Coração Partido

Parece que não vai passar, mas vai. Parece que a dor não vai embora, que vai te sufocar. Parece que se não disser tudo o que quer, tudo o que precisa, não vai ter paz. Agora parece necessário tentar até o final, ou, se for o caso, sentir o orgulho massacrar. Agora rola essa vontade de te pedir pra ficar, pra não ir, e tem também o medo de me humilhar, e piorar. Inquietude, ansiedade, quando acaba é assim mesmo, parece que ninguém te entende. Aquela busca por achar o que deu errado dói mais. Uma tortura, impulsos incontroláveis, fossa, amigos e a vontade de matar quem te fez mal.

É assim, dormir é um alívio, então você acorda e percebe que absolutamente nada mudou, já acorda com o peito apertado e um bolo na garganta. Se arrasta para as próprias obrigações sem vontade, se entrega a tristeza sem fim. Ameaça levantar e cai de novo, uma loucura, um carrossel emocional desgovernado. Olhar para as esquinas e esperar que aquela pessoa tenha se tocado da burrada que fez, já faz parte da rotina, mas o que encontra é a esquina vazia, vasculha o passado em busca do que possa ter saído errado, pega atitudes estúpidas e pequenas pra se culpar.

E um dia você acorda e não importa se está fazendo o maior sol ou se está nublado, a bola na garganta foi embora. Você olha para os lados, analisa opções, faz as obrigações com mais vontade. Uma hora as coisas vão ficando pra trás, a dor vai sumindo e levando com ela as olheiras fundas. Em algum momento, sem mais nem menos, pequenos ou grandes prazeres começam a se destacar, analisamos racionalmente, percebemos que talvez tenha sido para melhor. Nosso próprio mundo volta à rotação comum, a gente começa a analisar de longe e o problema vai ficando pequeno. Pode faltar uma semana ou alguns meses, mas as estações mudam. A sorte muda. Uma hora os filmes saem de cartaz e as músicas da rádio dão lugar a playlists novas. Os cenários vão mudando e as lembranças vão perdendo a resolução, se tornando mais fracas a ponto de não trazerem mais pesar. Em algum momento, quando parar de doer, a gente consegue até lembrar com carinho, sem arrependimentos.

A dor passa e fica a força. Uma garra que a gente só descobre quando se decepciona. As coisas boas aparecem e parecem muito mais brilhantes depois de um período de escuridão. Nada é insuperável, por mais que pareça ser no princípio. Temos o poder de mudar de direção com um certo desapego, oportunidades novas aparecem, pessoas novas entram nas nossas vidas e de repente aquele coração machucado cicatrizou.

Paula Tamiris
Enviado por Paula Tamiris em 11/12/2014
Reeditado em 11/12/2014
Código do texto: T5066034
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.