Em um Olhar o Amor (Baseado em Fatos Reais)
Falando sobre amor, questionando suas tantas naturezas, alguém não tão próximo de mim confiou-me pequeno relato de sua vida; depois de ouvir perguntei se poderia escrever sobre, e ela com os olhos marejados respondeu-me: Seria um prazer ter esse momento eternizado, me fez prometer cumprir certas exigências, por isso, nomes e locais serão outros, mas isso não altera o fato de que o amor pode ser um segundo e está em todos nós, independente do que somos, fomos ou seremos.

Mariza sentia-se sozinha, era como qualquer mulher do lar, mas sua família não era a verdade que fazia questão de mostrar ao mundo, seu marido a submetia a longas noites de solidão e crueldades, não físicas, mas que declinava seu espírito sensível ao abismo da dor, traída e ferida e não muito vigiada, procurou preencher a noite escrevendo em um blog, desabafava todos seus sentimentos, mas não como fossem os dela, ela criou uma personagem, sem rosto e sem nome.
Seu esposo ao ficar sabendo, não fez objeções, na verdade ele não se importava com ela, ou com o que fazia, e cada vez mais ela escrevia; até mesmo na esperança de que ele lesse, pois o que escrevia ao mundo, não tinha coragem de lhe falar.

Alguns meses, e seu blog não tinha muitos leitores, mas o pouco que tinha sempre foi fiel, e um de seus leitores identificava-se pelo pseudo de Marilyn Monreo.

Mariza gostava dos comentários de “Marilyn” e quebrou a regra de não responder comentários, e ao responder o comentário de “Marilyn” um amizade nasceu, o que Mariza não imaginava é que “Marilyn” sofria tanto quanto ela, e que aquela amizade tinha o mesmo significado para ambas, elas se preenchiam e madrugadas adentraram rindo, não falavam de dores, buscavam no fundo de suas memórias momentos felizes para dividirem.

Dois anos passados, Mariza já sabia que “Marilyn” na verdade era Rosangela, e Rosangela sabia que Marisa era Marisa, mediante um trabalho de Rosangela essa poderia vir ao estado de sua amiga, São Paulo, e poderiam ficar um dia juntas.
Fernando, esposo de Mariza, ofereceu-se para busca-la na rodoviaria juntamente com sua esposa, que chegava do Rio Grande do Sul...

Não conheciam-se pessoalmente ainda, mas quando Rosangela desceu do ônibus Mariza a reconheceu, mas na duvida nada disse, Rosangela desceu olhou para os lados, até que viu Mariza, nunca havia a visto antes, nem mesmo por foto, mas largou as malas e correu até seu encontro, se abraçaram e choraram, olharam uma nos olhos da outra, e claro era que não se tratava de um encontro, mas de um reencontro, Mariza encantou-se com a beleza da amiga; exótica. Cabelos longos loiros como o sol, na cabeça uma boina vermelha combinando com o carmim dos lábios, seus olhos embora tristes, lembrava toda beleza e todo mistério do mar, linda! Agora ficava claro porque ela usava o pseudo de Marilyn Monreo, Rosangela ao ser apresentada ao rapaz, que olhava sem entender a cena, turbou-se e a felicidade fugiu de seus olhos. Ainda na rodoviária abraçadas como seres que não se viam a séculos, Rosangela dizia de forma que somente a amiga pudesse ouvir:


- Eu não quero ir embora, tenho que ir hoje, mas não quero, quero ficar com você...

Mariza responde com voz quase muda:


- Então não vá...

Mariza foi mostrar a cidade, a selva de pedra, mas Rosangela parecia não ouvir ou ver nada; seus olhos perdiam-se em Mariza e esta por sua vez fugia desse contato.

Passaram um dia juntas, e Fernando, creio eu, sentiu , talvez, pela primeira vez a sensação de não existir...

