A Morte de Capitu
“Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada”. A descrição de Machado de Assis em Dom Casmurro, não poderia definir melhor os olhos daquela que agora faço referência.
Quando menos esperava lá estava ela com seus olhos de cigana a me perseguir. Por vezes fui ríspido. Tentava ler ou escrever e ela não desistia. Sempre acabava por me render aos seus encantos. Pequenina que era, se aninhava em meu colo. Tentava em vão expulsá-la, não conseguia. Seu poder de persuasão era irresistível.
Um dia cheguei e ela não estava. Procurei por toda casa. Nada. Fui ao quintal. Também lá não estava. O que teria acontecido? Abandonou-me como fizera as mulheres que passaram pela minha vida? É claro que sempre admiti ser de difícil trato. Mas, também Capitu?
Sai à rua procurando-a. Andei a esmo por horas. Voltava triste para casa até que, de repente, ouvi um gemido baixo, quase um lamento. Procurei por toda parte. Nada. Continuei a procura e para minha surpresa, em um terreno baldio é que pude ver o que não queria. Era Capitu, agonizante. Fora aparentemente atropelada e lá jogada. Seus olhos suplicavam ajuda. Quem faria uma maldade dessas? Tomei-a em meus braços. Procurei desesperado ajuda. Seu corpo pequenino tremia. O meu também. Na clínica, fiquei na sala de espera aflito. Enfim a notícia fatídica: Capitu morrera. Jamais veria vida naqueles olhos.
Capitu deixou um imenso vazio. Jamais pensei que uma cachorrinha pudesse causar tanto estrago na vida de alguém. Principalmente que esse alguém fosse eu. Saudade.