Revanche de amor juvenil
Revanche de Amor Juvenil
Comedia romântica atual- As aventuras de um jovem adolecente para conquistar uma moça nissei numa tarde de domingo
Rubens M e C.Miguez
Verão de 1963. Arrabalde, subúrbio de São Paulo.
Passava das dez da manha de um domingo ensolarado de fevereiro , quando o Carlos chegou à casa da namorada ,Marta. No portão, alem da Marta e a irmã Ana, estavam à mãe, Dona Rosa, e uma vizinha em animada conversa. Carlos se aproximou, cumprimentou a todas rapidamente e dirigindo-se a namorada em voz baixa perguntou:
-E ai, ele vem?
-vem sim... estamos esperando!
-Tomara que não invente de sair, ne?!
-Vamos para Caraguatatuba – afirma Marta – na casa da tia Amélia; Mas não fica bravo, logo à noitinha estamos de volta.
-Pô !- retruca Carlos- Mas que cara chato esse teu irmão!
Carlos era um rapaz alto, aparentando muito mais que seus 16 anos, algo tímido, mas muito inteligente. Impulsivo, queria mesmo era insultar o cunhado.
Aquele domingo prometia ser mais um daqueles em que o Arnaldo, o querido Arnaldo, irmão mais velho, chegava para visitar a família. Vindo da capital no belo carrão preto do patrão, com toda posse e arrogância, vinha para monopolarizar às atenções. Primogênito de mãe solteira, orgulho da mamãe era bajulado por todas na casa.
Domingo que ele aparecia não tinha namoro, nem mais nada. Só Arnaldo. Ele pegava a mãe e as irmãs e sem mais delongadas saia no carrão para passear, ora na praia, ora na casa de parentes. Dia todo.
E não aceitava recusas ou sugestões. Autoritário, todas tinham de concordar e acompanhar de bom grado. Houvesse o que houvesse na sua chegada tudo se interrompia e a vida passava a girar em sua volta. Ele era o querido e poderoso Arnaldo, solteiro, bem empregado e orgulho da mamãe.
Marta nem sempre gostava desse tumulto produzido pelo irmão. Todavia, quase sempre era algo bom. Era uma oportunidade única de passeio, compras e diversão, principalmente para a mãe que vivia trancada em casa. O pai dificilmente estava presente.
Nessas oportunidades o Carlos que esperava ansioso a semana toda para passar o domingo com a namorada, era o primeiro a ser posto de lado. Sem cerimônias. O querido Arnaldo não se interessava pelo namoro das irmãs. Venerado no altar de irmão mais velho, era contra o namoro delas e demonstrava isso menosprezando e ignorando principalmente o Carlos, que era vizinho. Era muito esperto para o gosto dele, aduzia.
Jamais consultado ou convidado o Carlos se sentia ofendido e acabava produzindo brigas e discussões com a namorada, antes e depois das visitas. Marta, compreensiva procurava manter paz e concórdia. Menos mal que as visitas eram bimestrais.
De todo modo o Carlos não se conformava. Uma questão de orgulho e algo de ciúmes. E não estava mais disposto a levar desaforo.
-Afinal esse teu irmão esta pensando o que?! , levando a namorada dos outros- disse para Marta- Ele que vá procurara as negas dele, pô !
E sai meio emburrado meio bravo, sob o olhar indiferente de Marta.
Enquanto se afastava, repensava as diversas opções de desforra. Desta feita ia protestar e criar caso. A ideia era atingir o Arnaldo, quebrar a sua arrogância e obriga-lo a reconhecer o namoro. Já era tempo de dar-lhe uma lição bem dada, devolvendo-lhe o menosprezo e a humilhação.
O problema era a mãe. Carlos sabia que se afronta-se o Arnaldo, dizendo que a Marta não iria acompanha-lo porque pretendia ficar pra namorar, a sogra ia se virar contra ele. Se enfrentasse e atingisse o Arnaldo, com certeza a Marta e a mãe tomariam as dores. Seria crucificado. Insulta-lo nem pensar. De todo modo ele era o xodó da sogra. Uma represália da sogra era muito mau para o Carlos. Em ultima instancia o namoro dependia da aprovação da sogra no dia a dia. E ele sempre se dera muito bem com a sogra.
