Hitler E Sua Amada Capítulo 15
Geli deu os últimos retoques na maquiagem e contemplou-se no grande espelho que a refletia de corpo inteiro. Estava bonita, admitiu, muito bonita. Certamente seria a mulher mais elegante do teatro., com aquele vestido longo cor de sangue e a estola de pele branca e preta sobre os ombros. Segundo seu tio Adolph, aquela combinação de três cores era a mais brilhante que existia.
Naquela noite iriam assistir a ópera O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner, uma das preferidas de Adolph. De repente Geli começou a lembrar daquele dia, já tão distante, em que saíra com ele pela primeira vez e de como se admirara no espelho, como naquela noite. De repente teve a estranha sensação de que aquela garota que lhe sorria do passado não era ela, ou então que se tratava de uma outra vida...
Era estranha essa divisão mental, mas Geli mudara tanto que não se reconhecia mais naquela imagem. Tirou do porta-jóias um longo fio de pérolas que lhe descia até a cintura e o pôs no pescoço, dando um nó no meio. Sentou-se numa cadeira junto da penteadeira e passou um pouco de perfume atrás das orelhas e entre os seios. Depois tornou às suas reflexões. naqueles dois anos ela e Adolph haviam sido felizes e também brigado algumas vezes por causa de ciúmes mútuos. Mas depois as reconciliações pareciam esquentar ainda mais o fogo do desejo que sempre ardia entre eles. Geli fechou os olhos. Bastava ele tomá-la nos braços após uma discussão e a corrente elétrica os conectava e tudo era esquecido no meio de um turbilhão de paixão e desejo. Tudo acabava na cama, pensou Geli, olhando para a larga cama de casal coberta com uma colcha de seda, ali tudo era superado, ali tudo valia a pena...mesmo enfrentar as dores dilacerantes de um aborto.
O semblante de Geli nublou-se com aquela lembrança amarga. Adolph nunca soubera. Geli sentia que naquele dia alguma coisa dentro dela se quebrara para sempre. A inocência, talvez? As ilusões juvenis? Não sabia ao certo...mas o fato era que nunca mais fora a mesma depois daquilo. E desconfiava que estava grávida outra vez...
Estremecia ao pensamento de tomar novamente aquela beberagem... Angela nunca a perdoara por ter se tornado amante do tio e estava muito afastada dos dois. Adolph sempre a consolava dizendo que ela os aceitaria depois que se casassem. Mas o casamento estava custando a sair, admitiu Geli, saindo do quarto e indo até a cozinha.
Aquele apartamento era amplo e suntuoso, bem diferente daquele onde fora transformada por seu tio numa mulher. Oh, mas ela o amava, ela ainda o amava muito e não se arrependia de ter se entregue a ele. Geli entrou na cozinha, acendeu a luz, agasalhou com um pano xadrez a gaiola de seu canário de estimação, que Adolph lhe presenteara meses antes.
- Guten Nacht, Hansi, - disse ela com meiguice, admirando o passarinho amarelo e sonolento. Depois apagou a luz e voltou para a sala. Adolph deveria estar chegando. Geli aproximou-se da janela. Era primavera outra vez e a noite estava amena e estrelada. Então Geli começou a lembrar do sonho que tivera na noite anterior...