Um Eclipse A Deriva

UM ECLIPSE A DERIVA

As luzes iluminavam sua velha mania, amar apenas nos dias de rebeldia, assim estressado e tenso em plena luz do dia se declarava a seu grande amor na correria do trabalho, uma declaração que nunca vingou afinal estava muito atarefado, mas até que a moça jovem gostou, ligou de volta para o rapaz e sem pestanejar deu-lhe algumas dicas, ela nunca gostara de folia, os barulhos dos bêbados do bairro a incomodavam na rua, até neste dia um velho senhor a abordou, fingiu não escutar e saiu sem se importar, negava o pedido por não querer apenas sexo, ela o repudiava, se arrumou toda e resolveu se encontrar com o trabalhador e honesto rapaz. Passado algumas horas o jovem parecia estar prevendo algo de muito ruim para acontecer, pela primeira vez havia bebido cerveja e o encontro ocorreu em uma fria noite de lua cheia, o encontro foi um desastre deixando a bela moça desolada e o rapaz arrasado, dormiu embriagado e acordou no outro dia excitado, pensava nela o tempo todo e chorava por não conseguir conquistá-la, resolveu pedir férias no trabalho e pela internet contratou um serviço de turismo em um cruzeiro para duas pessoas, ela seria a mulher escolhida, para ele a mulher da sua vida, o jovem rapaz sabia que experientes homens a cortejavam, mas queria provar para a garota que apesar de ter manias exageradas de trabalho em excesso e um certo transtorno de humor que sempre atrapalhara sua vida, a juventude ainda tem pessoas especiais e que zelam o amor e a família. Ligou então para a moça e a convidou como um pedido de desculpas para viajar com ele de avião partindo do Rio De Janeiro onde moravam até Amsterdã onde pegariam um cruzeiro até os castelos de Praga e Veneza, tudo muito romântico, ela ficou confusa sem querer ouvir e abriu os olhos preguiçosamente, encolhida e torta na cama, tentava mentalmente aceitar esta idéia, acabou aceitando o convite desde que sua patroa a liberasse em férias. Deu um beijo terno em seu pai e um gole no café a uma mordida no pão pela manhã saindo desesperadamente e quando chegara a tardinha no por do sol a resposta da sua chefe foi positiva, comemorou, suas mãos tremiam que mal conseguiu entender o que estava escrito no bilhete que chegou no exato momento da resposta, algo escrito como “Chegou a nossa vez de brilhar pelo mundo”, ela sorriu e ligou para o rapaz, pegou suas roupas sem dizer adeus aos pais em um ato de covardia e ingratidão, isto poderia lhe custar caro. O grande dia chegou e arrependida resolveu da casa do rapaz ligar para os pais pedindo desculpas por não ter avisado nada, seus pais a perdoaram, pudera a moça sempre foi criada muito presa e nunca teve liberdade para nada, além disso, apanhou muito na infância que considerava perdida pelo seu próprio pai que as vezes a humilhava, enfim ela teve a coragem de sempre perdoar sua família, coincidentemente naquele dia uma ocultação astronômica rara que ocorre quando a posição de um objeto celeste em trânsito atravessa na posição aparente de outro, ocorria nos céus da sua cidade, a jovem olhava para as nuvens que já não mais existiam com medo da maré de sizígia, que é a soma da forças gravitacionais dos astros envolvidos, o rapaz a tranqüilizou de que a maré estava a favor deles, então partiram pelo mundo afora, desembarcaram felizes da vida como um par de amigos ainda, em pleno os canais de Amsterdã rolou o primeiro beijo, cansados e sorridentes chegaram num hotel na beira das águas dos canais. Quando chegava de manhã, uma borboleta a esperava avisando através de uma queda no chão que dentro de uma caixinha minúscula nas asas da borboleta operadora estava uma miniatura de noiva com um par de alianças, o jovem rapaz se superou e a garota já apaixonada queria se entregar de corpo e alma,porém ele rejeitara, dizia estar cedo demais. Ao partirem no navio rumo a Praga o tempo estava ofegante e o eclipse solar tomava-se responsável por mais um fenômeno que os cientistas não puderam explicar, porém esta sombra que ainda imperava nos céus, teimavam em persuadi-los, entretanto para o casal a parte final desta viagem cessaria quaisquer dos fenômenos naturais que teimassem por semanas impedi-los de serem felizes juntos, tanto que o desvio do navio na sua rota, por efeito do vento ou de uma corrente foi apenas algo que no fundo ambos já esperavam, ele ligou para seu trabalho no meio do oceano e pediu demissão, ela nem sequer teve este trabalho, o navio afundava encalhado e enquanto pessoas gritavam desesperadas o casal resolveu pular no meio de tubarões e um mar forte levado pela correnteza, fizeram amor mar abaixo sabendo dos seus destinos para sempre em um eclipse a deriva.

Helládio Holanda
Enviado por Helládio Holanda em 16/11/2014
Código do texto: T5037613
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