-mas não importa - resmungava – hoje... ou vai ou racha. Ou me vingo desse folgado ou acabo esse namoro em briga. Já chega... tem que me respeitar.
Nesse momento, já próximo a esquina percebe a chegada do carrão preto com o cunhado. Eufórico, com gestos largos e falando alto desce o Arnaldo, acompanhado de uma mulher. Abraços, beijos, cumprimentos e todos entram na casa sem lançar um olhar na direção do Carlos, que rapidamente vai embora.
Após o almoço, cheio de entusiasmo e muito hesitado, Carlos volta á casa da Marta, e logo percebe a ausência do carrão preto. Entrando, pelo lateral da casa vai logo à cozinha.
-E ai todos já almoçados... diz em tom alto e sorridente.
-Entra Carlos – Responde a Dona Rosa- Entra...
Da porta da cozinha Carlos vê a sogra na pia e uma sorridente jovem japonesa descascando batatas na mesa. Linda mulher de longos cabelos castanhos em rabo de cavalo e um sorriso brejeiro.
-vem ajudar a gente – convida a Dona Rosa
-Sim.
-Carlos, esta é a Kimiko, uma amiga do Arnaldo que veio nos visitar.
-Prazer... Sussurra a japonesa
-Que bonita! Parabéns ao Arnaldo sempre com lindas namoradas – provoca o Carlos estendendo a mão, e de olho na sogra.
-Não, não – responde a Kimiko apenas tocando-lhe a mão – Somos só amigos.
-Ora que bom... E não veio só passear, esta ajudando. Que bom!
-Eu gosto de cozinha...
- Estou preparando o licor da jabuticaba. Mas vamos fazer uma galinhada, para ao jantar- diz a dona Rosa – Vem nos ajudar.
-E a turma?
- Saíram. Foram mesmo para praia em caragua. A marta te falou, não? Sim!
-Mas que beleza- ironiza o Carlos. E virando-se para a Kimiko:
- e você, não foi... Deixaram-te TAMBEM?! Ehhehhh- Ironiza o Carlos
-Não, não- responde à japonesa- Eu não gosto de praia. Prefiro aqui. Eu sou do sitio.
-Não diga, que bom. Eu conheço muitas japonesas do sitio. Por aqui tem muitas, a colônia é grande...
-É mesmo?
-Oh!... E como. Tem muito japonês por aqui. Eu gosto muito deles. Na verdade eu gosto mesmo é das irmãs deles... Os japoneses daqui são muito bons , ne mesmo dona Rosa?!
-é sim!
-Vamos ajudar... vamos no licor ou nas batatas ...Finaliza o Carlos sentando numa cadeira ao lado da Kimiko
- Não Carlos. Espera. Me faz um favor . Vai à avícola buscar a galinha- Pede a dona rosa – Tem que me trazer agora para dar tempo de preparar. Vai La pra mim.
-É longe? – pergunta Kimiko
-Um pouco – responde Carlos- La na vila Carmela.
-Olha o dinheiro- Diz a Dona Rosa – Pega a bicicleta, que vai mais rápido.
-Vamo lá – diz o Carlos saído ao quintal para pegar a bicicleta.
-Galinha de três kilos ou mais – acrescenta Dona Rosa
E olhando para a Kimiko, lhe pergunta em voz baixa.
-Não quer ir também... vai passear um pouco! É logo ali...
-Posso ir junto? – pergunta a Kimiko se levantando
E em voz alta, da porta da cozinha, para o Carlos poder ouvir a Dona Rosa responde.
- Vai sim, assim você escolhe melhor- Galinha vermelha...
La de fora o Carlos pergunta
- Já andou de bicicleta? No cano?
-Não
-Não tem importância. Vamos lá
A Kimiko era uma nissei de 20 ou 25 anos baixinha, tipo mignon, com corpo de mestiça. Branquinha sob um vestido de algodão branco estampado, curto e folgado, tinha algo brejeiro. Postura tímida. Olhar tímido. Sorriso safado.
