a irmã, a amiga, a parceira, mesmo assim, viveram anos muito felizes. Lembrou-se da máxima de Vinícius de Moraes “que seja eterno enquanto dure” e durou bastante tempo. Em Miguel, Savana via a figura mais possessiva, mais austera, mais dominadora, talvez por isto tenha se apaixonado.
Maria trouxe o café na cama, a vontade era ficar deitada, pegar um bom livro e desfrutar do dia fresco, a piscina estava coberta de folhas, impossível um mergulho. Gostava do sábado, podia organizar a casa, fazer os planos para as oficinas com as crianças da vila, gostava de ir ao mercado, conhecia quase todas as pessoas, voltava sempre com presentes especiais, peixes, frutas e flores. Estava empolgada com o novo projeto, os artistas da vila iriam retratar a cidade, seria um espécie de concurso, Savana descobriu novos talentos, ganhou uma casa de barcos que estava abandonada, o lugar era espaçoso, serviria tanto para as oficinas como para galeria. Com as oficinas, conseguiu resgatar meninos e meninas que estavam em situação de risco, ia acolhendo a todos. Ao entardecer chegava cansada, mas muito feliz.
Logo estariam na casa nova, esta moderna, concreto e vidro, poucas peças, um mezanino em forma de u que logo iria se transformar em galeria. A piscina não era grande, mas era de fundo infinito, de longe não se avistava a borda, era como se brotasse do mar. Levariam poucos móveis, o grande sofá de couro branco, dois persas, o piano e a escrivaninha francesa que pertenceu ao pai de Miguel. Os quadros, as cerâmicas e o painel de Pollok chegariam por último.
Ele estava dormindo no quiosque, devia estar muito cansado, Savana tomou um gole de tequila que estava no copo e sentiu de imediato o corpo arder, foi se afrouxando e a visão estava embaçando de leve. A bebida desceu queimando, estendeu a manta sobre a grama, ao lado dele, mas deixou que ele dormisse. Estava de bruços, havia soltado as alças do maiô, sentiu a mão dele sobre as suas costas, sobre os cabelos, fechou os olhos e dormiu.
Começa a soprar um vento mais frio, sentiu o corpo molhado de Miguel sobre o seu, estava pesado, Savana fez força para virar para cima, mas ele não permitiu, largara o peso todo sobre ela. Tentou lutar, mas foi em vão, gostava do contato da pele molhada sobre o corpo dela, o peito arfando, esmagando os seios, as pernas pressionando as coxas que estavam entreabertas. Muitas vezes ficavam sobre a cama brincando de luta, mas ela perdia sempre, começa a rir e não parava, até que ele a dominava e tudo se consumia em intermináveis momentos de paixão.
Se amaram sobre a grama macia, no horizonte, uma nesga de lua manchava de branco o oceano, foram engolidos pela noite – imenso manto de estrelas.
Beijo a todos!