Os sapatos e os pés
 
Era uma vez um par de sapatos, já pelo tempo servido
Ali no canto encostado.
Boa desculpa tinha a dona, estava feio e surrado
Sem brilho e já sem cor!
Pouco lhe dava valor... Só defeito encontrava!
Nele muito caminhara.
Até sola lhe trocou... Se tinha um calo no pé
Nele claro estava a culpa.
Quanto à maciez e conforto, era coisa sem valor.
Pra pouco isto contava.
Melhor ficar de pé no chão
Mas... Se aparecia uma pedra,
Um prego, intempéries, ou até toco.
Corria para pegá-lo e logo estava no pé
Para isto era bom
... Protegia o caminhar.
Um dia passando alguém, viu o sapato jogado
Lá num canto desprezado
Pegou e levou, sabia, estava feio
Mas... Viu nele um valor.
Lavou, limpou com cuidado. Tirou a lama e os riscos
Poliu bem e com capricho
Engraxou e renovou, aquele chamado lixo
Ficou novo renovado
Brilhando melhor que novo. Pôs nos pés, apaixonou.
Sentiu-se bem, confortável.
Melhor ainda que novo, esta o soube tratar
Caminhava com cuidado.
Olhava onde pisar, se na frente havia uma pedra
Desviava pela grama.
Às vezes até o tirava, para o sapato preservar.
Tirava do pé, alisava
Como se fosse joia fina, de grande valor
No melhor canto o guardava.
Um dia não muito longe, a antiga dona o viu
Quis gritar, fez até pirraça.
Partiu até para tomar... Mas, aconteceu uma coisa.
Até difícil explicar...
O sapato naquele dia teve uma reação
Como quem tem consciência
Não esperou reação.
Deu-lhe um chute na bunda
E falou: 
Para os seus pés,
Volto pra você mais não!

Moral da estória... Algumas vezes somos só sapato para os pés...
... Em outras somos para os pés "O" sapato...

 
...

Nasser Queiroga
Enviado por Nasser Queiroga em 08/12/2014
Reeditado em 25/06/2020
Código do texto: T5062929
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