Carlos a examina e reconhece exatamente o tipo que lhe cai bem. Adulta, doce e ingênua como as japonesinhas indefesas que ele já tivera de namorada. A autoconfiança e o sorriso lhe brotam em despudoradas intenções, de imediato.
No meio fio, sobe na bicicleta masculina e convida a Kimiko para sentar no cano entre a suas pernas segurando no guidão. Sem jeito, com a Dona rosa olhando, ela senta se acomoda e saem. Cambaleando, com a Kimiko desequilibrando e reclamando, o Carlos segue meio que a abraçando nos primeiros cem metros pela rua de terra batida.
- que perfume gostoso!... que cheiro é esse? – pergunta o Carlos
- É jasmim... Água de jasmim... responde Kimiko baixinho
Seguem adiante. Nessa altura o Carlos já esta se aproveitando da situação cobrindo e agarrando a Kimiko, com a cara pelo meio dos negros cabelos dela. Descaradamente.
-Para... para... Diz Kimiko, tentando se defender-... vou cair... -
Carlos procurando remediar o equilíbrio passa o braço pela cintura dela e balançando bicicleta vai tomando partido da situação, num verdadeiro abuso. Se aproveitando descaradamente...
-Chega. chega ...ha não... Chega... Para, para!- Diz Kimiko, buscando desencorajar os ataques libidinosos.
Nota-se a surpresa da jovem e a falta de jeito para sustar os avanços. Quiça conforme com os agrados.
E o Carlos para. Cara de santo distraído. Silencio. Kimiko desce arruma o vestido curto e senta no bagageiro, atrás. Passam-se uns dois longos minutos de silencio.
-Pelo menos segura na minha cintura, senão vai cair- comanda o Carlos impassível e inabalado – E levanta o´pe!
Reiniciam a viagem.
Duas quadras a frente a Kimiko já esta abraçada a cintura do Carlos num abraço forte para não cai. E ele nos cambaleios e guinadas propositais para desequilibrá-la.
-Cuidado... olha o pé ... Essa bicicleta tá toda torta... Reclama o Carlos, falsamente.
-Três quadras a frente a Kimiko desce. Não consegue ficar no bagageiro, que lhe machuca. Segue a pé uns cem metros. Pela calçada. Carlos acompanha montado. E insiste para ela subir. Ela termina por aceitar; sentando no cano novamente. E lá vão eles cambaleando.E papo animado falando de flores e passeios. Agora, mais confiante o Carlos já esta tomando partido, agarrando-a e abraçando-a. Fungando no pescoço. Cinismo absoluto.
Gostando da pega, Carlos vai prolongando o percurso, seguindo pelo caminho mais longo. E a Kimiko dócil e conformada, se deixa levar.
Chegando à avícola, apresenta a Kimiko ao amigo Isamu que imediatamente a corteja. Faz-lhe elogios. Enquanto providenciam a galinha, Elza a irmã do Isamu tenta prevenir a Kimiko do namorador e abusado que é o Carlos. Mas deixa escapar que ele é muito “doce e carinhoso, um amor”.
Alerta quiça em vão. Sorrisos e minutos de conversa depois encerram a visita.
Galinha amarrada no bagageiro, e com um papelão como banco forrando o cano, começam o caminho de volta. Como previsto a Kimiko já estava mais boazinha e tolerante e o Carlos desavergonhada mente abusado. Soltava o guidão para abraçá-la pela cintura, com jeito e comedidamente. Carinhosamente.
-dirige você... Segura senão vamos cair... Dizia o Carlos para a Kimiko que, obediente, segurava ao guidão com as duas mãos enquanto as coxas do Carlos roçavam nas suas a cada pedalada, e as mãos bobas pelas suas costas e ombros. Ela estava nitidamente rendida.
Duas horas depois, muita intimidade, uma ligeira explicação, e la estavam os dois depenando a galinha no balde de água quente no quintal da Dona Rosa. Eram só risos. E tapinhas daqui e dali. Toquezinhos daqui e de lá.
