O DOCE SABOR DO AMOR (Capítulo 3)
A chuva parou por volta das sete horas da noite. Mesmo assim, as estradas da região permaneciam cheias de lama acarretando a chegada de mais hóspedes. O dinheiro pago pelo conde estava devidamente costurado dentro do colchão no quarto de Julie. Para infelicidade de Marrie, o último viajante a chegar naquela noite foi Antoine, o namorado da mãe.
Marrie não o suportava e não podia entender o motivo de uma mulher bonita como ela se envolver com um homem tão repugnante. Apesar de ele possuir uma boa condição financeira, Marrie não considerava Antoine um homem confiável. Gordo e praticamente careca, os olhos azuis do homem pareciam persegui-la por onde quer que ela andasse. Geralmente Antoine passava dois ou três dias por lá. Coincidentemente ou não, eram nestes dias que a jovem trabalhava o dobro, já que Julie se desdobrava em atenções e mimos ao namorado.
A estalagem ficou silenciosa depois do jantar, embora houvesse homens e algumas famílias dormindo no salão. Depois de tudo limpo e arrumado, mãe e filha estavam exaustas. Julie levou Marrie até a porta do quarto por volta das dez horas da noite. E recomendou:
- Tranque bem a porta e a janela, querida. Se você escutar alguma coisa diferente, grite. Antoine está aqui para nos defender.
Marrie sentiu vontade de rir. Antoine não parecia ser a pessoa indicada para proteger mulher alguma. Bem ao contrário do conde...
- Está bem, mãe. Fique tranquila.
Julie deu um beijo apressado na filha e foi logo para o quarto que dividiria nos dias seguintes com o namorado, embora ela tivesse certeza que sua filha não sabia disso. Mas era impossível não escutar os gemidos da mãe e os urros de Antoine. Julie se sentia em segurança com o namorado por perto, ao contrário de Marrie que naquela noite tapou a cabeça com um travesseiro para não escutar os ruídos grotescos do quarto ao lado.
O dia amanheceu ensolarado, o que certamente faria com que as estradas ficassem logo em perfeitas condições para os viajantes. Marrie, porém, acordou quando o galo cantou e, antes de o primeiro raio de sol nascer, já estava na cozinha preparando, afobada, o café da manhã. Julie demoraria um pouco ainda para aparecer.
Enquanto colocava o leite para ferver, Marrie fechou os olhos, buscando na mente o sonho que tivera com o conde. Era impossível esquecer os detalhes. Sonhara que estava cavalgando ao lado dele, ambos em dois belos cavalos brancos. Quando chegaram à beira do penhasco de La Primavère, o conde então a ajudara a descer do animal e a enlaçara com seus braços fortes. Com as estrelas sobre eles, o casal trocou um longo e terno beijo, selando o mais puro e eterno amor.
- Ei, garota! A cabeça está na lua? O leite está quase derramando!
Marrie imediatamente abriu os olhos, bem a tempo de evitar que o leite se desperdiçasse. Não podiam se dar a este luxo.
- Ah… Oi, mãe… Puxa, não esperava você tão cedo.
- Antoine pediu uma xícara de chá com mel – respondeu ela, apressada para atender ao homem. – Dentro em pouco eu volto para ajudar você.
As primeiras horas da manhã passaram rapidamente e Marrie quase nem percebeu. Antoine só foi aparecer depois que a maioria dos viajantes já havia partido, ficando o salão praticamente para ele. A contragosto, Marrie levou para Antoine um cesto com pães frescos, enquanto o café esquentava na cozinha. Julie conferia o pagamento dos hóspedes e não prestava atenção nos dois.
Quando Marrie colocou os pães na frente dele, escutou a voz desagradável do homem:
- Obrigado, garotinha.
- De nada – respondeu ela, ignorando os olhares libidinosos dele e dando meia volta.
- Marrie, volte aqui.
Ela lentamente se virou. Ambos se encararam por poucos segundos, tempo o qual Antoine a analisou de alto a baixo.
- Você se tornou uma mulher muito bela.
Imediatamente Marrie se perguntou por que não fora o conde a lhe fazer aquele elogio. Vindo de Antoine aquilo era nojento e não lhe fazia diferença alguma.
- Muito obrigada.
- Falo sério. Este lugar é muito escondido. Você precisa expor sua beleza – ele baixou o tom de voz e arrematou. – Eu posso levá-la a Paris.
Marrie ficou vermelha de raiva e gostaria de ter em mãos leite bem quente para atirar sobre ele. Ofendida, a jovem deu meia volta e retornou para a cozinha. Não via a hora de aquele homem partir.