O DOCE SABOR DO AMOR (Capítulo 2)
O conde olhou para as duas mulheres com uma expressão divertida. Ora, ele sabia muito bem os efeitos que provocava no sexo oposto. Batendo as duas botas no chão para remover o excesso de água, ele perguntou com sua voz grave:
- Será que chegamos tarde demais? Eu e meu ajudante estamos loucos de fome.
- Oh, claro, senhor! – exclamou Julie cheia de sorrisos. – Aqui servimos comida o dia inteiro, enquanto houver fregueses. Marrie, arrume uma mesa para os senhores.
- Vejo que vocês estavam almoçando. Não queremos ser inconvenientes – retrucou o homem arqueando uma sobrancelha.
- Já estávamos no fim. Vamos, Marrie!
A garota não sentia mais fome alguma. Pelo contrário. A comida parecia entalada na garganta enquanto corria feito uma louca para estender a toalha simples em cima da mesa. Esperava sinceramente que o conde saboreasse a carne. Fora ela quem a havia preparado. Sentia os olhos do conde prestando atenção em tudo o que fazia e em dado momento, seus cabelos se desprenderam da touca e desabaram em ondas vermelhas pelas costas. Por algum motivo, Marrie sentiu-se envergonhada.
Em menos de 15 minutos, os dois homens estavam comodamente sentados saboreando a carne de Marrie e tomando um bom vinho. Julie chamou a filha mais para um canto, de onde ambos não a pudessem enxergá-la.
- Filha, fique aqui na cozinha agora. Não a quero perto deles.
Marrie não escondeu a decepção. Tudo o que queria era ficar próxima ao conde e admirar toda a sua beleza.
- Mas mãe… Você não pode fazer tudo sozinha.
- Posso sim – devolveu Julie um pouco irritada. – Eles irão querer sobremesa também. Deixe-a separada.
Era uma ordem. De má vontade, Marrie foi para a cozinha. Também ela estava aborrecida. A mãe nunca se portara daquele jeito, mas pelo visto não resistira aos encantos daquele homem tão formoso. Talvez estivesse cansada de Antoine, seu namorado, um viajante que aparecia três vezes por semana para vê-la e que Marrie suspeitava que fosse casado. A ela restou apenas ficar na cozinha lavando a louça na tina, tentando captar alguma conversa no salão. A mãe ía e vinha com a comida. De repente ela disse:
- Ele gostou da carne que você fez.
Marrie sentiu uma onda de felicidade invadir seu peito. Ora, aquilo era muito bom!
- Verdade, mãe?
- Sim – respondeu ela, contrafeita, pegando o doce de abóbora e levando para eles. – Eu ensinei direitinho a você, não é mesmo?
A garota percebeu um tom de despeito na sua voz e sacudiu os ombros. Estava muito satisfeita com aquele elogio, embora não tivesse tido a chance de recebê-lo pessoalmente. Quem sabe o conde de Montevérgine não passaria mais vezes na estalagem para saborear o almoço delas? Ou, melhor ainda, a convidasse para ser uma das cozinheiras do castelo?
Minutos mais tarde, a chuva cessou e enquanto Marrie continuava na cozinha, o som dos cascos dos cavalos se fez mais forte. Era o conde que partia. Logo em seguida Julie entrou sorrindo e com um brilho nos olhos. Aproximou-se da filha e mostrou várias notas de dinheiro.
- Veja como o conde é generoso, Marrie. Vou esconder dentro da costura do colchão.
- Ah, então ele já foi?
- Sim. E elogiou muito nossa comida – Julie não escondia sua satisfação, o olhar perdido em um canto da cozinha.
- Mãe, será que ele irá voltar?
- Quem? O conde? – Julie deu uma risada debochada. – Ele só apareceu aqui hoje por causa da chuva e das estradas embarradas. A comida no castelo é bem melhor.
- É uma pena – suspirou Marrie com as mãos cheias de espuma. – Só pelo que ele nos pagou poderíamos trabalhar bem menos.
Julie se encostou na pia. E divagou:
- Veja só… O conde deve ter uns 35 anos. Solteiro, rico, dono de um imenso castelo. Dizem que não quer se apaixonar, somente aproveitar a vida. Quem será a mulher que terá a chance de conquistar seu coração?
Marrie quase respondeu que seria ela. Seu coração ainda estava disparado e quando fechava os olhos ainda podia visualizar nitidamente o conde na sua frente. Será que o destino seria tão cruel a ponto de nunca mais colocá-los frente a frente?