O DOCE SABOR DO AMOR (Capítulo 7)
Enquanto Marrie apresentava seus dotes culinários no castelo, Julie não suportava o desespero de não saber o paradeiro da filha única. Durante a noite, depois que percebera o seu sumiço, saiu sozinha pelos bosques procurando-a. Antoine ficou com os hóspedes, mas antes a aconselhara a não ir atrás da garota. Com certeza o sumiço de Marrie era um arroubo da sua juventude e logo ela estaria de volta. Na verdade, Antoine se sentia um pouco temeroso caso a garota voltasse e o acusasse de ter tentado atacá-la. Iria negar, isto era certo, mas não sabia se Julie iria acreditar nele. Até era melhor mesmo que Marrie tomasse seu rumo e não voltasse nunca mais.
No outro dia, com a falta de notícias, Julie pediu a todos os viajantes que estavam na estalagem que a ajudasse encontrar a filha. Descreveu minuciosamente como ela era e que se alguém a visse, por favor, implorou Julie, que a trouxesse de volta. As pessoas se apiedaram do desespero de Julie e prometeram que fariam o possível.
Quando a noite chegou encontrou Marrie mais calma e cansada de tanto trabalhar na cozinha. Mesmo assim, ela estava bem animada com o novo trabalho. Na estalagem, ela e a mãe se alternavam nesta atividade. Agora, no entanto, Marrie se encarregara praticamente sozinha da cozinha e como somente o conde e seus empregados estavam no castelo, ela conseguiu perfeitamente dar conta de tudo. Apesar de encantada com sua nova vida, temia que isto fosse passageiro. E sofria de saudades da mãe. A culpa por fazê-la sofrer também doía no seu peito. Mas quanto a isto não podia fazer nada enquanto ela estivesse com Antoine.
Marrie estava sentada na cama preparando-se para dormir quando Louise entrou no quarto que dividiam. Um aroma doce envolveu o ar.
- Humm... que cheirinho bom é este? – perguntou a garota.
Louise mostrou um vidro de perfume pequeno.
- Veja, ganhei do meu namorado. Ele é cavalariço aqui do castelo.
Os olhos de Marrie se arregalaram. Ela somente vira um frasco de perfume uma vez na vida e pertencera a sua mãe.
- Que lindo, Louise – admirou Marrie segurando o vidro com delicadeza.
- Vamos, pode cheirar.
Marrie fez o que Louise e disse e aspirou profundamente.
- Puxa, Louise... Você tem sorte.
- Nem tanto – retrucou ela. – Ganhei este perfume semana passada. E ele deixou minha pele vermelha. Veja.
Louise estendeu o braço para que Marrie pudesse ver um vergão vermelho.
- E ele coça! – exclamou a moça. – Tentei usá-lo de novo agora à noite, mas o problema voltou. Quer este perfume para você?
Os olhos de Marrie ficaram mais arregalados ainda.
- Verdade?
Louise riu.
- Claro! Eu não vou poder usar!
- Mas… e o seu namorado? Ele irá ficar magoado!
A moça pegou a mão de Marrie e ali depositou o perfume, forçando-a a fechar os dedos.
- Pegue, é seu. Quem sabe você conquista um grande amor usando-o?
O conde veio à mente de Marrie imediatamente.
- Adoraria que me desse sorte... Quem sabe?
Sem pensar duas vezes, Marrie colocou algumas gotas no braço.
Aspirou profundamente o aroma e agradeceu:
- Muito obrigada, Louise. Puxa, não esperava ganhar um presente caro assim.
Louise riu.
- Não vá temperar a comida do conde com o perfume, hein? Nós teremos grandes problemas se isso acontecer.
As duas moças riram e se prepararam para dormir. Louise apagou o lampião e logo as duas estavam no escuro. Ainda que cansada, Marrie custou um pouco a conciliar o sono.
Como estaria Julie?
*
- A cozinheira mudou? – perguntou o conde engolindo o último pedaço do pernil que Marrie preparara com tanto esmero. – Fazia tempo que eu não comia nada tão delicioso.
Louise encarou o patrão sem ter o que dizer. Ninguém o informara que a cozinheira de tantos anos simplesmente partira sem dar satisfação. Normalmente teriam lhe avisado, mas nada foi dito para proteger Nicolle.
- Sim. Não. Quer dizer...
- Chame Edda aqui. Quero parabenizá-la.
Louise não teve alternativa senão mentir:
- Conde… Edda precisou se ausentar por alguns dias... Sua mãe está gravemente enferma. Então Jacques chamou uma prima distante e…
- Ah, então a nova cozinheira é aparentada de Jacques? Chame-a aqui, quero conhecê-la.
Era uma ordem e o conde não gostava de ser contrariado.
- Sim, senhor.
A moça se dirigiu apressada até a grande cozinha e encontrou Marrie limpando tudo. Parecia distraída e levou um susto ao ver Louise pálida, ao seu lado.
- Ué… o que houve? Você está com uma cara tão estranha…
- Nicolle, eu tentei, mas não consegui! O conde quer conhecer a nova cozinheira. Menti que você é uma prima distante de Jacques…
- O quê? – Foi a vez de Marrie ficar branca como um fantasma. – Ele… ele quer me ver?
- Sim, está lhe chamando no salão.
- Eu não vou! – quase gritou Marrie. – Não posso! Ele… ele vai me expulsar daqui!
Marrie deu meia volta e saiu correndo da cozinha em direção ao alojamento. Louise ainda a chamou, angustiada:
- Nicolle! Nicolle, por favor, não faça isto!
No segundo seguinte o conde estava na cozinha, parado atrás de Louise.
- Onde está ela?
- Oh, conde… - Louise buscou ar para se recuperar do susto e das mentiras contadas. – Ela não está aqui. Parece que está com dor de cabeça e precisou se deitar um pouco.
Ele sacudiu os ombros e disse conformado:
- Bem, não faltará ocasião – Antes de sair, no entanto, o homem respirou profundamente o ar da cozinha. E disse sorrindo – Alguém aqui tem muito bom gosto.
O conde se referia ao perfume que Marrie havia ganho de presente de Louise. Sem jeito, ela retrucou:
- Acho… acho que deve ser de Nicolle e…
- Ah, este é o nome da cozinheira fujona? Bem, diga a ela que amanhã virá um grupo de cinco amigos almoçarem aqui no castelo. E quero um serviço perfeito.
Era uma ordem. Louise murmurou:
- Sim, senhor. Vamos fazer o melhor possível.