Na hora de partir, ela inda tentou vender sua passagem de volta, mas não conseguiu, teria de ir, e novamente muitas lagrimas, uma não queria deixar a outra, até que Rosangela entra no ônibus a muito custo; quando Mariza, sozinha, estava ali vendo o ônibus partir, não assustou-se ao perceber que este havia parado. Dando a desculpa que ficou com a bolsa da amiga Rosangela pede que parem o automóvel, Mariza se surpreende com Rosangela descendo aos prantos com sua boina na mão, Mariza vai ao seu encontro sem entender, a chorosa moça novamente a abraça coloca a boina em sua cabeça e diz soluçante...



- Tudo mentira, não há trabalho algum, eu estou aqui somente pra te ver, sai sem avisar ninguém em casa, nem imaginam onde estou, mas eu precisava olhar seus olhos e dizer que eu te amo, não sei por que, sou uma mulher que sempre apaixonou-se por homens, mas eu vi em você o que procurei em todos os amores que vivi...

Disse mais uma vez que a amava e correu sem dar a chance de resposta para a outra, Fernando que olhava produtos em uma loja, alheio parecia estar ao que acontecia. Não questinou a esposa sobre o comportamento até possessivo da amiga, nada falaram, talvez tenha percebido a tristeza na mulher, mas calou-se, ora, vai sabe seus motivos?

Mariza terminou essa historia com lágrimas banhando seu belo e jovem rosto, mas já marcado pelos golpes da vida, mas havia também rugas de risos, que até aquele momento era o seu segredo; eu entrei em estado pensativo, senti que havia algo mais que ela não queria dizer, ou tomava coragem para contar, então resolvi perguntar sobre Rosangela. Mariza, com os olhos distantes me respondeu:



-Eu não sei, só sei que, esteja onde estiver, ela deve ter me esquecido, pois a magoei... Eu não podia me entregar ao que surgiu entre nós, por pura covardia, sei que ela não quer me ver, me quer longe, e assim quero permanecer... 
Desse dia um momento me marcou. Fernando havia parado em uma loja de conveniência e nos deixou a sós no carro, lembro de ter me virado para o banco traseiro e a olhei, e ela fitou seu olhos nos meus, tanto amor eu senti saindo dela para mim, tanto amor, ela aproximou-se, e acariciou-me o rosto com carinho que nunca mais experimentei, eu fugi mais uma vez, e ela me disse “você é especial” e eu peguei em sua mão e disse o mesmo... Seria estranho que nos beijássemos ali, alguém poderia ver, Fernando poderia ver... Mas mesmo assim eu lamento ao mesmo tempo que sou feliz, lamento por não saber o que é ser beijada pelo amor, mas sou feliz pois por segundos, meros segundos eu fui mais amada que a própria Rainha de Sabá fora por seu Amado.
Será que era piedade o que ela sentia?
Será que eram só duas mulheres que não acreditavam mais no amor dos homens ou de qualquer outro ser?
Não sei responder... Sei que esse instante até agora é o melhor que tenho e não quero perder... É o que me faz sentir acompanhada quando a solidão machuca, é a pureza que destrói a superficialidade e a promiscuidade do mundo... Amor, passou por mim e não ficou, mas passou em um olhar, apenas um olhar!


Eu, que a tudo ouvia, não tive palavras, como não tenho agora, mas acredito que corpos são apenas corpos, mas a alma por ser alma não é presa a convenções e regras da sociedade ou da religião. E se isso for uma doença, bom seria que todos adoecessem, pois a questão aqui mão é homossexualidade, ou bissexualidade (ou seja lá o que for) a questão aqui é o amor, o puro e verdadeiro amor que se manifesta onde há espaço para ele, amor... Simplesmente amor que nasce no coração do homem, sem condição. O casamento de Mariza era legitimo por ser um casamento dentro do que a sociedade escolheu por normal?
O que legítima uma união não são leis, alianças, cartórios, padres e etc... É tão o somente amor que faz uma união legitima e abençoada...
Esse é um caso promíscuo pelas protagonistas serem duas mulheres?
Mas não existia a promiscuidade quando o esposo sem amor, somente por prazer, possuía sua esposa, sem respeito com seu corpo e seu coração, e assim procedia não só com ela?

No final quem tem a resposta não sou eu... Mas para mim o amor santifica o que para muitos é pecado!



Luana Thoreserc




Luana Thoreserc
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 30/11/2014
Reeditado em 30/11/2014
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