Dona rosa, na cozinha, terminando de apurar o licor de jabuticaba, recomenda:
- Não pode beber quente. Isso não é quentão. Tem que esperar esfriar, depois pode experimenta. Cuidado que é forte... Sobe heim!..
- Tó tirando as penas direitinho?.Pergunta o Carlos, fazendo graça.
Lá pelas cinco da tarde, jantar encaminhado, papo alegre e entusiasmado, com muito licor e alegria, o Carlos preguiçosamente, como quem não quer nada , divaga:.
- hoje sim tá quente. Dia bom pra caçar rã. Ah... Se o velho tivesse aqui!...– Referindo-se ao dono da casa.
- Só volta de madrugada – informa a dona Rosa
-Aqui se caça rã também? Indaga Kimiko dando um ultimo gole de licor.
-E como. Tá vendo essa valeta aqui na frente- diz o Carlos apontando para o outro lado da rua- Aqui a noite fica lotadas daquelas rãs pimenta grandonas... você vai ver...vai escutar...
-Puxa disso eu gosto,.. eu adoro Ra –responde Kimiko – Eu aprendia a limpar com meu pai. Ele não me levava para caçar, mas me ensinou a limpar. Minha mãe tinha nojo, augeriza. Não podia ver as rãs sem couro...
Mais alguns minutos de conversa e o Carlos vislumbrando a sua grande chance disparou
-Então vamos lá - e levantando entusiasmado, com gestos largos pergunta:- Você sabe fisgar?
-Não, Não... Eu gosto... mas acho que não consigo fisgar!Não...
-Segura o carbureto... Diz o Carlos já apanhando os apetrechos no barraco do quintal.
-E fisgo um sapo?
-Ahhh, vamos lá. – Diz o Carlos empurrando a Kimiko para a aventura. No atropelo, impossibilitando qualquer reação negativa.
Com o sol avermelhado caindo por detrás do bosque de eucaliptos la no fim da rua deserta, entardecia quando o Carlos e a Kimiko atravessaram a rua carregando as fisgas e o lampião de carbureto. Dona Rosa do portão da casa ficou olhando eles se afastarem, andando a beira da valeta.
Escurecia rápido. Vinte minutos depois dona rosa mal conseguia ver a luzinha amarela bruxuleante do carbureto, la pelos terrenos baldios, se embrenhando no calipeiro, bosque fechado por onde a valeta penetra.
Sumiram.
Dona Rosa entrou e foi terminar a galinhada.
As horas passaram e lá pelas oito da noite enquanto vigiava o fogão Dona rosa foi surpreendida pela entrada rápida e dissimulada da Kimiko com os pés sujos de barro. E as costas e as roupas e os cabelos cheios de gravetos.
- Oi... Dona rosa, a senhora viu onde deixei a minha bolsa?... com as roupas... vou tomar banho..
-No quarto... Respondeu a Dona Rosa
E rápido Kimiko entra no banheiro seguindo-se o som da descarga e logo o ronco do chuveiro elétrico.
Nesse momento, sem querer parar ou conversar, entra correndo pelo lateral da casa, o Carlos, descalço e desajeitado, levando somente as fisgas para guardar no fundo do quintal.
-E ai Carlos – pergunta dona Rosa da porta da cozinha- Como foi? Fisgaram muitas rãs? ... Cadê as rãs??
- Só deu perereca... - responde o Carlos, voltando rapidamente para a rua.
Na virada da esquina, libido satisfeito e rindo de felicidade, Carlos vai embora,, retendo na mão, cheirando a jasmim, uma calcinha de algodão. Nas nuvens, não perceber, ao longe, no fim da rua, as luzes de um carrão preto conhecido se aproximando.
La dentro, na cozinha, frente à galinhada, ouvindo o canto alegre da Kimiko no chuveiro, Dona Rosa conjetura;
- Só deu perereca!... Ah... deu sim ......Hummmm... sei não ...ou será que só foi ela... quem deu a perereca ???
(baseado em fatos reais)
F I M